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Lula e Zelensky conversaram pela última vez em setembro de 2023, durante encontro à margem da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York — Foto: Ricardo Stuckert/PR

Zelensky ignora tentativas de contato de Lula após anúncio de visita à Rússia

Ucranianos ficaram revoltados com fala do brasileiro sobre possível diálogo com Zelensky dias antes de sua ida a Moscou

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, recusou duas tentativas recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de estabelecer contato telefônico para tratar de um possível acordo de paz. A negativa foi motivada, segundo interlocutores do governo ucraniano ouvidos pelo Correio Braziliense, pela irritação de Kiev diante da aproximação diplomática entre o Brasil e a Rússia.

A declaração de Lula, feita em 29 de março durante visita ao Vietnã, de que pretendia conversar com Zelensky, surpreendeu e revoltou o governo ucraniano, especialmente por ter sido feita poucos dias antes da confirmação de sua viagem a Moscou, prevista para maio, onde o presidente brasileiro participará de uma cerimônia ao lado de Vladimir Putin.

Os dois chefes de Estado não mantêm diálogo direto há cerca de um ano e sete meses, desde o encontro bilateral realizado em setembro de 2023, às vésperas da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York. De lá para cá, segundo uma fonte ligada ao governo ucraniano, Zelensky teria feito 15 pedidos de ligação e enviado seis comunicações oficiais ao Palácio do Planalto — sem qualquer resposta.

A reação mais contundente partiu após a fala de Lula em Hanói, na qual sugeriu que Zelensky estaria evitando o diálogo. O comentário irritou Kiev, que afirmou não haver, até aquele momento, qualquer sinalização formal por parte do governo brasileiro para agendar uma conversa. Os pedidos de ligação feitos pelo Itamaraty ocorreram apenas posteriormente, nos dias 4 e 11 de abril, ambos ignorados pela presidência ucraniana.

Presença em evento militar russo aumentou tensão

A decisão de Lula de aceitar o convite do presidente russo para comparecer à cerimônia dos 80 anos da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial, marcada para acontecer em Moscou, foi classificada como o ponto de ruptura. O evento incluirá um desfile militar na Praça Vermelha, com a presença de tropas russas.

“Lula vai saudar os mesmos soldados russos que estão matando civis na Ucrânia”, afirmou um interlocutor que atua como elo entre as diplomacias de Kiev e Brasília.

Para autoridades ucranianas, a fala do presidente brasileiro sobre um possível diálogo com Zelensky foi interpretada como uma tentativa de suavizar a repercussão negativa de sua presença em um evento simbólico ao lado do Kremlin, em meio à guerra em curso no Leste Europeu.