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‘Vítimas talvez nunca sejam identificadas’, diz polícia de Londres sobre incêndio em prédio de 24 andares

Algumas vítimas do incêndio num edifício de Londres na madrugada de quarta-feira talvez nunca cheguem a ser identificadas, segundo a polícia da capital britânica. Os serviços de emergência passaram a quinta-feira ainda controlando focos de incêndio e fazendo buscas de corpos no prédio Grenfell Tower, em North Kensington, no oeste da cidade. Eles já não esperam encontrar sobreviventes.

“Infelizmente, há um risco de não conseguirmos identificar todo mundo”, afirmou o comandante da Polícia Metropolitana de Londres, Stuart Cundy, acrescentando que espera que o total de mortes não chegue a um número de três dígitos.

Até o momento foram confirmadas 30 mortes, sendo seis identificadas. Mas a BBC calcula que ainda há 76 pessoas desaparecidas que podem estar entre as vítimas. Além disso, autoridades informaram que 35 pessoas continuavam no hospital até quinta-feira, 15 delas em estado grave.

A primeira-ministra Theresa May cobrou que um inquérito completo seja feito sobre as causas do incêndio, destacando que as vítimas “merecem respostas”. Já a polícia informou ter aberto uma investigação criminal sobre o incidente.

“Nós como polícia, investigamos as ofensas criminais. Não estou aqui dizendo que ofensas criminais tenham sido cometidas, é por isso que fazemos uma investigação, para estabelecer isso”, acrescentou Stuart Cundy.

Causas investigadas

Velas
Velas e mensagens de condolências são colocadas próximas ao Grenfell Tower

As causas do incêndio ainda não são conhecidas. Especialistas criticaram o tipo de revestimento na parte externa do prédio instalada durante uma reforma finalizada há cerca de seis meses, como possível fator que teria facilitado a propagação rápida do fogo.

Além disso, o conselheiro Nicholas Paget-Brown disse à BBC Two que não havia um consenso entre moradores sobre a instalação de extintores de incêndio. Segundo ele, a reforma “teria atrasado e causado mais transtorno”. Há suspeitas de que o sistema de extintores não funcionava adequadamente.

Enquanto isto, o membro do parlamento, o conservador Chris Philp, afirmou ao programa que o inquérito deve produzir resultados provisórios para garantir que ações rápidas possam ser tomadas se moradores de outros edifícios estiverem em risco.

“Se houver outros edifícios que tenham esse revestimento perigoso, uma ação imediata deve ser tomada em questão de semanas, ou meses – não em alguns anos”, disse.

Vítima identificada

Os serviços de emergência foram chamados ao prédio de 24 andares pouco depois de 1h de quarta-feira no horário local (21h de terça-feira em Brasília).

Na quinta-feira, a primeira vítima no incêndio identificada foi o refugiado sírio Mohammed Alhajali, um estudante de engenharia civil de 23 anos.

Num comunicado, a Campanha de Solidariedade da Síria disse que Alhajali estava num apartamento no 14º andar quando o fogo começou. “Mohammed veio ao país em busca de segurança, e o Reino Unido falhou em protegê-lo”, escreveu o grupo.

Omar Alhajali
Omar Alhajali, visivelmente abalado, conta à BBC como se perdeu de seu irmão mais novo, Mohammed, de 23 anos, primeira vítima identificada

Seu irmão mais velho, Omar, contou à BBC que se perdeu de Mohammed enquanto tentavam fugir do prédio.

“Cheguei do lado de fora, liguei para ele e disse: Onde você está? Ele disse que estava no apartamento. Eu respondi: ‘Por que você não veio? Pensei que estava com a gente’. Ele então disse: ‘ninguém me levou para fora’. E disse: ‘por que você me deixou?'”, lembrou, em lágrimas.

Outras histórias mostram como pessoas conseguiram escapar. Christos Fairbairn, de 41 anos, foi um dos primeiros a perceber o incêndio e deixar seu apartamento no 15º andar.

“Por volta de 12h45 da madrugada de quarta-feira, eu assistia à TV quando ouvi batidas fortes na porta. Eu vi o movimento e ouvi mais barulho do lado de fora e logo depois eu ouvi o alarme do prédio. Eu vi a fumaça vinda do apartamento e foi quando eu percebi que tinha um incêndio”, lembra.

“Eu liguei para o serviço de emergência e eles me disseram para sair. E disseram também: ‘Enrole uma toalha molhada em você e saia do prédio'”, contou ainda.

Enquanto isto, Elpidio Bonifacio, com idade por volta dos 70 anos e que é parcialmente cego, foi resgatado do 11º andar horas depois do início do incêndio. Ele foi visto por testemunhas da sua janela acenando com um casaco branco.

Seu filho mais velho, Gordon, de 41 anos, publicou uma mensagem no Facebook dizendo que seu pai está em tratamento intensivo. “Palavras não podem descrever a coragem da equipe de bombeiros que arriscou suas vidas para tirá-lo de lá. Ele ainda não está fora de perigo por causa da inalação da fumaça”, escreveu.

A secretária de Habitação, Alok Sharma, disse que o governo está se mobilizando com a autoridade local para garantir que “todas as famílias sejam realojadas na mesma área” do prédio.

Theresa May
A primeira-ministra Theresa May foi ao local do incêndio e conversou com a chefe dos Bombeiros, Dany Cotton, cuja equipe ainda avaliava perdas

Por BBC Brasil