• Home
  • Brasil
  • Vacina contra a dengue: motivos para a baixa adesão após um ano de campanha
SUS disponibiliza a vacina da dengue para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos Foto: Paulo Pinto/ Agência Brasil

Vacina contra a dengue: motivos para a baixa adesão após um ano de campanha

Após um ano do início da campanha de vacinação contra a dengue pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a adesão ao imunizante segue abaixo das expectativas.

Dados da Rede Nacional de Dados em Saúde apontam que, entre fevereiro de 2024 e janeiro de 2025, foram disponibilizadas 6,3 milhões de doses. No entanto, apenas 3,2 milhões foram aplicadas, representando pouco mais da metade do total.

O Brasil enfrentou, em 2024, a pior epidemia de dengue já registrada, com 6.103 mortes causadas pela doença. Em 2025, o Painel de Monitoramento das Arboviroses já contabiliza 230.191 casos prováveis e 67 óbitos confirmados. A enfermidade é provocada pelo vírus DENV e tem como principal vetor o mosquito Aedes aegypti.

O imunizante utilizado na campanha, o Qdenga, da farmacêutica japonesa Takeda, é ofertado pelo SUS em todo o país e tem como público-alvo crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. A escolha dessa faixa etária se deve ao alto índice de hospitalizações por dengue nesse grupo, ficando atrás apenas dos idosos.

Apesar da elevada incidência de internações entre pessoas com mais de 60 anos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não autorizou a aplicação da vacina nesse público devido à ausência de estudos conclusivos sobre sua segurança e eficácia para essa faixa etária.

Fatores que explicam a baixa adesão

Em janeiro, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) alertou para a baixa procura pelo imunizante, destacando o aumento expressivo de casos, especialmente na região Sudeste.

A resistência à vacinação pode ser atribuída a diversos fatores. De acordo com Filipe Passarelli, infectologista e coordenador do Serviço de Controle de Infecção do Hospital Oswaldo Cruz, a disseminação de desinformação sobre vacinas tem sido um dos principais obstáculos à adesão da população.

“Muitas pessoas ainda têm receio de tomar a vacina por desinformação sobre sua segurança e eficácia, o que gera um medo desnecessário dos possíveis efeitos colaterais”, explicou.

Outro fator relevante é a dificuldade na distribuição das doses em algumas cidades, o que pode ter impedido que a vacina chegasse a todos os locais necessários.

“Além disso, a divulgação da campanha foi limitada em algumas regiões, e sem informações claras, muita gente nem soube que a vacina estava disponível ou se realmente deveria tomá-la”, acrescentou.

Diante das limitações na aquisição da Qdenga, o governo federal passou a priorizar outras estratégias de combate à dengue, com ênfase no controle vetorial. O Plano de Ação para Redução da Dengue e Outras Arboviroses é um dos esforços direcionados à contenção do mosquito transmissor.

Além disso, em janeiro de 2025, o Ministério da Saúde reativou os Centros de Operações de Emergência em Saúde (COE), com o objetivo de monitorar a evolução dos casos e reforçar as ações de combate à doença.

Quem pode tomar e como funciona a vacina

Para 2025, o Ministério da Saúde já adquiriu 9,5 milhões de doses do imunizante. A vacina é administrada em duas doses, com intervalo de três meses entre elas. No entanto, não há previsão de ampliação da faixa etária atendida pelo SUS.

Embora o Qdenga seja disponibilizado gratuitamente apenas para adolescentes de 10 a 14 anos na rede pública, o imunizante pode ser aplicado em qualquer pessoa entre 4 e 60 anos. Aqueles que não se enquadram no público-alvo do SUS podem adquirir a vacina na rede privada, onde os preços variam entre R$ 350 e R$ 500.

Segundo Filipe Passarelli, o Qdenga atua fortalecendo o sistema imunológico contra o vírus da dengue. “A vacina é feita a partir de uma versão enfraquecida do vírus, modificada para ensinar o organismo a reconhecer e combater a doença”, explicou.

Dessa forma, ao entrar em contato com o vírus real, o corpo já está preparado para reagir, reduzindo o risco de infecções graves. Diferente de algumas vacinas que exigem infecção prévia para aplicação, o Qdenga é seguro tanto para quem nunca teve dengue quanto para aqueles que já contraíram a doença.