Temer diz que governo não é golpista e que não aceitará divisão na base
Presidente fez declaração na primeira reunião ministerial após impeachment.
‘Não vamos levar desaforo para casa’, afirmou antes de viagem à China.
O presidente da República, Michel Temer, contestou nesta quarta-feira (31), na primeira reunião ministerial de seu governo após a aprovação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a tese da oposição de que o afastamento da petista foi um golpe. Ele também afirmou que não aceitará divisão em sua base de apoio no Congresso Nacional.
Elevando o tom da voz, Temer pediu aos ministros de seu governo reação às acusações de que sua gestão é “golpista”.
“Golpista é você, que está contra a Constituição”, enfatizou, referindo-se aos opositores que o acusam de ter dado um golpe.
“Não vamos levar desaforo para casa. […] Não podemos deixar uma palavra sem resposta”, complementou.
Em meio à fala, o presidente disse que, durante o período em que estava comandando o país como interino, não respondeu às acusações dos adversários, mantendo, segundo ele, uma “discrição absoluta”. Agora, ressaltou Temer, não levará ofensa para casa.
“As coisas se definiram, e é preciso muita firmeza”, afirmou aos integrantes do primeiro escalão.
A reunião ministerial começou por volta das 17h30, aproximadamente 40 minutos depois de ele ser empossado no comando do Palácio do Planalto em uma solenidade rápida no plenário do Senado. Três horas antes, no mesmo recinto, os senadores haviam decidido afastar definitivamente Dilma da Presidência da República.
Divisão da base
Ao longo do discurso de abertura do encontro com os ministros, Temer fez referência à decisão do Senado que rejeitou penalizar Dilma com a inegibilidade e a proibição para exercer cargos públicos.
Na segunda votação do julgamento final, dos 81 senadores, 42 votaram a favor, 36 contra e três se abstiveram em relação ao impedimento da agora ex-presidente disputar novas eleições e assumir outros cargos públicos. Para que ela ficasse inabilitada, 54 senadores (equivalente à maioria absoluta da Casa).
Vários senadores da base aliada, que haviam votado a favor do afastamento definitivo de Dilma na primeira votação, acabaram dando votos divergentes na consulta sobre os direitos a habilitação política da petista.
Na visão de Temer, é “inadmissível” que haja “divisão” na base aliada ao governo. Segundo o presidente, no momento em que o plenário do Senado decidia sobre se a petista ficaria ou não inelegível, “disseram” que os senadores da base aliada de Temer haviam se “arrependido” de condenar a agora ex-presidente.
“Quem tolerar isso, confesso, vou ter que trocar uma ideia sobre isso. Não é possível tolerar isso porque agora isso aqui não é brincadeira. Não é ação entre amigos ou ação contra inimigos. Ninguém vai caçar bruxas aqui, mas não vamos deixar eles tentarem demonstrar que o governo não é capaz de responder”, disse.
Temer, na sequência, foi enfático ao dizer que houve um “pequeno embaraço” na base governista nesta quarta em face de uma “divisão”. “É uma divisão inadmissível. Se é governo, tem que ser governo. Quando não concorda com uma posição do governo, vem para cá e vamos conversar para termos uma ação conjunta”, destacou.
O peemedebista, então, acrescentou: “O que não dá é para aliados nossos se manifestarem no plenário sem terem uma combinação conosco. Convenhamos, se tivesse uma combinação, poderíamos dizer ‘vamos fazer um gesto de boa vontade’, ‘vamos abrir mão disso’, ‘vamos permitir que Sua Excelência [Dilma] tenha condições de não ser inabilitada, mas seria um gesto nosso, não pode ser um gesto de derrota”.
E Temer prosseguiu no assunto. Disse que a decisão do Senado “não foi uma derrota do governo”. Segundo o peemedebista, há partidos informando que deixarão a base do governo. “Mas, se Deus quiser, não vai acontecer nada”, disse. “Isso é fazer jogo contra o governo. Não dá para fazer isso. Estou sendo claro para dar o exemplo de que não será tolerada essa espécie de conduta”, completou.
“Se há gente que não quer que o governo dê certo, muito bem, que se declare contra o governo. Não pode tomar atitudes que desmereçam a conduta governamental”, concluiu.
Viagem à China
Michel Temer também aproveitou a reunião ministerial para comentar a repercussão internacional do impeachment de Dilma. Ele disse aos seus auxiliares que, no plano internacional, “tentaram muito e conseguiram dizer” que houve golpe no Brasil. “Isso aqui não é brincadeira”, disparou.
Ao final da reunião, no início da noite, Temer embarcou para a China, onde participará do encontro de cúpula dos países do G20, que reúne países com as maiores economias do mundo. Será a primeira viagem internacional do peemedebista como presidente.
No encontro ministerial, ele falou que a viagem à Ásia será o primeiro momento para anunciar a “novidade brasileira” aos outros países e começar a trazer investimentos estrangeiros para o Brasil.
O peemedebista relatou que já está agendada para o dia 2 de setembro uma reunião bilateral com o presidente da China, Xi Jinping. Ainda segundo Temer, ele foi convidado para reuniões com outros chefes de Estado durante sua estadia em território chinês.
O novo presidente pediu que os ministros divulguem que ele irá para a Ásia “revelar aos olhos do mundo que temos estabilidade política e segurança jurídica.”
União política
Em seu discurso aos ministros, o presidente empossado uma hora antes pediu trabalho com afinco de sua equipe, a desburocratização de medidas e a divulgação das medidas tomadas pelo governo.
Ele orientou os ministros a participarem das reuniões de bancadas com seus partidos para falar sobre a importância das medidas. “Não é um partido que está no poder e que despreza os demais. Ao contrário.”
Com isso, ele busca sensibilizar os parlamentares para aprovar projetos considerados prioritários para o governo, como a PEC do teto dos gastos públicos – que ele espera aprovar ainda este ano – e a reforma da Previdência.
Temer ainda afirmou que gerar empregos deve ser o primeiro tema a ser levado em conta por seu governo. “Nós temos essa margem enorme de desempregados, os quase 12 milhões é uma cifra assustadora.”
Por Filipe Matoso e Alexandro Martello
Do G1, em Brasília
Veja o vídeo da Posse no Senado