Saudade no Lago Azul

Por Wilton Emiliano Pinto *

Era julho de 1976, e o céu parecia abençoar aquele dia com um azul sem fim. Éramos sete amigos, cúmplices de uma tarde que prometia ficar para sempre. À beira da praia, no Rio do Peixe, o Lago Azul nos abraçava com sua calma infinita. As águas mansas refletiam mais do que o céu; refletiam nossas almas jovens, leves, repletas de sonhos.

Seis de nós posávamos, uns em pé, outros sentados, ao lado da velha canoa de madeira, enquanto Ronan, meu cunhado, capturava o instante com sua câmera. Ele tinha o dom de eternizar momentos. “Ajeitem-se bem, isso vai ficar para sempre!”, dizia ele, e nós ríamos, como quem ainda não entende a urgência do tempo.

Mesmo sendo em preto-e-branco, a foto saiu perfeita. Éramos um grupo cheio de vida, com o rio ao fundo e o brilho de um sol de inverno aquecendo nossos sorrisos. Ronan, atrás da lente, era o maestro dessa pequena eternidade impressa no papel.

Mas o tempo é como uma correnteza invisível, arrastando tudo com uma força silenciosa. Hoje, sou o único remanescente daquele dia. Os outros seis se foram, cada um à sua maneira, deixando um vazio que reverbera em mim. É uma saudade que dói, não só pela ausência, mas pelo peso de saber que jamais poderei recriar aquele instante.

O Rio do Peixe ainda está lá. A praia permanece. O Lago Azul continua espelhando o céu, mas perdeu seu brilho. Sentar na beira do rio, lançar a linha na água, já não é o mesmo. Antes, o silêncio acolhia; agora, ele pesa.

Guardo a foto como um relicário. Quando a olho, quase ouço as risadas, quase sinto o balanço da canoa. É como se, por um instante, o tempo voltasse, e eles estivessem ali, ao meu lado. Mas o retorno é breve. A realidade vem como um golpe, lembrando que aquele momento pertence ao passado, não ao agora.

A saudade é uma correnteza que nunca seca, sempre fluindo dentro de mim. Ainda assim, ela me consola. Porque enquanto eu viver, os seis amigos também viverão. Estarão para sempre na fotografia, no reflexo do Lago Azul e nas águas da minha memória, onde o tempo jamais poderá apagá-los.

* Wilton Emiliano Pinto é Contabilista, Funcionário Público aposentado e gosta de uma boa prosa.

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