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Vladimir Putin discursa no desfile militar do Dia da Vitória, transmitido em telão na Praça Vermelha, em Moscou — Foto: Maxim Bogodvid/Reuters

Russia: Desfile de 9 de maio vira vitrine de poder para Putin em meio à guerra e sanções

Putin usa desfile de 9 de maio para reforçar discurso nacionalista e desafiar o Ocidente

A celebração dos 80 anos da vitória soviética sobre a Alemanha nazista, realizada nesta sexta-feira (9) em Moscou, foi marcada por um forte esquema de segurança, ruas vazias e uma exibição rigorosamente controlada de poderio militar. Em meio à guerra na Ucrânia e ao crescente isolamento internacional, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, converteu o tradicional desfile do Dia da Vitória em um gesto político e simbólico de força.

O evento, que contou com a participação de delegações de 29 países, teve como principais convidados os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping, do Brasil e da China, respectivamente. Ambos justificaram a presença como parte de uma agenda voltada ao multilateralismo. Ainda assim, analistas europeus classificaram o encontro como um alinhamento entre regimes autocráticos.

Discurso reafirma narrativa russa sobre a guerra na Ucrânia

Durante a cerimônia, Putin reforçou sua retórica de que a invasão da Ucrânia é parte de um combate ao nazismo. “A Rússia foi e continuará sendo uma barreira intransponível contra o nazismo, a russofobia e o antissemitismo”, declarou, ao utilizar novamente o termo “operação militar especial” para se referir ao conflito iniciado em 2022.

Já o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, reagiu duramente à celebração russa, classificando-a como “um desfile de bile e mentiras”. Em Kiev, ele afirmou que o evento representa um “cinismo extremo” diante das atrocidades da guerra em curso.

Lula e Xi participam de agenda diplomática no Kremlin

O presidente Lula chegou ao Kremlin pela manhã, acompanhado da primeira-dama Rosângela Lula da Silva, para uma série de compromissos oficiais que incluíam a cerimônia, o depósito de flores no túmulo do soldado desconhecido e reuniões bilaterais. Um dos encontros previstos era com o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, o único chefe de governo da União Europeia presente no evento. Fico, que desafiou recomendações de Bruxelas para evitar a cerimônia, enfrentou boicote aéreo por parte de países bálticos.

Janja da Silva, que já se encontrava em Moscou cumprindo agenda paralela, também enfrentou restrições similares no trajeto até a capital russa.

Segurança reforçada e desfile fechado ao público

A ausência de público foi compensada por uma grande produção televisiva, com imagens cuidadosamente coreografadas de tropas, tanques e mísseis balísticos desfilando pela Praça Vermelha. O acesso à área foi restrito, com sucessivas barreiras de checagem para convidados e jornalistas. O pretexto oficial para a medida foi a segurança: a Rússia permanece em guerra e havia ameaça constante de ataques com drones ucranianos.

Nos dias anteriores ao desfile, aeroportos de Moscou foram fechados em diversas ocasiões devido à presença de drones. Segundo o governo ucraniano, a Rússia lançou mais de 700 ataques contra o território da Ucrânia desde quinta-feira (8). Alguns dos equipamentos utilizados nesses ataques foram inclusive expostos durante o evento.

Troca de mensagens entre Putin e Trump

O Kremlin confirmou que houve uma troca de mensagens entre Vladimir Putin e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por meio de seus respectivos assessores. Segundo Yuri Ushakov, conselheiro de política externa de Putin, os dois líderes expressaram “felicitações mútuas” pela data comemorativa, reforçando o simbolismo político do evento.

Europa aprova tribunal para julgar crimes de guerra russos

Enquanto a Rússia realizava seu desfile, representantes da União Europeia se reuniram em Lviv, no oeste da Ucrânia, onde aprovaram a criação de um tribunal especial para julgar líderes russos pela invasão. A proposta ganha fôlego em meio à retomada de protagonismo de Trump nas negociações de paz e à crescente pressão internacional por responsabilização.

Putin, por sua vez, procurou enfatizar o papel decisivo da União Soviética na vitória contra o nazismo e destacou a contribuição do “corajoso povo chinês”, invadido pelo Japão na mesma época. Ao seu lado, na tribuna de honra, o presidente Xi Jinping ocupava posição de destaque, trocando cumprimentos constantes com o líder russo.

A celebração dos 80 anos da vitória soviética transformou-se, assim, em mais do que um ato de memória histórica: foi um evento cuidadosamente orquestrado para afirmar poder, isolar opositores e fortalecer laços estratégicos com aliados em tempos de conflito.