• Home
  • Saúde
  • Rinite: os remédios que realmente funcionam para controlar a inflamação no nariz
André Biernath - Da BBC News Brasil em Londres

Rinite: os remédios que realmente funcionam para controlar a inflamação no nariz

Tratamento do quadro marcado por espirros, coriza e dificuldade para respirar depende de um bom diagnóstico — e está baseado em mudanças comportamentais, remédios para amenizar as crises ou até uma ‘vacina’ terapêutica.

Nos últimos dias, o nome de um remédio contra a rinite foi parar nos assuntos mais comentados do X (o antigo Twitter) depois que um perfil propôs que as pessoas comentassem quais eram os antialérgicos favoritos delas.

A loratadina, que ganhou os holofotes nas redes sociais recentemente, pertence à classe farmacêutica dos anti-histamínicos e, de fato, está entre os tratamentos indicados para lidar com as crises alérgicas no nariz.

Porém, antes de tomar qualquer comprimido ou aplicar um spray nas narinas, é importante buscar um médico para fazer um diagnóstico adequado e definir a origem do problema.

Isso porque, ainda que as crises alérgicas sejam de fato a principal causa da rinite, elas não são o único gatilho para a condição.

Como você vai entender ao longo da reportagem, a inflamação nasal pode ser provocada por mudanças de temperatura e umidade, uso de remédios específicos ou até pela própria gravidez.

E, para cada um desses quadros, há uma abordagem específica, que trará resultados melhores.

Conheça a seguir os principais tipos de rinite — e os tratamentos mais indicados para elas.

As múltiplas raízes do nariz travado

O otorrinolaringologista Cicero Matsuyama, do Hospital Cema, em São Paulo, explica que a rinite é “um processo inflamatório que acomete as cavidades nasais e os seios paranasais”.

Estima-se que em torno de 30 a 40% das pessoas desenvolvam esse incômodo, que é marcado por coriza, espirros constantes, entupimento nasal e coceira no nariz, na garganta, nos olhos e até no céu da boca, em algum momento da vida.

“O tipo mais comum é a rinite alérgica”, diz Matsuyama.

“Algo que está no ar, no pelo de animais de estimação, na poeira, nos ácaros, entre outros, engatilha uma resposta nessa região do corpo”, complementa ele.

Outro gatilho frequente — principalmente na região Sul do Brasil e no Hemisfério Norte, que têm estações do ano mais definidas — é o pólen.

Indivíduos sensíveis a esse composto costumam sofrer mais na primavera, quando as plantas crescem e florescem.

“Mas nem toda rinite é alérgica”, chama a atenção Matsuyama.

Cerca de um terço dos casos tem a ver com outros fatores. O primeiro deles é a mudança da umidade ou da temperatura — seja do clima local ou de ambientes, salas ou cômodos específicos.

Esse quadro ocorre, por exemplo, quando há uma queda brusca nos termômetros, ou se está muito calor e o paciente entra num local com ambiente com um ar condicionado muito gelado, por exemplo.

Há também a rinite de origem medicamentosa, marcada por incômodos nas vias aéreas superiores após o uso de remédios específicos. Os mais frequentes causadores desse quadro são fármacos prescritos contra a disfunção erétil ou a pressão alta.

“Por fim, há também a rinite gestacional, que acomete algumas mulheres durante os meses de gravidez”, acrescenta o otorrino.

O médico Giovanni Di Gesu, do Departamento Científico de Rinite da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), destaca que os sintomas da enfermidade não afetam apenas a respiração.

“Os espirros frequentes, a coceira, e a secreção nasal podem atrapalhar o dia a dia e levar a um sono de má qualidade”, diz ele.

Rinite: como controlar a alergia

Se os sintomas típicos da rinite persistem por vários dias — ou se repetem em períodos específicos do ano — buscar um médico é o primeiro passo para lidar com o problema.

Durante a consulta, o especialista vai avaliar o incômodo e investigar se há algum comportamento, hábito ou qualquer outro fator que está envolvido nesse processo.

Quando as evidências apontam para uma rinite alérgica, o profissional da saúde costuma indicar algumas mudanças de hábito e na casa — como fazer faxinas mais frequentes para acabar com o acúmulo de pó ou evitar certos cobertores, bichos de pelúcia, carpetes e cortinas que acumulam ácaros ao longo do tempo.

“O quarto é o ambiente que merece mais cuidados. Quanto mais simples, arejado e fácil de limpar ele for, melhor para o paciente”, destaca Di Gesu.

Enquanto a pessoa faz esse controle dos gatilhos das crises, é possível também usar alguns remédios que, segundo os médicos, são bem seguros e eficazes.

Para os casos leves de rinite alérgica, os fármacos mais prescritos são justamente os anti-histamínicos, ou antialérgicos.

Eles bloqueiam a histamina, uma substância produzida por algumas células de defesa (como os mastócitos) que desencadeia a irritação das paredes internas do nariz.

Essa classe farmacêutica é dividida em dois grupos: os remédios de primeira e de segunda geração.

Como o próprio nome sugere, os de primeira geração são mais antigos e costumam causar sonolência por algumas horas. Carbinoxamina, bronfeniramina, clorfeniramina e prometazina são alguns exemplos dessa turma.

Já os de segunda geração, como fexofenadina, loratadina e desloratadina, são mais modernos e não causam essa vontade excessiva de dormir.

Para quem tem uma rinite alérgica moderada ou grave, os médicos costumam prescrever, além dos anti-histamínicos, anti-inflamatórios específicos. Alguns deles vêm na forma de spray nasal.

Há ainda a opção da imunoterapia, uma espécie de “vacina terapêutica”. Essa modalidade de tratamento consiste em aplicar doses mínimas do agente que causa a alergia todos os meses.

A ideia é treinar o sistema imunológico aos poucos, para que ele deixe de gerar uma reação desmedida ao entrar em contato com o gatilho da rinite.

Essa terapia pode durar entre dois e cinco anos — e custa ao redor de R$ 300,00 por mês.

Os tratamentos para outros tipos da inflamação nasal

Mas e se a rinite não tiver um fundo alérgico? É justamente aí que entra a importância do diagnóstico correto.

Afinal, se o quadro for provocado apenas por mudanças de temperatura, remédios ou gestação, de nada adianta insistir apenas em remédios específicos para as crises alérgicas (como os anti-histamínicos).

Aliás, na gravidez, o uso de qualquer remédio deve contar com a avaliação de um especialista na área.

Em situações como essas, os incômodos continuarão a acontecer.

Para a rinite ligada a questões de temperatura ou umidade, por exemplo, há medicamentos específicos.

Além disso, o paciente pode ter melhoras ao fazer ajustes na temperatura ou ao usar um umidificador de ar nos ambientes onde passa a maior parte do dia (ou da noite).

Quando o gatilho do nariz travado é um remédio, o profissional de saúde pode realizar correções nas doses ou indicar opções que tenham menos efeitos colaterais nas vias aéreas.

“Em alguns casos, como quando o paciente usa medicamentos para lidar com a disfunção sexual, ele vai ter a congestão nasal apenas por algumas horas, enquanto durar o efeito do fármaco”, pontua Matsuyama.

Até mesmo para a rinite gestacional existem soluções específicas — afinal, como a gestação é um período sensível, nem todo medicamento pode ser usado durante os nove meses.

Mas há certas opções farmacológicas, como alguns sprays nasais, que os médicos podem prescrever para aliviar os sintomas com segurança.