Ressonâncias da Alma
Por Wilton Emiliano Pinto *
Dizem que um batalhão em marcha pode derrubar uma ponte. Não é força bruta — é ritmo. O passo firme e igual dos soldados, repetido em perfeita cadência, pode entrar em sintonia com a estrutura da ponte, fazendo-a vibrar mais do que aguenta. E assim, o que era sólido começa a ceder. Isso é fato, é científico.
Algo parecido acontece com uma taça de cristal. Quando alguém canta ou toca uma nota no tom exato, a vibração atravessa o ar e faz a taça tremer. Se a intensidade for grande o suficiente, ela pode até se quebrar — sem ninguém encostar nela.
É a ciência da ressonância: quando frequências se encontram, elas se somam. E o mundo, que parecia estável, muda.
Mas eu, que já cruzei muitas pontes na vida — de concreto e de emoção —, aprendi que essa verdade física também mora no campo da alma. Somos feitos de vibrações, mesmo que a física não as meça com precisão.
Há pessoas que, ao entrarem na nossa vida, parecem já estar ali desde sempre. Conversam conosco com o olhar, entendem sem explicações, cantam a mesma nota que já ecoava dentro da gente sem que soubéssemos. São ressonâncias raras, como encontros marcados antes do tempo.
Outras vezes, vibramos fora de compasso — e o que poderia ser ponte, vira ruína. Aprendemos, então, que nem todo afeto é harmonia, e que há sentimentos que, se repetidos demais, fazem desabar o que era para durar.
Na infância, lembro-me de sentar à varanda e ouvir o galo cantar na madrugada, como um afinador de silêncios. Era um tempo em que a vida vibrava devagar, como as rodas d’água no córrego lá de casa. Tudo tinha seu ritmo natural — até as esperas. Aquele mundo parecia estar em ressonância com o coração da gente.
Hoje, em meio a ruídos e urgências, talvez sejamos chamados a reencontrar nossa frequência. Aquela nota íntima que pulsa dentro do peito e nos diz quem somos, no que acreditamos, com quem queremos vibrar.
Se na ciência a ressonância pode derrubar pontes, na vida ela pode construí-las. Quando encontramos alguém que vibra como nós — seja em silêncio ou em palavras —, há um tipo de beleza que nenhum engenheiro explica: a ponte que se ergue entre duas almas que se reconhecem.
E é por isso que sigo atento ao som do mundo. Porque sei que a vida, como a música, só faz sentido quando há sintonia. E que a frequência com que vibramos importa — para sustentar afetos, criar memórias, e atravessar os dias como quem atravessa pontes invisíveis, guiado apenas pela leveza de uma nota conhecida.

Funcionário Público aposentado e gosta de uma boa prosa.