Reflexões de uma vida plena: A Casa dos 80
Por Wilton Emiliano Pinto *
“Hoje deixo a casa dos 70 e me mudo, com mala e cuia, para a casa dos 80. Espero passar bons anos nesse novo lar, embora ele se situe já bem perto do fim da rua. Não sei se a casa dos 80 será do meu agrado, mas isso já não importa; o tempo na casa dos 70 chegou ao fim. Saio feliz desse espaço, pois, com o mundo do jeito que está, poderia ter sido despejado bem antes de concluir o contrato”.
Mas vamos deixar as metáforas de lado e falar de maneira mais direta. Hoje acordei com uma inspiração profunda, refletindo sobre a alegria de simplesmente estar vivo. Meu coração ainda bate firme, o sangue corre vibrante, e me sinto plenamente consciente deste momento. É 15 de dezembro de 2024, e este é um dia especial: completo 80 anos. Chegar a essa idade é uma conquista, uma dádiva que traz sabedoria e uma visão mais clara da vida.
Neste momento, sinto que é hora de olhar para trás com orgulho. Orgulho pelas batalhas que venci, pelas memórias que construí, pelos laços familiares e amizades que perduram. Ao mesmo tempo, é um período de adaptação e reflexão, pois o tempo traz inevitáveis mudanças. E, sem dúvida, é um momento de celebrar a longevidade.
Mais um ano se passou! Que eu possa comemorá-lo ao lado daqueles que amo. São 80 anos de histórias, de alegrias e também de lutas. De vitórias e derrotas que me ensinaram grandes lições. Dei o melhor de mim até aqui e continuarei a dar o meu melhor, até o fim. Viver com intensidade é o meu propósito. Que esses 80 anos se somem em muitos mais: 83, 85, 90… ou o que a vida me permitir. Estou feliz, muito feliz, e sou grato a Deus por isso.
As memórias, sempre entrelaçadas com a música, trazem de volta momentos que aquecem o coração, mesmo com um toque de saudade. São tesouros que nos acompanham, nos confortam e nos lembram do que realmente importa: o amor, a família, os momentos compartilhados. Ontem, ao ouvir a canção “Peixe Vivo”, lembrei-me de Mamãe e da minha irmã Vanda. Elas adoravam essa música. Parece coisa de quem já viveu muito, mas ao escutar aquela melodia, fui tomado por um aconchego imenso ao lembrar delas cantando juntas: “Como pode um peixe vivo… Viver fora d’água fria…”. Quanta saudade! Às vezes, a tristeza nos envolve, mas logo a alegria volta, o amor se renova e a esperança também.
Outro ponto relevante, são sobre meus irmãos, Enéas e Hélio. Embora o tempo tenha passado e a morte tenha silenciado suas vozes, o vínculo fraterno que compartilhamos continua intacto, como uma chama que, mesmo sem a presença física, jamais se apaga. Eles já partiram, mas deixaram em mim uma herança de companheirismo e lembranças que jamais se desvanecerão.
Foram meus grandes companheiros de pesca por muitos anos. Juntos, enfrentamos o calor do sol e o agitar das águas, mas, acima de tudo, estivemos lado a lado, compartilhando momentos em que a natureza, o rio e a tranquilidade formavam o cenário perfeito para nossas aventuras.
Mas a vida, como o rio que nunca para, segue seu curso. E a morte, impiedosa e inevitável, levou-os, deixando um vazio imenso no meu coração. Ainda sinto suas presenças ao meu lado, em cada praia do rio do Peixe, em cada pedaço da natureza que nos viu crescer e viver. Eles estão presentes, de alguma forma, em tudo o que vivemos, e o legado que deixaram permanece em cada memória, em cada história que contamos sobre eles.
Quero expressar minha eterna gratidão a todos que “fizeram parte da minha história. Cada um de vocês, com sua presença, temperou minha vida. Aos meus pais, um agradecimento imenso pela vida que me deram e pelo apoio constante. À minha irmã Vanda, agradeço pelo sorriso sempre presente, pela maneira positiva de enxergar a vida e pela sua vontade incessante de viver, mesmo partindo cedo, aos 54 anos. Aos meus irmãos Enéas e Hélio, sou grato por cada momento que compartilhamos nesta caminhada chamada vida.
A minha esposa, meus filhos e netos, aos amigos, aos irmãos e demais familiares que caminham ao meu lado: sigamos juntos. Que, ao cruzarmos a linha de chegada, estejamos lúcidos e amparados.
Agora, enquanto celebro mais um ano de vida, também penso no futuro. Quero amar mais, sorrir mais, solidarizar mais, perdoar mais. Quero viver de uma forma que, ao olhar para trás, como hoje, não tenha nada a lamentar. Que 2025, que está próximo, seja um ano de renovação, repleto de boas leituras, de momentos de paz interior e de pequenas transformações que façam a diferença no mundo ao meu redor.
Sigo em frente, trilhando meu caminho rumo ao infinito, escrevendo minha história por meio das minhas ações. Acredito na vida, pois, afinal, estar vivo é uma dádiva. E nunca sabemos o que nos aguarda na próxima curva desse rio chamado vida.
Gratidão. É essa a palavra que melhor me define.
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