Que tipo de calores você sente? Pesquisa classifica os fogachos femininos
- 9 de agosto de 2016 - 09:14
O calorão ou fogacho – aquela sensação repentina de calor que pode deixar uma mulher ruborizada e encharcada de suor – é considerado há muito tempo o sintoma definitivo da menopausa. Uma nova pesquisa, porém, mostra que a época e a duração dessas ondas de calor podem variar significativamente de mulher para mulher, e que cada uma parece ser classificada uniformemente em quatro categorias do fenômeno.
Algumas mulheres, com ondas de calor de “início prematuro”, começam a sentir o calorão muito antes da menopausa. Os sintomas podem ter início de cinco a dez anos antes da última menstruação, mas os sintomas param em torno do último ciclo menstrual.
A seguir vêm as mulheres que só sentem o primeiro depois da última menstruação, entrando na subdivisão chamada de “início posterior”. E algumas caem no grupo que os pesquisadores batizaram de “sortudas”. Algumas delas nunca vivenciam uma onda de calor sequer, enquanto outras sofrem brevemente alguns episódios perto do fim da transição menopáusica.
E também existem as com o “supercalorão”. Este grupo azarado inclui uma a cada quatro mulheres de meia-idade. A mulher dessa categoria começa a vivenciar o fogacho relativamente cedo na vida, de forma similar ao grupo do início prematuro, mas seus sintomas continuam muito além da menopausa, como as do início posterior, e podem durar 15 anos ou mais.
As descobertas vêm do estudo nacional da saúde da mulher (Swan, na sigla em inglês), pesquisa que há 22 anos está acompanhando a saúde física, biológica e psicológica de 3.302 mulheres de diversas origens étnicas e raciais nos Estados Unidos. O estudo é realizado em sete centros de pesquisa do país e é pago pelo Instituto Nacional de Saúde.
“Isso acaba com o mito típico acerca do calorão, segundo o qual ele só dura alguns anos e todas as mulheres seguem o mesmo padrão. Talvez sejamos mais capazes de ajudar as mulheres quando soubermos em qual categoria elas podem ser colocadas”, afirma Rebecca Thurston, autora principal, professora de Psiquiatria e epidemiologista da Universidade de Pittsburgh.
Isso inclui mulheres como Lynn Moran, 70 anos, assistente financeira aposentada que mora nos arredores de Pittsburgh e entra na categoria do “supercalorão”. Ela se lembra da primeira onda de calor ao redor dos 47 anos.
Embora os sintomas fossem sutis no começo, acabaram se tornando incômodos. “Era o bastante para me acordar de um sono profundo. Não estava dormindo bem porque os sentia a noite toda e durante o dia. Eu me sentia acabada”, conta ela.
Lynn começou a terapia hormonal, que ajudou, mas não eliminou os sintomas. Quando os estudos médicos, entretanto, começaram a mostrar riscos à saúde associados ao tratamento, seu médico a aconselhou a deixar de tomar hormônios. Ela esperou mais 18 meses até se aposentar, então parou de tomá-los em 2005.
O calorão “pode voltar vingativo” e não parou desde então.
“Eu ainda os tenho. Ainda rio deles”, ela conta, observando que pode experimentar várias ondas de calor por dia. “Posso estar me aprontando para sair, arrumando o cabelo e tenho de refazer tudo e secar o cabelo porque fico encharcada. Minha maquiagem literalmente escorre pelo rosto. Aqui estou eu, 70 anos, reclamando dos calorões.”
Rebecca observa que compreender as variações nos fogachos é importante para entender a saúde feminina na meia-idade. Vários estudos sugerem que a época e a duração do calor pode ser um indicador da saúde cardiovascular de uma mulher. Estudo de 2012, publicado no periódico “Obstetrics and Gynecology”, constatou que os calores constantes estavam associados a indicadores mais elevados de colesterol, principalmente em mulheres magras.
Os achados mais recentes do estudo Swan identificaram padrões em torno dos quatro subconjuntos de mulheres que vivenciavam graus variados de calor. As mulheres foram distribuídas igualmente entre os grupos, significando que 75% delas experimentavam algum grau de calor, enquanto 25% conseguiam escapar do sintoma.
As mulheres do grupo de início prematuro têm maior chance de ser brancas e obesas. Mulheres do início posterior costumam ser fumantes. As sortudas que não tiveram ondas de calor ou somente alguns casos geralmente são asiáticas e mulheres com melhor saúde. As do supercalorão eram mais comumente afro-americanas. Mulheres desse último grupo apresentavam maior chance de ter saúde pior ou de consumirem álcool regularmente. Os pesquisadores alertaram, no entanto, que embora tenham identificado algumas tendências estatísticas em cada grupo, é importante observar que cada subconjunto engloba uma diversidade de mulheres representando todas as raças, etnias, pesos e classificações de saúde. Nenhum fator pareceu determinar o risco de uma mulher se encaixar em qualquer uma dessas categorias.
Por exemplo, embora as mulheres afro-americanas tivessem probabilidade três vezes maior de pertencer ao grupo do supercalorão, elas representavam somente 40% dessa divisão. Os outros 60% eram compostos por brancas, algumas asiáticas e outros grupos.
De acordo com Rebecca, é importante que os médicos compreendam que 75% das mulheres têm fogachos na meia-idade e que, para metade delas, as de início posterior e com supercalorão, os sintomas duram muito além da menopausa.
“Isso confronta totalmente a visão tradicional de que as mulheres têm esses sintomas por algo entre três a cinco anos ao redor do final do período menstrual. Agora sabemos que, no caso da maioria delas, isso está evidentemente errado.”
Veja : Mitos e Verdades sobre a Menopausa:
A data da primeira menstruação é o que determina a menopausa. MITO: não existe relação entre a menarca (primeira menstruação) e a parada do ciclo. A data da menopausa é determinada, principalmente, por fatores genéticos. Imagem ThinkStock.
Exercícios ajudam a lidar melhor com o climatério. VERDADE: a atividade física ajuda a melhorar o humor e a disposição, além de prevenir doenças cardíacas e osteoporose e ajudar a manter o peso.Imagem ThinkStock.
O ideal é que a menopausa ocorra após os 50 anos. MITO: não existe uma idade ideal para que a menopausa chegue, sendo que a partir dos 45 anos é considerada normal. Se ocorrer antes dos 40 anos, no entanto, ela é tida como precoce. “Mulheres com história de câncer ou quimioterapia podem ter sua menopausa adiantada”, diz a ginecologista Amanda Volpato Alvarez. Imagem ThinkStock.
A mulher pode engordar ao utilizar hormônios. MITO: “A terapia hormonal não está relacionada com o ganho de peso, o que se sabe é que com o avançar da idade existe um aumento do índice de massa corporal relacionado com a diminuição dos gastos calóricos e aumento da ingestão calórica”, explica a ginecologista Amanda Volpato Alvarez. Imagem: Kokhanchikov/Shutterstock
Menopausa precoce é quando a mulher entra no climatério entre 30 e 40 anos. VERDADE: a parada da menstruação e a ausência de ciclos ovulatórios abaixo dos 40 anos é considerada precoce. “Muitas vezes é de causa desconhecida, mas pode ter fundo genético ou ser causada por doenças autoimunes, doenças da tireoide e diabetes mellitus”, explica a ginecologista Amanda Volpato Alvarez. Imagem: Thinkstock
Quem tem menopausa precoce pode ter mais doenças na velhice. VERDADE: “A mulher que entra precocemente na menopausa tem um risco aumentado de apresentar doenças cardíacas e osteoporose”, afirma Amanda Volpato Alvarez, especialista em medicina reprodutiva do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia, Obstetrícia e Reprodução Assistida. Imagem: Thinkstock
Existem formas de retardar a menopausa. MITO: não tem como se retardar uma menopausa, já que são principalmente fatores genéticos que determinam o seu início. Imagem: Thinkstock
É comum a mulher sentir ondas de calor e suar bastante à noite durante a menopausa. VERDADE: “As ondas de calor são resultantes das oscilações hormonais desse período”, explica Elizabeth Leão, ginecologista do hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo. Os sintomas surgem inesperadamente como crises de calor sufocante no tórax, pescoço e face, muitas vezes acompanhadas de rubor no rosto (a temperatura da pele chega a subir cinco graus), sudorese, palpitações e ansiedade. Imagem: Thinkstock
Pele, unhas e cabelo mudam após a menopausa. VERDADE: quando a menopausa chega, a pele fica mais seca e fina, as unhas se tornam fracas e o cabelo tende a cair. “Essas mudanças, em especial no tônus da pele, é resultado de um processo geral de envelhecimento”, explica a ginecologista Elizabeth Leão. Imagem: Thinkstock
A reposição hormonal ajuda a controlar os sintomas da menopausa. VERDADE: na terapia de reposição hormonal um ou mais estrogênios, usualmente em combinação com progesterona (e algumas vezes com testosterona) são administrados para compensar parcialmente a redução dos níveis destes hormônios no organismo, e com isto minimizar os sintomas causados pela diminuição dos mesmos. “Até o início dos anos 2000, era normal fazer a reposição. Mas um estudo americano divulgado na época gerou um pânico nas mulheres, mas quem não teve alguma doença maligna, como câncer de mama, pode fazer o tratamento”, diz a ginecologista Elizabeth Leão. De acordo com ela, sintomas como as “ondas de calor”, diminuição de libido, depressão e insônia podem ser amenizadas com a reposição hormonal. Imagem: Shutterstock
A mulher fica com a vagina mais seca após a menopausa. VERDADE: a falta de estrogênio leva à secura vaginal, que pode ser tratada com cremes vaginais com hormônios, em mulheres que não tenham contraindicação para o uso dos mesmos, Imagem: Shutterstock
A reposição de cálcio é importante para evitar problemas ósseos após a menopausa. VERDADE: a reposição na menopausa de cálcio e vitamina D ajuda na prevenção de fraturas e da osteoporose. “Mas a melhor maneira de se prevenir este tipo de problema na velhice é ter uma alimentação rica em cálcio na infância, o que garantirá uma boa massa óssea no futuro”, diz Amanda Volpato Alvarez, especialista em medicina reprodutiva do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia, Obstetrícia e Reprodução Assistida. Imagem: Kham Tran
Após a menopausa, a mulher não engravida mais. PARCIALMENTE VERDADE: a mulher não engravida mais de forma natural após a menopausa, mas por meio de tratamentos como a reprodução assistida é possível uma gravidez após o climatério. “Com a utilização de óvulos de doadoras é possível, já que a mulher na menopausa não tem mais óvulos, mas o útero pode ser preparado e receber uma gestação sem problemas”, explica Amanda Volpato Alvarez, especialista em medicina reprodutiva do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia, Obstetrícia e Reprodução Assistida). “Não existe limite de idade, pois cada pessoa é cada pessoa. O médico sempre tem de ser criterioso e ver aquelas que podem, quais os riscos, se tem outras doenças, problemas cardíacos, pois uma gravidez aos 45 anos é diferente de uma aos 25”, completa a ginecologista Elizabeth Leão. Imagem: Thinkstock
Insônia, depressão e ansiedade são comuns na menopausa. VERDADE: são sintomas muito frequentes, principalmente no climatério. “A mulher já tem algum componente que pode levar à depressão e quando chega a menopausa e seus sintomas, acaba fechando esse quadro depressivo. Já a insônia está ligada às ondas de calor, que causam problemas para dormir”, diz a ginecologista Elizabeth Leão.Imagem: Getty Images
Após a menopausa, corre-se mais risco de desenvolver doenças. VERDADE: mulheres pós-menopausa têm risco aumentado para doenças cardiovasculares e osteoporose. “Pode haver aumento da probabilidade da perda do tônus da musculatura perineal (que segura os órgãos pélvicos). Isso acontece gradativamente durante a vida, mas pode se acelerar após a menopausa”, explica a ginecologista Elizabeth Leão. Imagem: Thinkstock
Todas as mulheres podem fazer reposição hormonal. MITO: a reposição hormonal é indicada apenas para as mulheres que tenham os sintomas da menopausa, como as “ondas de calor”, e que não tenham contraindicações, como histórico de câncer de mama, doenças coronarianas e doenças tromboembólica. Imagem: Getty Images/Thinkstock
A menopausa causa diminuição da libido. VERDADE: com a menopausa, há uma redução dos hormôniosfemininos (estrogênio) e também dos hormônios masculinos (testosterona) que estão relacionados com o libido na mulher. “Ela pode causar, mas não é toda mulher que tem. A diminuição é discreta e não chega a ser esse fantasma”, diz a ginecologista Elizabeth Leão. Imagem: Getty Images
As Informações são do UOL/The New York Times