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QUANDO O ESSENCIAL FLORESCE

Por Wilton Emiliano Pinto *

A gente passa tanto tempo correndo atrás de grandes sonhos — viagens deslumbrantes, festas animadas, sucessos estrondosos — que mal percebe o momento exato em que o coração muda de direção. De repente, sem anúncio nem alarde, percebemos: amadurecemos.

Não é mais o brilho das vitrines ou o som frenético das multidões que acende nossos olhos. O verdadeiro programa favorito se revela na mais simples e silenciosa das cenas: estar em casa. Casa limpa de barulho e de pressa. Casa cheia de paz.

A geladeira abastecida não é só fartura — é o sinal de que conseguimos cuidar de quem amamos. As plantas crescendo no canto da sala são mais que decoração; são metáforas discretas de nossa própria jornada: a gente também se enraizou, também floresceu. As contas pagas são hoje motivo de alívio, quase uma celebração íntima, porque já sabemos o peso da preocupação e o sabor raro da tranquilidade.

E a saúde da família, então? Que presente silencioso! Aprendemos a valorizar a ausência de notícias ruins, a agradecer por cada rotina sem sustos, cada manhã que amanhece sem sobressaltos. Estar longe de negatividade virou escudo e escolha. Porque já entendemos que paz não se encontra: se constrói.

E constrói-se aos poucos — com palavras suaves ao acordar, com gestos de cuidado esquecidos por tantos, com o silêncio consentido da tarde que se deita sobre os móveis. A paz mora também no pão simples repartido na mesa, na toalha que seca o rosto depois do banho quente, na xícara de chá esquecida ao lado do livro.

Parece pouco, olhando de fora. Um olhar apressado talvez enxergue apenas uma vida simples, sem grandes enredos. Mas nós sabemos — e como sabemos! — que isso é tudo. Tudo o que importa. Tudo o que permanece.

O essencial nunca esteve nas luzes. O essencial floresce nas sombras mansas do lar, no cheiro do café que a gente passa para si mesmo, no abraço da família reunida num dia qualquer, na calma que brota sem anúncio, como brotam as plantas em nossa janela. Floresce no riso leve, no sono em paz, no tempo sem cobrança. E, por fim, floresce em nós — quando paramos de correr e aprendemos, enfim, a permanecer.

Amadurecer é descobrir que a felicidade mora na vida comum, desde que essa vida seja plena de amor, serenidade e gratidão. E, para quem já correu tanto atrás de muito, reconhecer que o “pouco” é, na verdade, imenso… é o maior amadurecimento de todos.

* Wilton Emiliano Pinto é Contabilista,
Funcionário Público aposentado e gosta de uma boa prosa.