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Projeto com tatuagem busca recuperar autoestima de pessoas que tiveram câncer de mama

Mãos que confortam. Desta forma, a securitária Ana Cláudia Corban Armando, 53, referiu-se aos tatuadores Stella Nanni, 48, e o filho Gabriel Nanni, 23. Moradores de Campinas (93 km de SP), os dois criaram projeto Tattoo Truck Tour, um estúdio móvel de tatuagem onde transformam cicatrizes em obras de arte através da campanha Transformando Vidas.

Em 2015, durante o autoexame, Ana Cláudia descobriu um caroço na mama esquerda. A mamografia e o ultrassom não identificaram o tumor, mas a ressonância magnética acusou dois. Na cirurgia foi encontrado mais um. O médico fez a retirada da mama e reconstrução imediata.

“A cicatriz é a marca de que o câncer foi embora, mas te remete a lembranças ruins”, conta Ana, que descobriu o projeto através de uma ONG e resolveu conhecer o trabalho dos tatuadores enquanto estavam com o tatoo truck na Ciclofaixa da Marginal Pinheiros, junto à Linha 9 – Esmeralda da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Imediatamente, agendou um horário.

Ana colocou uma pedra em cima do período triste e cheio de incertezas ao tatuar flores sobre a cicatriz no peito. O procedimento durou cerca de três horas. “É gostoso olhar a arte onde deveria ter algo feio”, diz.

“A tatuagem pode servir como um recurso para que a mulher que teve câncer de mama lide melhor com o novo corpo. Algumas procuram o procedimento para se olharem e encararem a vida de forma diferente”, explica a especialista em psico-oncologia pelo AC Camargo Cancer Center, Marilia Zendron.

Durante o mês de outubro, voltado à importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama, o estúdio ficará estacionado próximo a estações do metrô e da CPTM para atender gratuitamente homens e mulheres que tiveram a doença e desejam reconstituir o mamilo ou cobrir a cicatriz com outro desenho. Nos demais meses, o projeto se mantém itinerante.

Antes da pandemia de Covid-19, o Tattoo Truck Tour havia passado por várias cidades do Brasil e do Uruguai e estava em Buenos Aires, na Argentina, quando precisou retornar.

“A nossa família é inteira de médicos, e a gente sempre se questionava o quanto ajudava as pessoas com a nossa arte, porque o médico ajuda efetivamente. Com esse projeto, a gente se encontrou”, diz Stella Nanni, que também é artista plástica.

Segundo ela, 70% das mulheres não têm condição de fazer a reconstituição do mamilo após a mastectomia. A maioria delas não sabe que tem a opção de realizá-la gratuitamente.

“A ideia é deixar uma memória boa no lugar da cicatriz. Transformar o trauma em algo que a pessoa sinta orgulho”, afirma Gabriel.

Só podem ser tatuadas cicatrizes com pelo menos um ano. É necessário ter, no mínimo, 18 anos e não estar passando por quimioterapia ou radioterapia. A pessoa pode escolher se quer reconstituir o mamilo ou tatuar outro tipo de desenho.

O projeto ficará até esta terça (6) na estação de metrô AACD – Servidor, Linha 5 – Lilás. Nos dias 12 e 13 de outubro, será a vez da estação José Bonifácio, da Linha 11- Coral da CPTM, e nos dias 19, 20, 26 e 27 de outubro, o Tatto Truck Tour ficará na Ciclofaixa da Marginal Pinheiros, junto à Linha 9 – Esmeralda da CPTM, sempre das 10h às 17h.

“Além de jogar luz sobre a importância da prevenção, o trabalho dos tatuadores cumpre o papel de ressignificar a cicatriz dessas pessoas, trazendo-lhes alegria e renovação”, diz a chefe de gabinete da Secretaria dos Transportes Metropolitanos, Roberta Campedelli.

Para fazer a tatuagem é necessário agendar um horário pessoalmente ou pelas redes sociais do projeto no endereço @tattootrucktour. Os horários serão marcados de acordo com ordem de procura e capacidade de atendimento.

Os tatuadores Stella e Gabriel não têm patrocínio. Para continuarem com o projeto precisam de doações. O link para quem quiser colaborar está disponível na bio das redes sociais e no site www.nanniink.com.br/tatootrucktour.

 

 

Patricia Pasquini Via FolhaPress