Prefeitura de São Paulo ergue muro na Cracolândia e enfrenta críticas: “Parece um campo de concentração”
A Prefeitura de São Paulo instalou um muro de 40 metros de extensão e 2,5 metros de altura na Cracolândia, região central da cidade, como parte de uma medida para delimitar a área onde se concentram usuários de drogas. Localizado na Rua General Couto Magalhães, próximo à estação da Luz, o muro substitui os tapumes de metal que anteriormente cercavam a região. A gestão municipal afirma que a estrutura visa proteger os usuários em situação de vulnerabilidade, moradores e pedestres, mas a decisão gerou críticas de ativistas, figuras públicas e usuários das redes sociais.
Denúncias de abuso e falta de infraestrutura
Ativistas da ONG Craco Resiste denunciaram o confinamento dos usuários na área delimitada pelo muro e pelas grades, alegando que guardas civis direcionam pessoas ao local, utilizando até spray de pimenta contra quem não permanece no perímetro. A organização também apontou a ausência de infraestrutura básica, como banheiros e pontos de água potável, além de relatos de xingamentos e revistas arbitrárias feitas pela Guarda Civil Metropolitana (GCM).
“A estrutura consome recursos públicos que poderiam ser investidos em políticas de cuidado eficientes ou em melhorias para a região central”, afirmou a ONG, destacando que medidas mais efetivas poderiam priorizar saúde e moradia.
Críticas à abordagem
Usuários das redes sociais e figuras públicas compararam a medida a um “campo de concentração”, acusando a prefeitura de tratar os usuários de forma desumana. “Ao invés de ajudar, só os mantêm no triângulo, bizarro”, comentou um internauta.
Apesar da controvérsia, a Prefeitura argumenta que a substituição dos tapumes por um muro de alvenaria foi necessária para evitar ferimentos causados por estruturas metálicas quebradas. Em nota, declarou que o objetivo da medida é garantir segurança e acolhimento às pessoas em situação de vulnerabilidade.
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Foto: William Santos/ TV Globo
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Foto: Deslange Paiva/g1
Contexto e dados recentes
A Cracolândia é apenas uma das 72 cenas abertas de uso de drogas existentes em São Paulo, segundo a Secretaria Municipal de Segurança Urbana. Embora o confinamento tenha reduzido temporariamente o número de usuários em determinados horários, dados da prefeitura mostram um aumento de 44,3% no fluxo à tarde e de 17,4% pela manhã em comparação com períodos anteriores.
Programas e ações da Prefeitura
Entre as medidas anunciadas pela gestão municipal estão:
• Internação compulsória: Tratamento forçado para dependentes químicos como alternativa ao problema.
• Programa Reencontro: Um decreto com 91 artigos que ainda carece de detalhes sobre execução, metas e orçamento.
• Auxílio financeiro: Oferta de até R$ 1,2 mil para famílias que aceitem reintegrar pessoas em situação de rua ao convívio familiar.
• Inclusão social: Incentivos para a contratação de pessoas em situação de rua em projetos de emprego e renda.
Embora o plano apresente iniciativas voltadas à reintegração e assistência social, até agora a implementação se limitou a ações de contenção, como o muro e os gradis.
Resposta da Prefeitura
A administração municipal contesta as críticas, alegando que o muro não representa confinamento e que as mudanças visam melhorar a segurança e condições para as pessoas vulneráveis. A prefeitura também destacou melhorias na área, como a substituição do piso, e negou que a intervenção esteja relacionada a outros interesses, como o setor imobiliário.
As medidas, no entanto, continuam sendo alvo de debate sobre sua eficácia e ética, com especialistas e ativistas pedindo soluções mais estruturais e humanizadas para o problema.
Da Redação Day News
Com informações do Terra