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Policiais dizem que PM pode ter forjado investigação para grampear políticos, advogados e jornalistas

Coronel e sargento eram suspeitos de tráfico, segundo o Núcleo de Inteligência da PM. Policiais dizem que nunca foram chamados a prestar esclarecimentos.

O coronel Adalberto Gonçalves de Paula, 51, e o sargento Cremilson Ferreira de Souza, 52, apontados como traficantes pelo Núcleo de Inteligência da PM de Mato Grosso, dizem suspeitar que a corporação forjou uma investigação sobre eles para poder grampear os telefones de políticos, jornalistas, advogados e médicos entre os anos de 2014 e 2015. Os números foram interceptados com autorização da Justiça dentro de uma suposta apuração sobre crimes envolvendo membros da instituição policial.

O G1 tenta saber do governo, desde o início da semana passada, qual o resultado da alegada investigação sobre a conduta dos policiais, mas ainda não recebeu resposta. A Procuradoria-Geral da República investiga se o governador Pedro Taques (PSDB) sabia das interceptações e de quem partiram as ordens para os grampos.

Os dois policiais, conforme o Núcleo de Inteligência da PM, estariam envolvidos com tráfico de drogas, armas e munições na região de Cáceres, onde trabalham. O coronel é descrito como “líder do bando”.

Tanto Adalberto, promovido a coronel no mês passado, quanto o sargento disseram que souberam da suposta investigação quando a denúncia do esquema de grampos veio à tona, há duas semanas. Os dois admitiram que já responderam a outros procedimentos internos, mas que nunca foram chamados pela corporação para prestar qualquer esclarecimento sobre esse caso específico.

“Recebi do Comando da PM, informalmente, a informação de que não há instauração de nenhum procedimento contra mim nesse sentido. Não tem instauração desse inquérito contra mim. Isso foi uma ‘história cobertura’ para convencer o juiz, é até comum ocorrer isso na polícia. Mas vou protocolar pedido de informação para ter uma resposta formal”, disse o coronel Adalberto, prestes a entrar para a reserva.

O oficial disse que na época em que teriam ocorrido os supostos crimes ele não tinha nenhuma unidade sob seu comando. “Não tinha policiais subordinados a mim. No período mencionado eu estava em férias e, depois, fiquei de licença-prêmio”.

Comandante da Polícia Militar de Mato Grosso em 2015, coronel Zaqueu Barbosa (Foto: Gcom-MT)

Comandante da Polícia Militar de Mato Grosso em 2015, coronel Zaqueu Barbosa (Foto: Gcom-MT)

Os pedidos para incluir os nomes de pessoas sem relação com os fatos supostamente apurados foram feitos à Justiça pelo cabo Gerson Luiz Ferreira Correa Junior, preso nesta semana, assim como o coronel Zaqueu Barbosa, comandante da PM em 2015, por causa das interceptações.

“Isso trouxe danos à minha família. São absurdos que eles colocam como se fosse verdade. Nesse ‘inquérito’ minha mulher é colocada como traficante. Me senti desprotegido e desprestigiado pela minha corporação. Estou magoado com a instituição”, disse o coronel.

O sargento Cremilson, citado como “braço direito” do coronel para cometer crimes, disse que nunca foi questionado sobre o caso. “Jamais algum comandante veio pelo menos me indagar. Não tenho conhecimento de nada disso”. Ele disse que pediu a um superior, na semana passada, para que lhe informe se há algum procedimento aberto contra si na PM. Ainda não recebeu resposta.

“Se vocês soubessem o que estou passando com a família, é terrível. Não consigo mais dormir, já passei noites em claro. Vir a usar a gente, colocar a gente como bandido. Estou revoltado. A pessoa que tem capacidade de fazer alguma coisa dessa não tem vergonha na cara não tem moral de nada”, disse o sargento, que chegou a trabalhar como motorista do coronel em Adalberto em 2014.

Investigações

O caso foi levado à PGR pelo promotor de Justiça Mauro Zaque, que foi secretário de Segurança do governo Taques no ano de 2015. Zaque disse que entregou, em outubro daquele ano, dois ofícios ao governador alertando sobre o esquema de grampos da PM.

Taques afirma que recebeu apenas um desses documentos, e que mandou o caso ao Gaeco (Grupo de Atuação e Combate do Crime Organizado), do Ministério Público, que arquivou a investigação por falta de provas. O segundo ofício, afirma o governador, foi fraudado por Zaque e nunca foi recebido.

A PM abriu investigação interna para apurar a conduta de policiais envolvidos no caso. A Polícia Civil, por meio da Delegacia Especializada em Crimes Fazendários (Defaz), também instaurou inquérito.

Por G1 MT