Polícia acredita que suspeitos da morte de Marielle combinaram versões em encontro no dia de depoimento
A Polícia Civil diz que o sargento reformado da PM, Ronnie Lessa, e o ex-PM Élcio de Queiroz, suspeitos da morte da vereadora Marielle Franco, se encontraram em um bar momentos antes do depoimento de Élcio, possivelmente para combinar versões do depoimento que seriam ditas na Divisão de Homicídios do Rio. As informações foram obtidos, com exclusividade, pela GloboNews.
O encontro, registrado em fotos, entre os dois suspeitos e um terceiro homem, aconteceu no dia 1° de fevereiro. Ronnie e Élcio estão presos desde o dia 12 de março, por suspeita de participação nos assassinatos da vereadora e do motorista dela, Anderson Gomes.
Quarenta e oito dias antes de ser preso, Ronnie também foi interrogado por policiais da Divisão de Homicídios (RJ) sobre as mortes de Marielle e Anderson. Ele afirmou que não conhecia as vítimas, nunca havia ouvido falar dos dois, e tomou conhecimento do crime pela imprensa.
Ele destacou também que não se lembrava do que fez no dia 14 de março de 2018, data do crime, mas que costumava frequentar bares e quiosques na Praia da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, com tal frequência que muitos achavam que ele era alcóolatra.
As declarações acabaram desmentidas pelas investigações, que mostraram que Ronnie não somente sabia quem era Marielle como até fez pesquisas sobre a vereadora pela internet.
Na segunda (15), a GloboNews já havia mostrado que a falta de cuidado pode ter comprometido a busca por impressões digitais nas cápsulas encontradas no local do crime.
Barraquinhas
Questionado sobre o padrão de vida que mantinha, Ronnie Lessa deu uma resposta que chamou a atenção dos investigadores. Ele afirmou que além dos R$ 7 mil que recebia como sargento reformado, também possuía 11 barraquinhas de sanduíches nas comunidades de Manguinhos e Varginha, duas favelas da Zona Norte dominadas pelo tráfico de drogas.
As barracas renderiam a ele cerca de R$ 7 mil por semana, quase R$ 30 mil por mês no total. Questionado se realizou alguma movimentação financeira igual ou maior que R$ 50 mil nos últimos 12 meses, Ronnie Lessa respondeu aos policiais que vendeu um carro, juntou com o dinheiro da venda de um barco antigo e comprou uma lancha no valor de R$ 265 mil reais.
Ronnie ainda confirmou uma amizade próxima com o ex-PM Élcio de Queiroz, também indiciado e preso pela polícia por suspeita de envolvimento nas mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes.
Élcio de Queiroz foi ouvido no mesmo dia que Ronnie Lessa. Ele também disse que nunca havia ouvido falar sobre Marielle e Anderson e que soube das mortes pela imprensa. E que também não se lembrava do que havia feito no dia do crime.
Fotos revelam encontro
Élcio Queiroz foi intimado a prestar depoimento novamente no dia 1º de fevereiro. Momentos antes do encontro, ele foi flagrado em um bar com Ronnie Lessa e um terceiro homem, que não foi preso. A Divisão de Homicídios suspeita que a reunião foi feita para combinar as versões.
Esta outra pessoa também prestou depoimento e chegou à delegacia com Élcio às 13h16. Depois do depoimento do suspeito, este homem aparece conversando com ele do lado de fora da delegacia. Às 14h37, ele entrou na DH para ser ouvido.
Ele confirmou que conhecia Ronnie Lessa e Élcio Queiroz da Polícia Militar, mas também negou que conhecia a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes antes do crime.
As versões que Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz apresentaram não convenceram a Polícia Civil e nem o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. Os dois foram denunciados à Justiça e respondem por homicídio triplamente qualificado.
Enquanto aguardam por julgamento, os dois estão em um presídio federal de segurança máxima, no Rio Grande do Norte.
A defesa de Élcio de Queiroz afirmou que o ex-PM nega todas as acusações. Sobre o encontro com Ronnie Lessa antes do depoimento, o advogado afirmou que os dois são compadres e amigos, e por isso mantinham contato frequente.
A defesa de Ronnie Lessa disse que não vai se manifestar.
Por Marcelo Gomes e Marcelo Bruzzi, GloboNews