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“Perdi a visão aos 29 anos: me reinventei no trabalho e na vida!”

Durante um assalto, Luiz Gustavo levou um tiro na cabeça e ficou cego. Reaprendeu a viver para superar suas limitações, mas esse desafio redobrou sua realização

Deu no Uol – Sou Mais Eu Digital

Um jovem executivo com uma carreira promissora é vítima de um assalto, baleado na cabeça e perde a visão. Esse é o ponto de partida da trajetória deLuiz Gustavo Lamac, contada no livro Um Outro Olhar, em parceria com a psicóloga Terezinha Sette, que conduziu seu processo de recuperação. A obra conta a história da luta de Luiz para se reinventar como homem e profissional. São relatados os conflitos e dificuldades que ele enfrenta para reconquistar sua independência e autonomia. Confira alguns trechos:

“Com o péssimo hábito que tinha, comecei a fazer ligações ao celular enquanto dirigia, sendo a última delas para uma menina interessante que havia conhecido recentemente. (…) Para evitar continuar dirigindo e conversando ao celular ao mesmo tempo, resolvi estacionar o carro em frente a um supermercado. O local era bem iluminado e parecia bastante seguro. Mesmo assim, mantive os vidros fechados e o carro ligado. Em meio ao entra e sai do supermercado, prestei atenção a um rapaz que descia a rua e passava ao lado do meu carro. Parecia um carregador de sacolas ou flanelinha. Menos de um minuto depois, ele reapareceu apontando uma arma e falando alguma coisa que não entendi. (…) Resolvi arrancar. Era uma subida leve, acelerei por um curto período de tempo, e foi então que ouvi o estampido. Imediatamente, não enxerguei mais nada, além de sentir uma dor terrível na testa e um zumbido insuportável nos ouvidos. Tudo aconteceu em um instante curtíssimo. Percebi o carro encostando ao meiofio, o assaltante abrindo a porta, me atirando ao chão e arrancando com meu carro. Obviamente, a sensação de “bem-estar” não era maior que a dúvida sobre meu futuro e sobre como seria minha vida a partir daquele instante. Outra coisa que me fez passar por maus momentos foi perceber, em algumas pessoas, o pesar e a pena explícitos por eu ter de viver uma nova realidade, por tomar banho com a ajuda de enfermeiros e por receber comida na boca. Isso me deixava arrasado, eu tinha perdido todo o meu senso de humor.”
“Vivi um período de grande angústia, pensando que minha vida não teria mais sentido. Como eu faria para realizar todas as coisas das quais gostava ou que precisava fazer? Como iria viajar? Trabalhar? Namorar? Praticar esportes? Viver?!… Confesso que, por diversas vezes, pensei que nada mais me daria prazer. A sensação da dependência quase total de outras pessoas me deixava em estado de intensa e profunda depressão. Tive vontade de morrer. (…) Minha rotina era dormir, acordar, alimentar-me, ouvir a televisão e… voltar a dormir.”
“Algumas soluções começavam a ser pensadas. Esperava-se que elas me proporcionassem um pouco mais de conforto físico e emocional. Uma delas foi a contratação de um motorista-acompanhante para me auxiliar. A outra seria minha volta ao trabalho. Sempre me foi manifestado que a empresa continuava de portas abertas para meu retorno e que toda a estrutura necessária para minha readaptação seria fornecida. Só que eu não sabia se teria condições para isso…”
“O horizonte obscuro que cada situação nova me traria, por mais simples que fosse, me levava a pensar que nunca mais poderia ser feliz. Afinal, quase todos os prazeres que eu tinha na minha vida estavam relacionados à visão: viajar e ver as paisagens com suas cores exuberantes, dirigir meu carro para onde quisesse, ir a festas, conhecer e escolher com quem ficar, assistir a filmes, jogar squash… Tudo isso agora me era vetado. Tudo, até o simples ato de andar pelas ruas…”
“Estava chegando o dia de retornar ao trabalho. A felicidade e o orgulho das pessoas à minha volta, família, amigos e de todos os que acompanharam o meu processo eram quase insignificantes para mim quando comparados à ansiedade e ao receio em relação à nova realidade profissional com a qual iria deparar.”
“Entretanto, nos primeiros dias de trabalho, comecei a recuperar o sentimento de confiança nas minhas capacidades. Afinal, minha cabeça e minhas ideias, bem como minha memória, continuavam intactas. E, em pequenas experiências no dia a dia do meu retorno profissional, passei a perceber que o trabalho era o melhor caminho para voltar a me sentir uma pessoa realizada. Tinha o sentimento de que o desafio era grande, porém, se eu conseguisse superá-lo, minha realização pessoal seria redobrada.”