PERCEPÇÕES ECONÔMICAS

Por Vivaldo Lopes *

Nos anos de 2023 e 2024 a economia brasileira manteve-se estável, os fundamentos macroeconômicos continuam sólidos e até melhoraram, contrariando as expectativas pessimistas de boa parte dos economistas e analistas financeiros. As exportações aumentaram, gerando expressivos superávits na balança comercial, as reservas internacionais seguem robustas na casa dos 380 bilhões de dólares, o desemprego caiu para 7%, e a atividade econômica (PIB) deve crescer entre 2,5% e 3%. Salário mínimo e os valores pagos pelos programas federais de transferência de renda voltaram a ter ganhos reais. A renda média do trabalho cresceu acima da inflação e o consumo de bens e serviços apresentam relativo aumento quando comparados com o ano de 2022.

Entretanto, os brasileiros demonstram, em média, percepção negativa em relação à economia nacional. Enigma comportamental que intriga economistas, sociólogos, analistas políticos e pesquisadores do comportamento massivo do consumidor brasileiro.

Em geral, as tentativas de explicação do mal humor do cidadão-consumidor repetem as seguintes narrativas:

  1. a) o brasileiro acha que ele e sua família estão em situação bem pior do que dizem os números da economia (inflação, juros, desemprego, intenção de consumo, etc). Os números são um tanto enganosos;
  2. b) embora a inflação tenha caído e se mantido próxima de 4% ao ano, as famílias ainda demonstram irritação com a alta de preços do período pós-pandemia (2021-2022);
  3. c) quando perguntadas sobre a economia do país, as pessoas tendem a responder levando em consideração menos a sua experiência pessoal e familiar e mais as narrativas recebidas por grupos de Whats App, televisão, redes digitais e comunidades de afinidade ideológica.

Eu acrescentaria ao esforço de explicação do pessimismo do consumidor alguns outros aspectos.

O primeiro aspecto é a contradição do consumidor. Enquanto responde com sentimento cético a questões sobre a saúde da economia, os seus gastos continuam fortes, em linha com a tendência de alta de consumo verificada na pós-pandemia, especialmente a partir do último quadrimestre de 2022.

Segundo aspecto, o brasileiro mantém certa tendência histórica de ser mais otimista com a economia do seu estado e da sua localidade do que com a economia nacional. Em Mato Grosso, esse sentimento é facilmente detectado em pesquisas, debates e conversas coloquiais.

Terceiro, o consumidor é mais confiante em relação à sua situação financeira pessoal do que com a economia do estado e do país.

E a quarta abordagem é o fato que, nos últimos anos, a radicalização política contamina também a economia, tornando as percepções econômicas extremamente partidárias. Para boa parte dos consumidores, toda medida vinda de um governo no qual não votou e não apoia, tende a ser avaliada com mais ceticismo ou com viés negativo.

Às pesquisas de consumo e de comportamento, o brasileiro comum continua respondendo que está bem confiante em suas finanças domésticas e do seu estado. Os mesmos consumidores informam aos pesquisadores que pretendem continuar gastando livremente, alegando a conquista de emprego e elevação da renda do trabalho. Naturalmente, não diriam aos pesquisadores estarem confiantes em continuar consumindo se realmente estivessem seguros que a economia geral está mal e poderia piorar no futuro próximo.

É de amplo conhecimento que desabou o sentimento econômico de pessoas com posições políticas à direita e extrema direita após a eleição de Luís Inácio da Silva. Tal fato que se reflete nas avaliações da economia de forma geral. Deduzem, portanto, que, mesmo as suas finanças pessoais e do seu estado indo bem, em algum lugar do país as coisas não andam tão bem.

Outra variável relevante é a ojeriza que o brasileiro tem da inflação. Mesmo quando o rendimento das famílias acompanha o aumento dos preços, a sensação é que parte do ganho foi tirado pela inflação. Um dos principais legados da estabilização econômica proporcionada pelo Plano Real foi cultivar no brasileiro o sentimento do valor da inflação baixa.

Parte considerável das percepções econômicas que prevalecem são formadas por narrativas amplificadas pelas plataformas digitais, parte da mídia profissional, ainda que nem sempre encontrem confirmação na realidade dos fatos, dados e resultados da economia real.

* Vivaldo Lopes, economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA- Gestão Financeira Empresarial pela FIA/USP ([email protected]).

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