Papa Francisco na Páscoa: “Acha que consigo?”, perguntou o Papa ao enfermeiro
“Suba, será bonito”, disse cuidador ao Papa; passeio final no papamóvel marcou despedida emocionada do pontífice
Na manhã do último domingo de Páscoa (20), poucas horas antes de morrer, o Papa Francisco expressou gratidão ao enfermeiro Massimiliano Strappetti, responsável por acompanhá-lo diariamente, com uma frase carregada de simbolismo: “Obrigado por me trazer de volta à praça”, disse o pontífice ao profissional que o incentivou a subir no papamóvel.
Segundo o Vatican News, portal oficial da Santa Sé, o gesto marcou o último contato público de Francisco com os fiéis. Foi a primeira vez que o papa percorreu a Praça São Pedro em veículo aberto desde que recebeu alta de uma internação de cinco semanas para tratar uma grave infecção pulmonar. A cena, inesperada, ocorreu logo após a bênção “Urbi et Orbi”, tradicionalmente proferida pelo pontífice nas celebrações da Páscoa e do Natal.
Antes de subir no papamóvel, Francisco hesitou. “Acha que consigo?”, perguntou a Strappetti. Reassurado pelo cuidador, o líder da Igreja Católica permaneceu cerca de 15 minutos cumprimentando os fiéis. Aproximadamente 35 mil pessoas acompanharam o trajeto, muitas gritando “Viva o papa!”, enquanto o veículo fazia breves paradas para que ele pudesse abençoar crianças trazidas por auxiliares.
Após o passeio, o papa argentino retornou à residência de Santa Marta, onde descansou durante a tarde e jantou normalmente. Porém, na manhã seguinte, por volta das 5h30 no horário local (0h30 em Brasília), apresentou sinais de mal-estar. Segundo relato do Vatican News, pouco antes de entrar em coma, acenou pela última vez a Strappetti com um gesto de despedida. Francisco morreu às 7h35, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca. “Não sofreu. Tudo aconteceu rapidamente”, afirmaram testemunhas presentes nos momentos finais, segundo a publicação. “Uma morte discreta, quase repentina, sem longas esperas nem grande clamor.”
A saúde do pontífice, de 88 anos, já vinha sendo motivo de preocupação. No início do ano, ele passou 38 dias internado no Hospital Gemelli, em Roma, tratando uma pneumonia que atingiu ambos os pulmões — quadro agravado pelo fato de ter perdido parte de um pulmão ainda na juventude. Apesar disso, havia retornado ao Vaticano cerca de um mês antes de sua morte e aparentava estar em recuperação.
O último dia de Francisco refletiu o espírito de seu papado: dedicado até o limite. Ignorando recomendações médicas para repousar por dois meses, ele insistiu em cumprir sua agenda até o fim. “Morreu tendo novamente abraçado o povo, depois de muito tempo”, destacou o Vatican News.
O funeral do pontífice será realizado no próximo sábado (26), com a presença de fiéis, chefes de Estado e representantes religiosos do mundo inteiro. Em seguida, será convocado o conclave que elegerá o novo papa.