Ouça a íntegra do áudio de 4 horas que pode anular delação da JBS
O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirou no início da noite desta terça-feira o sigilo da gravação de conversa entre dois colaboradores da JBS – o empresário Joesley Batista e o diretor de Relações Institucionais, Ricardo Saud – que levou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a abrir um processo de revisão do acordo firmado com o Ministério Público Federal.
A gravação, aparentemente feita sem querer – os dois conversavam sem saber que o gravador estava ligado -, tem 3 horas e 59 minutos de duração e foi entregue, provavelmente também por engano, pela própria JBS à Procuradoria-Geral da República como complemento das informações apresentadas no acordo de delação.
Joesley e Saud conversam sobre os bastidores do acordo de delação e tecem comentários – parte deles ofensivos – a autoridades da República como o próprio Janot e os ministros do STF Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, o próprio Fachin e Ricardo Lewandowski, além de políticos, como a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
No principal trecho, no entanto, eles deixam claro que o ex-procurador Marcelo Miller, que atuou no gabinete de Janot por três anos e integrava a equipe da Operação Lava Jato, atuava como um preposto informal da JBS para facilitar o fechamento do acordo de delação premiada. Miller pediu demissão em janeiro e, três meses depois, se apresentou à PGR como sócio do escritório Trench Rossi Watanabe, que negociava o acordo de leniência da JBS.
A suspeita de Janot é que Miller atuou como “agente duplo” durante o processo de delação. Na segunda-feira, ao comunicar a abertura do processo de revisão das delações, Janot disse que, mesmo se os benefícios dos delatores forem cancelados, as provas contra as pessoas citadas devem ser mantidas. No entanto, a decisão final cabe ao STF.