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Oito Estados têm suicídios e mutilações sob suspeita de ligação com Baleia-Azul

No Brasil, 1 em cada 10 adolescentes de 11 a 17 anos acessa conteúdo na internet sobre formas de se ferir – e 1 em cada 20, de se suicidar, segundo o Centro de Estudos Sobre Tecnologias da Informação e Comunicação (Cetic). Depois de postar em sua página no Facebook a frase “a culpa é da baleia”, um adolescente de 17 anos tentou se jogar nesta quarta-feira, 19, do viaduto sobre a Rodovia Marechal Rondon, em Bauru, interior paulista. Trata-se de mais um caso que envolveria o jogo viral de internet Baleia-Azul, que incita a suicídio e mutilações e já causou alertas policiais e de saúde em oito Estados (SP, PR, MG, MT, PE, PB, RJ e SC).

Pesquisa do Cetic que analisou 19 milhões de internautas brasileiros mostra o avanço das buscas desse público por mutilações (11%) e mortes (6%) no universo online. Os casos mais recentes envolvem o Baleia-Azul. O maior número de registros até agora é na Paraíba, onde a Polícia Militar diz ter identificado 20 adolescentes envolvidos no jogo. O coronel Arnaldo Sobrinho, coordenador do Escritório Brasileiro da Associação Internacional de Prevenção ao Crime Cibernético, relatou tentativas de suicídio e mutilação de adolescentes em João Pessoa e nas cidades de Campina Grande e Guarabira.

A origem e até a existência do suposto jogo, com 50 níveis de dificuldade, tendo o suicídio como resultado final, é polêmica. Seu nome deriva da espécie presente nos Oceanos Atlântico, Pacífico, Antártico e Índico que chega a procurar as praias, por vontade própria, para morrer.

As primeiras informações, de 2015, relatavam um jogo de incentivo ao suicídio propagado pelo Vkontakte (VK), o Facebook russo. Posteriormente, entidades denunciaram o caso como “fake news” (notícia falsa), mas o viral não para de avançar. Participantes surgem em grupos fechados, selecionados de madrugada. Na sequência, o administrador, ou “curador”, lança desafios, que já provocaram problemas em diversos países, incluindo Espanha e França.

Polícia.

O problema tem ganhado contornos reais e policiais. Em São Paulo, o caso de Bauru não é isolado. Na semana passada, um adolescente de 13 anos tentou se matar, em Jaú, cortando braços com lâmina de barbear. Uma irmã contou que o garoto andava depressivo e excluiu a família das redes sociais. A mãe conseguiu entrar no notebook do jovem apenas no dia seguinte e notou a associação com o Baleia-Azul.

E os casos se espalham pelo País. No Paraná, Priscila (nome fictício), de 25 anos, decidiu entrar no jogo para investigá-lo porque estava preocupada com a irmã, de 11 anos – e se assustou. “Não consegui chegar até o fim, são mensagens pesadas, que nos incitam a fazer mal para pessoas que amamos. É agressivo, intenso, mas precisei entrar para saber o perigo.”

O Paraná registrou a entrada de oito adolescentes entre 13 e 17 anos (quatro meninos e quatro meninas), na madrugada desta quarta, nas unidades de saúde de Curitiba – cinco por tentativa de suicídio por medicamentos e três por automutilação. O secretário estadual de Segurança, Wagner Mesquita, afirmou que um dos jovens relatou a participação no jogo.

“Nossa investigação vai em busca dos responsáveis para enquadrá-los por incitação ao suicídio”, disse ele. O crime, previsto no artigo 122 do Código Penal, tem pena de 2 a 6 anos de reclusão. “Vamos trocar informações com outros Estados.”

Em Pernambuco, a Polícia Federal lançou um vídeo na internet e montou equipes na terça para ir a escolas fazer alertas. Em menos de uma semana, a polícia catarinense atendeu nove casos de mutilações, instigados pelo Baleia-Azul e lançará uma campanha de conscientização. Já a região nordeste de Mato Grosso está em alerta. Além de investigar a morte de Maria Oliveira de 16 anos, há 15 dias, a PM identificou uma suposta comunidade ligada ao jogo com cerca de 350 participantes.

Em Minas, a Polícia Civil investiga dois suicídios, o de um jovem de 19 anos, de Pará de Minas (região centro-oeste), e de um rapaz de 16 anos, de Belo Horizonte. No Rio, há dois casos de aliciamento do jogo sendo apurados pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática.

‘É preciso separar o joio, sem pânico’

Juliana Cunha, coordenadora da organização Safernet, diz que “não há evidência de que o jogo seja real e, muito menos, de que poderia ter causado os suicídios”. “É preciso separar o joio do trigo, sem criar pânico.”

Segundo ela, as pesquisas sobre o jogo por usuários brasileiros se intensificaram após uma reportagem de TV em 4 de abril. “A abordagem não contribui para informar, mas para ensinar as pessoas como jogar. Isso sem nem ao menos saber se ele realmente existe. Depois dessa reportagem, o termo ‘Baleia-Azul’ entrou para o Trend Topics (ranking de termos mais usados) do Brasil e está entre os mais procurados no Google e em grupos de Facebook.”

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Em depoimento ao Estado, Maria de Fátima, mãe de Gabriel dos Santos, de 19 anos, que se matou em Pará de Minas, relata envolvimento do jovem com o jogo baleia-azul. O “game” online incentiva o suicídio e a automutilação.

No Brasil, 1 em cada 10 adolescentes de 11 a 17 anos acessa conteúdo na internet sobre formas de se ferir – e 1 em cada 20, de se suicidar, segundo o Centro de Estudos Sobre Tecnologias da Informação e Comunicação (Cetic).Leia abaixo o depoimento:“Eu falei com ele para sair daquele jogo. Uma pessoa, para fazer um jogo como esse, faz um pacto e vai colhendo alma pelo mundo afora. Só que ele não quis me ouvir. Foi quando eu briguei com ele, que isso não era coisa de Deus. Mas ele não aguentou a pressão do jogo. Dizem que eles ameaçam os jogadores que querem sair, que têm os dados da família. Ele tentou sair, mas voltou ao jogo. Perdi meu filho para um jogo. Não quero que mais mãe nenhuma passe por isso. Era um filho trabalhador, honesto, não usava drogas. Você, se precisar, dê umas palmadas, olhe o celular. Mas não deixe seu filho se perder nesse jogo. Espero que essa turma (que convida para participar) seja punida.”Fonte:Estadão