O que querem os jovens?
No artigo de ontem abordamos a pouca participação dos jovens nas manifestações de rua que ocorreram depois de 2013. A base é a publicação citada ontem do jornal Valor Econômico, onde se aponta uma série de razões que fazem os políticos, os partidos e todos os adultos pensarem melhor. Embora estejam com o emprego futuro ameaçado pela crise econômica, jovens não enxergam no “fora, Dilma” e no fora, PT” nenhuma garantia de emprego amanhã, porque não confiam nos partidos de oposição. De outro lado, tem tempo de ficar na casa dos pais esperando a onda melhorar.
A polarização política atual e a pauta das manifestações é considerada por eles como “pautas de velhos”. Aqui nasce uma poderosa provocação. O que, afinal, querem os jovens? A experiência de 1992 no “Fora, Collor”, foi frustrante. Os governos continuaram remando nas “pautas dos velhos”. A diretora do Ibope, Márcia Cavallari disse na mesma matéria: “nossas pesquisas mostram que os jovens hoje querem qualidade de vida, priorizam equilíbrio maior entre vida e trabalho, tem essa idéia forte do que mais é menos, e buscam um estilo de vida diferenciado. Então podem até aderir a causas objetivas, como a dos 20 centavos ou das escolas, mas não encontram expressões disso que eles valorizam nessas manifestações mais partidarizadas e polarizadas”.
Outras pesquisas mostram que os jovens estão mobilizados fortemente com outras causas que vão da defesa da escola pública ameaçada de fechamento em São Paulo à defesa das ciclovias”. Mas da política não, até porque a mobilização que os atinge vem pelas redes sociais e não pela televisão, pelas rádios e pelos jornais como no caso das manifestações de rua dos adultos.
Talvez para compreendermos essa equação da juventude, seja preciso ouvir o que diz a estudante de História de São Paulo, Mariah Alessandra: “a juventude de hoje não compactua com nenhum dos dois lados. Nem com esses que defendem o golpe e o impeachement, nem com os que fazem a defesa cega do governo. A juventude está empenhada em construir o terceiro campo”.
Talvez comece aí uma nova conversa política no Brasil para a geração que virá amanhã.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso