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O Peso das Condecorações

Por Wilton Emiliano Pinto *

Há um estranho e silencioso jogo acontecendo sob os céus. A maioria não percebe que está jogando, mas é nele que muitos apostam suas fichas mais preciosas. Neste jogo, as regras são ditadas pelas conquistas terrenas, pelos títulos, pelos aplausos que ecoam nos salões e pelas medalhas que brilham no peito. O peso de cada uma dessas insígnias parece, a princípio, leve como uma pluma, mas com o tempo, torna-se uma armadura pesada, sufocante.

Nos corredores da vida, encontramos aqueles que se empenham para acumular cada vez mais troféus. Trabalham sem descanso para que seus nomes sejam gravados em placas de bronze e suas imagens enfeitem paredes de honra. O problema não está na dedicação, mas na ilusão de que essas conquistas são eternas. Poucos percebem que o brilho do ouro não resiste à poeira do tempo, e que as palmas que hoje soam em exaltação, amanhã serão esquecidas no eco do passado.

A morte, tão temida e inadiável, tem o curioso poder de nos despir de tudo que um dia ostentamos. Ao cruzar essa fronteira, não levamos diplomas, medalhas ou faixas. O que permanece são apenas os rastros que deixamos na vida daqueles que tocamos. Um sorriso dado em meio à dor, uma mão estendida na escuridão, uma palavra de conforto dita no momento certo. Esses são os verdadeiros troféus, aqueles que não enferrujam, não se desmancham, não se perdem na impiedade do esquecimento.

E o que dizer dos erros que cometemos? Das quedas que tivemos? O homem, na sua limitação, costuma pedir a Deus que o perdoe por suas falhas, mas há um tipo de culpa que nem mesmo o Criador pode aliviar. Aquela que carregamos dentro de nós, ecoando como um peso invisível na consciência. Para esse tipo de fardo, não há absolvição divina que baste. O perdão precisa vir de dentro, precisa brotar da vontade de se refazer, de reparar, de seguir em frente com a bagagem mais leve.

Talvez o verdadeiro jogo da vida não esteja em colecionar glórias, mas em aprender a carregar somente o essencial. Talvez o tesouro imperecível seja apenas este: viver de maneira que, ao final, possamos partir com o coração tranquilo, sem o peso de condecorações que de nada valem no último suspiro.

* Wilton Emiliano Pinto é Contabilista, Funcionário Público aposentado e gosta de uma boa prosa.