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O Brasil tem uma multidão de superendividados por falta de Educação Financeira

O QUE É EDUCAÇÃO FINANCEIRA?

Existem pelo menos quatro campos de estudos sobre educação financeira: Corporativo, Acadêmico, Investimentos e Família.

  • Corporativo – o foco está na gestão financeira das empresas, sempre com atenção no fato do Gerente financeiro viver na realidade e não no planejado.
  • Acadêmico – é o estudo das teorias das finanças, pouco explorado nos cursos de graduação e difundido mais nos cursos de pós-graduação, MBA e afins
  • Investimentos – trabalha no sentido de orientar as pessoas para fazer o possível na constituição de uma poupança, investir em plano de previdência complementar ou seja fazer com que os recursos financeiros trabalhe pelo seu dono, que nunca deve deixar de fazer seguros, ter um plano de saúde e investir na bolsa de valores.
  • FAMÍLIA – Sobre o qual vou debruçar com enfoque na vida do cidadão e da família, seja no papel de consumidor ou empreendedor.

Esse campo de estudos deveria ser disponibilizado de forma que o público em geral tomasse conhecimento, que as famílias pudessem ter acesso a essas informações para compreender a dimensão da importância do assunto. E o poder público deveria elaborar campanhas educativas e dessa forma as empresas não precisariam fazer mutirão para limpar o nome no final do ano.

O consumidor precisa conhecer essa dinâmica porque as empresas querem vender, a mídia tradicional bate duro 24 horas/por dia, as mídias digitais não dão sossego e se o consumidor não estiver muito consciente das consequências acaba caindo na tentação e quando percebe está endividado muito acima de sua capacidade de pagamento.

Eis aí a multidão de 73 milhões de brasileiros superendividados.

Deveria ser disciplina obrigatória no currículo escolar, sob a guarda do Ministério da Educação de forma que o tema se estendesse a todas as escolas, públicas ou privadas, inclusive as administradas por igrejas e entidades filantrópicas. Mas as escolas em geral tem aversão ao tema. Há 15 anos eu disponibilizo – gratuitamente – uma Palestra de uma hora sobre Educação Financeira nas escolas, formatada exclusivamente para dialogar com a garotada mas a maioria para quem disponibilizei, recusam sem a menor cerimônia de apresentarem desculpas esfarrapadas, por falta de coragem de dizer abertamente que não tem interesse pelo tema.

No caso do consumidor e sua família é uma forma de alerta para empresas que vendem a prazo e precisam levar em conta os riscos em função do comportamento do consumidor em relação à falta de cuidados com as finanças, bem como para aplicação no dia-a-dia do próprio leitor.

Esse comportamento sobre as finanças pessoais também é levado para as empresas geridas por pessoas com esse perfil que acabam adotando critérios semelhantes na gestão das finanças dos seus negócios.

Em 76% das micro, pequenas e médias empresas, as finanças da pessoa física do dono se confunde com as finanças da pessoa jurídica. Essa prática vem dos tempos em que o cheque predominava e o talão da empresa ficava no bolso do dono. Com ele pagava-se os compromissos da empresa, despesas da casa, escola dos filhos, rodadas de chopp, pizzaria, churrascaria, viagens de férias e assim por diante.

  • Em nossos Cursos e Mentorias sobre Gestão Empresarial abordamos sempre essa questão e orientamos os titulares de empreendimentos sobre a necessidade de separar as finanças da empresa com as finanças do dono.
  • Estabelecer um valor para fazer suas retiradas conforme suas necessidades e seguir rigorosamente, pois o empresário não deveria ficar “saqueando” o caixa a qualquer tempo.
  • E a empresa precisa elaborar um rigoroso controle de fluxo de caixa semanal, mensal e pelo menos trimestral, para poder controlar na medida que os compromissos vencem, sem esquecer que lá na planilha de contas a receber precisa ser abatido o percentual de inadimplência média, com o qual não se pode confiar.

Do ponto de vista da família, a maioria das pessoas pensam que educação financeira é para ensinar ficar rico – até porque tem muita gente prometendo issomas é um conjunto de princípios que podem ser praticados no dia-a-dia, para maximizar o resultado das finanças pessoais e rendimentos familiares. Portanto não é ensinar ficar rico, mas ensinar gastar melhor o que se ganha hoje. Abordar a necessidade e a utilidade de se fazer planejamento financeiro doméstico e adequar os gastos de acordo com os rendimentos da família.

Ensinar às pessoas a diferença entre CONSUMO X CONSUMISMO e o primeiro passo é aprender separar Necessidade de Desejo.

Necessidade – É aquilo que as pessoas precisam no dia-a-dia, o essencial e portanto é uma necessidade real. Uma situação normal que contempla o básico como habitação, alimentação, vestuário, material escolar, comunicação, combustíveis e transportes, materiais de trabalho, assistência à saúde e lazer.

Em Julho de 2016, ninguém pensava ainda em leis para combater o superendividamento da população, o professor Stephen Kanitz publicou um artigo alertando sobre esse mal.

Disse que a tradição das religiões não permite incorporar algumas modernidades, situações novas com as quais os antigos não conviviam. Infelizmente não podemos criar mandamentos que eliminariam imenso sofrimento humano, que reduziriam inúmeros conflitos familiares modernos, que devolveriam paz de espírito a muitos seres humanos.

Se pudesse, eu proporia um décimo primeiro mandamento: “Jamais comprarás a prazo”. O endividamento pessoal, o crediário sem fim e as compras a prazo deturpam a condição humana. O trabalho se torna uma obrigação para saldar dívidas do consumo exagerado, em vez do contrário.

O CONSUMO DEVERIA SER A RECOMPENSA MERECIDA PELO TRABALHO BEM FEITO.

Desejo

Aquilo que as pessoas querem independente de precisar, ou seja uma necessidade psicológica.

  • Tomemos como exemplo o ato de comprar de forma exagerada ou comprar aquilo que não precisa;
  • Quando o consumo extrapola o razoável;
  • Comprar por impulso;
  • Comprar porque está na moda, porque é moderno, é sofisticado, é bonito e barato;
  • Porque é lançamento, promoção ou pior de tudo comprar porque os outros estão comprando.

Fazer extravagâncias é uma forma de consumismo e posso citar alguns exemplos presenciados:

  • Mulheres de baixa renda com reflexos no cabelo que custa entre 20 a 30% do salário mínimo;
  • Pessoas assalariadas comprando celular de R$ 3.000,00 com pagamento parcelado a perder de vista;
  • Comprando ovos de chocolate de R$ 200,00 parcelado em 12 vezes no cartão de crédito;
  • 57% dos compradores de celulares de categoria média para cima, “sofisticados” e 43% dos compradores de tênis de grife, ganham até 2 salários.
  • Jovens que ainda não tem renda comprando tênis de R$ 1.500,00 em nome dos pais, etc….

“Curta hoje, pague depois” tornou-se o novo lema do consumismo mundial, uma inversão da ética milenar de colocar o sacrifício antes do prazer.

Talvez por isso em breve seremos um povo superendividado, pendurado. Poupamos pouco, investimos menos ainda.

NÃO É À TOA QUE PARA MUITOS TRABALHAR É UM FARDO. O PRAZER VEIO ANTES.

Cuidados necessários quando for ao Supermercado

Nunca vá ao supermercado, com fome;

Não caia na tentação de experimentar produtos disponíveis para degustação;

Só leve crianças se for para fazer uma visita pedagógica, mostrando-lhes o que é certo;

Tudo que você precisa está nas gôndolas da metade da para baixo. Na parte de cima estão os produtos supérfluos, mais caros e mais chamativos.

Cuidado com as promoções, para não comprar mais do que precisa

Cuidado com a exposição casada para “atiçar” a compra:

Jogo de copos exposto ao lado da seção de sucos;

A garrafa térmica moderninha ao lado do café;

Panela de alumínio com teflon magnético ao lado dos cereais;

Molhos em geral em frente a seção de macarrão e os mais caros na parte de cima.

Observem que a seção de artigos PET está bem longe da seção de alimentos, para evitar comparação. Afinal, um pacote de 2kg de ração para cães custa o dobro de um pacote de arroz de 5kg.

Se uma compra é inadiável, pesquisar preços e se possível, peça desconto para pagar à vista. Negocie preço, prazo, juros e valor das parcelas. Troque dívidas caras por dívidas mais baratas, por exemplo, faça um empréstimo consignado para quitar dívida com cartão ou cheque especial

Nunca pague conta de loja, que tem juros de 2% com cartão de crédito que tem juros de 16%

O que você faria se estivesse endividado, negativado e sem crédito na praça?  Veja no próximo artigo.

* Jose Ribeiro é Consultor, Mentor e Palestrante desde 1994.
Graduado em Administração pela Universidade Católica do Paraná, pós-graduado em Gestão de Custos pela Faculdade de Administração e Economia do Paraná (FAE).
Autor dos livros COMO REDUZIR O RISCO DE INADIMPLÊNCIA que será lançado em Fevereiro/25 e GESTÃO DE CUSTO E FORMAÇÃO DE PREÇOS, que será lançado em Maio/25
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