NEVE VERDE DE PERVOURALSK, NA RÚSSIA SIBERIANA. (FOTO: REPRODUÇÃO / YOUTUBE /NEW DAY NEWS)

Neve verde cai na Rússia e assusta população; veja vídeo

Enquanto os moradores de Kiselyovsk, na Rússia siberiana, lidavam com a neve negra e tóxica que invadiu a cidade na primeira metade de fevereiro, a quase 2 mil quilômetros dali,na cidade de Pervouralsk, foi o verde que caiu do céu.

O principal e único suspeito de mudar a cor da neve é uma empresa de crômio, um metal utilizado na composição de ligas metálicas e corantes de várias tonalidades.

“A situação é regular para os residentes. Não deve causar preocupação. Não ameaça a vida e a saúde de adultos e crianças. Isso é Pervouralsk”, relativizou o porta-voz da Russian Chrome 1915, Vsevolod Oreshkin, ao jornal local New Day News.

“Aqui tem toda uma gama de empresas industriais. Se pegarmos amostras de neve em qualquer lugar, veremos muitas substâncias nocivas. O crômio tem uma especificidade que dá essa cor.”

De fato, a composição do crômio que apresenta tonalidade verde, o óxido de crômio III (Cr²O³), não é considerada tóxica. Em outras variações, no entanto, o elemento químico é considerado cancerígeno e pode levar a doenças nas vias respiratórias e danos permanentes se entrar em contato com os olhos.

O pigmento de crômio usado para a pigmentação amarela, que também foi visto na neve da cidade de Pervouralsk, é uma fórmula com chumbo (PbCrO4). Também altamente cancerígena, ela causa má formação nos fetos, infertilidade e problemas no sistema circulatório, nervoso e imunológico.

Segundo uma moradora local da cidade russa, no dia seguinte à mudança de cor da neve, os alunos de um jardim de infância começaram a ficar doentes. “As crianças adoeceram, tiveram tosse e suas peles ficaram vermelhas; [havia] erupções cutâneas em seus rostos. Isso é depois da caminhada, quando as capas de neve de cor amarela foram notadas”, contou Natalya Solovey ao New Day News.

Maria Popova, representante da administração da cidade, disse que análises estão sendo feitas para determinar a composição e nível de toxicidade da neve.

Neve colorida

Não é raro que a neve apresente cores exóticas. Algas chamadas Chlamydomonas nivalis podem fazer com que ela pareça rosa ou vermelha, um efeito documentado pelos cientistas desde o século XIX. Em 2018, partículas de poeira e areia do Saara também fizeram a nevar em tom de laranja na Europa Oriental.

Em 2007, no entanto, a coloração alaranjada que caiu sobre a cidade de Omsk Oblast, no sudeste da região da Sibéria, ocorreu devido a uma tempestade no Cazaquistão que fez a poluição ficar retida nessa área. A concentração de ácidos, nitratos e ferro verificada na neve foi até quatro vezes maior do que o normal.

Já a neve negra, e suas variações marrons ou acinzentadas, é carregada de carbono negro, como é chamada a fuligem criada pela combustão de combustíveis fósseis em usinas termelétricas movidas a carvão.

Principal responsável pelas emissões de carbono na atmosfera, as usinas de carvão criam um problema em dobro para o clima da Terra ao escurecer a neve da Sibéria. Isso porque o branco da neve ajuda a Terra a refletir a luz solar – então quando ela fica escura, passa a absorver a luminosidade e o calor do Sol. Com isso, a temperatura local chega a aumentar até 0,5ºC, o que é muito em um ecossistema delicado e já tão impactado pelo aquecimento global. A destruição da Sibéria coloca em risco o clima em todo o planeta.

A recorrente variação da cor da neve na Rússia está colocando sob pressão o governo de Vladimir Putin, e seu descaso pelas mudanças climáticas no planeta. Em alguns cantos, as solução foi esconder o estrago. De acordo com o Moscow Times, em dezembro de 2018, autoridades da cidade de Mysky, na região mineradora de carvão de Kemerovo, a neve branca que compunha o cenário natalino só foi obtida após a neve escura ser “maquiada” com tinta.

 

Da Revista Galileu