Mulher é agredida pelo marido no ES, não denuncia e diz que ‘ele não merece’
O G1 foi buscar explicações com uma psicóloga que atende mulheres para entender esse comportamento. Caso aconteceu em Vila Velha. Vendo a mãe sofrer, filha esfaqueou o pai.
A esposa do homem que foi esfaqueado pela filha durante uma briga do casal, em Vila Velha, disse que não vai denunciá-lo à polícia. Mesmo já tendo sido agredida outras vezes, a mulher defendeu o companheiro. “Ele não merece, é um homem muito bom. O problema dele é a cachaça”, disse. * O G1 não vai identificar o agressor nesta reportagem para preservar a vítima.
O caso aconteceu na noite desta quinta-feira (9), após voltarem de um bar. Ao ver a mãe ser agredida pelo pai, a filha adolescente, de 16 anos, golpeou o homem com uma faca, para que ele parasse com as agressões. O agressor, um montador de carros de 50 anos, levou duas facadas.
Mas o que faz uma mulher agredida não denunciar o agressor? O G1 foi buscar explicações com uma psicóloga que atende mulheres para entender esse comportamento de vítimas que, mesmo sofrendo agressões por parte dos companheiros, seguem na relação e não levam o caso à polícia.
Cristiana Cariola Travassos atende mulheres vítimas de violência doméstica e agressores em um projeto oferecido pela prefeitura de Vitória.
Segundo ela, é comum que por medo e vergonha as mulheres não façam as denúncias.
“Tem a questão de que a mulher se vê como a responsável por manter a união da família. Ela também acha que o homem vai melhorar, que ela tem que ter paciência. Há ainda a dependência financeira. Ela não tem para onde ir e acha que tem que se submeter àquilo”, disse.
Ciclo de violência
As consequências disso, segundo a psicóloga, é que a mulher perde a essência e, sem querer, pode provocar um ciclo de violência.
“Isso gera um ciclo vicioso, porque ela vai dando novas chances e a cada vez que ele agride, a agressão fica mais violenta. Começa com xingamento, daqui a pouco está batendo, daqui a pouco está matando. A autoestima cai, porque o agressor coloca a culpa na mulher, e ela começa a se esvaziar, a se anular. Não sabe mais quem é, do que gosta”, completou a psicóloga.
‘Denunciar é um dever de todos’
Para a chefe da Divisão Especializada de Atendimento à Mulher, a delegada Cláudia Dematté, em casos de violência, denunciar é um dever de todos. “A sociedade tem responsabilidade também. A gente não pode ser omisso ao ver um crime, é importante que as pessoas se posicionem”, disse a delegada.
Lei Maria da Penha
A Lei Maria da Penha existe para proteger as vítimas que sofrem agressões físicas, psicológicas, sexuais e outras violências dentro de casa.
De acordo com a delegada, desde a implantação da lei, o número de mulheres que buscam as delegacias para denunciar violência cresceu. Mas o Espírito Santo ainda ocupa a 3ª posição entre os Estados mais violêntos contra à mulher, segudo o Monitor da Violência.
E, como disse a delegada, “é um dever de todos denunciar”. Mas você sabe o que fazer ao ver ou ouvir uma mulher sendo agredida? E se você for a vítima? O G1 buscou as orientações, acesse:
Caso
Mesmo sem ter sido denunciado pela esposa, o marido foi autuado em flagrante por lesão corporal e injúria na Forma da Lei Maria da Penha e está internado sob escolta policial no Hospital São Lucas.
Já a filha, a adolescente de 16 anos, não foi autuada porque a delegada entendeu que ela agiu em legítima defesa da mãe. Os nomes dos envolvidos não foram divulgados para preservar a identidade das vítimas.
Em depoimento à polícia, a mulher e a adolescente contaram que o casal estava em um bar ao lado de casa, no bairro Cobi de Cima, quando o homem ficou com ciúmes e discutiu com a esposa, de 54 anos.
Os dois foram para casa e, segundo os depoimentos, ele começou a bater na mulher. A filha disse que gritou pedindo várias vezes para que ele soltasse a mãe.
Como as agressões não pararam, ela deu dois golpes com uma faca na barriga do pai. O homem soltou a mulher, voltou para o bar e pediu socorro.
O homem foi autuado por lesão corporal e injúria e está internado sob escolta policial em estado grave no Hospital São Lucas.
A delegada determinou o pagamento de uma fiança de R$ 1 mil, que ainda não havia sido paga até esta sexta-feira (10). Assim que receber alta, ele será encaminhado para o Centro de Triagem de Viana.