Mostra reúne imagens inéditas e raras de Senna que desvendam o homem por trás do mito
A exposição “Ayrton Senna: A última noite” reúne cem fotografias do piloto no Museu da Velocidade, no autódromo de Monza, no norte da Itália.
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Capa: pt.winkipedia.org
Internas: Ercole Colombo
A curadoria é do fotógrafo e autor das imagens, Ercole Colombo, e do escritor Giulio Terruzzi, ambos italianos e amigos do brasileiro dentro e fora das pistas.
Algumas das fotos estão sendo exibidas pela primeira vez e outras são raras, tendo sido poucas vezes publicadas em jornais e revistas. A mostra traz ainda uma entrevista em vídeo do piloto brasileiro, feita em um evento às vésperas do fatídico Grande Prêmio de San Marino de 1994.
Em 1º de maio, Senna morreu após uma colisão durante a prova em um final de semana especialmente trágico do esporte, já que o austríaco Roland Ratzenberger havia morrido e o brasileiro Rubens Barrichello ficado seriamente ferido durante os treinos livres, no dia anterior.
Elaborada em sintonia com o livro “Suíte 200, a última noite de Ayrton Senna” (2014), de Terruzzi, a mostra foi composta com base no arquivo pessoal de Colombo.
Distribuídos em salas escuras, estão momentos únicos da carreira esportiva e da intimidade do piloto, com seus rivais, amigos, família, boxes, amores, motores, pistas e torcidas.
“Não procurei apenas bela fotos. Também não houve nenhuma autocensura. Relutei apenas um pouco naquela em que vemos Ratzenberger deitado na maca. Infelizmente, já estava morto, sendo levado da pista para o centro médico. Mas não gosto de imagens de acidentes, na verdade. Ela foi necessária para contar os momentos dramáticos daqueles dias”, diz Colombo.
Homenagens como essa ao tricampeão de Fórmula 1 ajudam a manter viva uma lenda do automobilismo.
“Vou às escolas e todos me perguntam de Senna, jovens que nem tinham nascido na época. Ele deixou uma trajetória iluminada para quem vem atrás, como quem caminha lançando pedrinhas no caminho. Fiz um balanço do homem Senna no livro”, conta Terruzzi.
As fotografias cobrem a carreira de Ayrton Senna desde o começo, quando ele corria de kart, até suas últimas horas de vida.
“Uma vez, Senna bateu logo na saída, em Detroit, em 1984. Fiz a sua foto voltando com o volante na mão, que está na exposição. Uma semana depois, Senna me ligou e me agradeceu porque, pela imagem anterior, que foi publicada na revista Autosprint, descobriu-se que o acidente tinha sido causado por uma falha mecânica e não por culpa dele”, relembra Colombo.
Há uma ala dedicada só aos últimos momentos do piloto brasileiro. Estão ali a conversa do piloto com o médico da F1, Sid Waltkins, a cena dele com Niki Lauda pedindo por mais segurança nas pistas e o encontro com Rubens Barrichello, já com o braço engessado.
“Mas existem fotos de Sanna que irão ficar para sempre no cofre. Acho justo assim”, comenta Colombo.
Dois registros em especial revelam ainda um Senna inquieto. “Mostramos imagens dele estranhamente sem o capacete, momentos antes da largada, coisa que ele nunca fazia ou acontecia raramente. Foi muito difícil voltar para casa naquele dia”, lembra.
Os organizadores da mostra criaram ainda cinco painéis em grandes dimensões que retratam as arquibancadas lotadas, uma largada na primeira posição, a conversa de Senna com uma criança e o fatal muro da curva Tamburello, contra o qual ele colidiu naquele GP de San Marino.
Elas refletem a grandeza de seu talento, seu carisma e a imensidão de sua perda. Uma grande imagem está presente na seção “Água Benta”, dedicada ao piloto dirigindo no aslfalto molhado, pois parte de sua fama deriva de seus ótimos desempenhos em provas realizadas debaixo de chuva.
Em tempos de imagens digitais e em tempo real, a mostra é também uma viagem no tempo analógico das fotografias.
“Usávamos os rolinhos de filmes que tinham de ser revelados. A exposição tinha de ser perfeita. Se o diafragma da câmera estivesse um pouco mais ou menos aberto do que deveria, isso significava mandar a foto para a lixeira. Nunca sabíamos qual seria o resultado”, lembra Colombo.
Um dos postos mais impactantes da exposição é uma sala escura na qual uma janela vai deixando a luz do dia entrar aos poucos. Ao mesmo tempo, ouve-se a voz de Senna mixada com o canto dos passáros ao amanhecer. Era o alvorescer de 1º de maio de 1994, o último dia na vida de Senna.
“Quis recriar este momento e apresentá-lo ao visitante”, conta o fotógrafo.
“No final de semana em que ele morreu, houve de tudo. Ocorreu o acidente com Barrichello, depois a morte de Ratzenberger, pedaços de carroceria foram parar no público, um mecânico foi ferido no pit-stop e, por fim, houve a tragédia de Senna. Nem Alfred Hitchicock conseguiria imaginar uma trama como a daquele fim de semana.”