Menina luta pela vida entre os escombros da escola que desabou no México
Imprensa mexicana diz que se chama Frida Sofia, mas não foi possível confirmar nem localizar sua família
Uma centena de pessoas, entre membros das equipes de resgate e militares, concentram seus esforços em encontrar com vida várias crianças na escola Enrique Rebsamen, destruída pelo terremoto no México, mas na madrugada de quinta-feira, hora local, só tinham conseguido localizar uma menina, cujo nome é um mistério. A imprensa mexicana a chamou de Frida Sofia e acredita-se que tem 12 anos, embora não esteja totalmente claro. A menina, que está sob uma mesa de granito que salvou sua vida, tornou-se um símbolo dos esforços para encontrar sobreviventes. Esta é a sua segunda noite sob os escombros. O tempo é curto.
Em Enrique Rebsamen, uma escola particular localizada no sul da Cidade do México, uma das áreas mais afetadas pelo terremoto de 7,1 ocorrido na terça-feira, morreram 21 crianças e quatro adultos. Em todo o país ocorreram pelo menos 238 mortes. “Sabemos de uma menina (da escola destruída) que consta que está viva, e ela nos mostrou que há (perto dela) outras crianças vivas. Mas não sabemos a quantidade. Queremos administrar as informações com muita cautela”, disse o almirante José Luis Vergara, oficial da Secretaria, em declarações à Milenio Televisión.
“O que não sabemos é como alcançá-la (…) sem risco de colapso e sem arriscar o pessoal” de resgate, acrescentou Vergara, que coordena o resgate, para a Televisa. Horas antes, algumas equipes de resgate sob condição de anonimato afirmaram que tinham visto cinco menores vivos, outros indicavam que, com scanners térmicos, tinham detectado pelo menos três com vida. Uma fonte da Secretaria da Marinha (Semar) disse à Agência EFE que estão “muito perto” de resgatar a garota.
Mas Vergara prefere não dar esperanças. Foi possível falar brevemente com a menina, conseguiram passar água e oxigênio. “Estou muito cansada”, disse a menina, de acordo com o militar. Seu nome é um mistério porque não foi possível ouvir claramente. Nos meios de comunicação ela foi identificada como Frida Sofia, mas não foi possível confirmar nem foram localizados familiares de alguma menor com esse nome.
As equipes de resgate, sob o comando da Semar, tiveram que mudar a estratégia para se aproximar da garota. “Tivemos que mudar a estratégia para fazer alguns cortes, pois cada minuto conta, e espero que em breve possamos resgatar a menina e os outros que estão com ela”, acrescentou o militar.
Vergara detalhou que os trabalhadores estão agora tentando chegar à garota pelo alto depois de quebrar uma laje, embora tenham mantido outro acesso por onde também procuram alcançá-la. As equipes de resgate estão cerca de três metros e meio acima de Frida, que se encontra sob uma mesa de granito “e tudo indica que isso salvou sua vida”. Não tivemos contato visual com a menina, apenas pelo infravermelho e “com a voz dela”.
A remoção de escombros é cirúrgica. São medidas cuidadosamente as traves metálicas colocadas para sustentar a construção, que de dois andares foi reduzida apenas a um. A cada momento as equipes levantam os punhos, sinal para pedir silêncio que se generalizou nos desabamentos na Cidade do México. Afinam o ouvido para escutar algum sinal de vida ou se comunicar com as equipes de resgate que entraram nos escombros.
O silêncio dura até meia hora. As equipes de resgate ficam atentas, imóveis, esperando, alguns sussurrando entre si. “Estamos trabalhando em conjunto com as câmeras térmicas e unidades caninas. Às vezes, ficamos em silêncio absoluto para ouvir os sobreviventes. Eles costumam gritar ou bater nas paredes”, diz Pamela Díaz, uma padeira de 34 anos de idade que desde terça-feira trabalha no resgate.
Entre as equipes destaca-se um homem pequeno, um civil que a imprensa mexicana batizou de Jorge Houston pelo seu nome e a camisa azul em que está impressa o nome desta cidade norte-americana. Por seu tamanho é quem mais se aventurou entre os escombros. Sempre faz o sinal da cruz antes de entrar na chamada “linha de vida” que abriram entre o emaranhado de ferros e concreto. Conseguiu levar água e oxigênio à menina.
No lugar que se transformou no epicentro da tragédia está Adriana Fargo, mãe de uma menina de sete anos que, esse é o seu medo, pode estar entre os escombros. “Nenhum poder humano pode imaginar a dor que estou sentindo”, diz Fargo em um abrigo improvisado ao ar livre. Não consegue pronunciar o nome de sua filha quando perguntam por quem espera e só consegue pressionar os lábios para conter as lágrimas.
Enquanto isso, seu marido trabalha ombro a ombro com os soldados, bombeiros e equipes de resgate que retiram cuidadosamente os escombros procurando sinais de vida das crianças. Uma professora da escola particular, que não deixou o local, também chama a atenção: faz um esboço do lugar e das características do ambiente onde permanece presa a menor.
Enquanto esperam por um milagre, os vizinhos se aproximam para obter mais informações da operação de resgate por parte das autoridades. “Vi quando avisaram um pai… foi devastador”, diz Flor González, uma dentista de 42 anos que ajuda como voluntária. Até o momento, 11 crianças e pelo menos uma professora foram retiradas com vida dos escombros.
Do EL PAÍS