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Melhora do Brasil pós-Lava Jato não depende de quem pode cair, mas de quem vem depois, diz ‘Guardian’

A melhora da situação do Brasil após a Operação Lava Jato “vai depender não apenas de quem cair, mas de quem vem depois”, afirma o jornal britânico The Guardian em sua edição desta quinta-feira.

Em uma reportagem especial de três páginas, com o título ‘Será esse o maior escândalo de corrupção de todos os tempos?’, o jornal apresenta a operação Lava Jato, deflagrada há três anos e que revelou uma “vasta e intrincada rede de corrupção política e empresarial e pôs a vida de uma nação de ponta-cabeça”.

Segundo o Guardian, enquanto muitos acreditam que a operação tornará o Brasil “mais eficiente”, dirigido por “políticos mais limpos e respeitadores da lei”, existe o risco de que o processo “abale a frágil democracia” do país e abra caminho “para uma teocracia evangélica de direita ou um retorno de um governo ditatorial”. O jornal não cita nomes de possíveis novos líderes nesses cenários.

A publicação britânica acredita que o país precisava enfrentar a corrupção, que levou ao aumento da desigualdade e conteve o crescimento econômico, mas questiona se a operação Lava Jato de fato “valeu o sacrifício”.

“Ela ajudou a retirar o Partido dos Trabalhadores (PT) do comando e inaugurou uma administração que parece tão contaminada quanto, mas muito menos disposta a promover a transparência e a independência judicial”, diz o jornal.

“Há tantas acusações contra Temer e seus aliados que ele terá dificuldade de manter a Presidência até o final de seu mandato, em 2018”, acrescenta.

Michel Temer
Guardian diz que Michel Temer tem poucas chances de terminar mandato no poder

Segundo o texto, as recentes reduções do orçamento da polícia federal em 44% e do número de agentes da corporação seriam tentativas do governo brasileiro de “dificultar a operação Lava Jato”.

Desdobramentos da operação

A reportagem descreve os desdobramentos da Lava Jato desde seu início, em 2014, e como a “cultura de impunidade que por muito tempo reinou no Brasil” mudou a partir das investigações. Ela ressalta o papel do juiz federal Sérgio Moro – “um jovem ambicioso juiz” que ajudou a pressionar suspeitos através da autorização de prisões preventivas.

O Guardian também comenta que grandes empresas e políticos conhecidos foram “totalmente desacreditados” e que eleitores agora têm dificuldade “de encontrar alguém em quem pudessem confiar”. Com isso, “não só o establishment está cambaleando, mas toda a república” brasileira.

O jornal pondera que a cena política no país “é altamente vulnerável a corrupção”. “É quase impossível que um partido político consiga maioria…chegar ao poder significa vencer eleições e pagar outros partidos para formar coalizões, e as duas coisas requerem altas quantias de dinheiro”.

Reprodução
‘Era para o Partido dos Trabalhadores supostamente ser diferente. Ele foi eleito com a promessa de limpar a corrupção, mas logo foi engolido (pelo esquema)’

“Como resultado, um dos grandes prêmios na política brasileira tem sido o poder de apontar executivos de alto escalão de empresas estatais, porque cada um desses executivos poderia esperar receber milhões em propina de empresas, dinheiro que em parte seria desviado para cofres de campanha”.

“Era para o Partido dos Trabalhadores supostamente ser diferente. Ele foi eleito com a promessa de limpar a corrupção, mas logo foi engolido (pelo esquema)”, diz o Guardian.

O jornal diz que Lula conseguiu “progresso impressionante em redução da pobreza, gastos sociais e controles ambientais”, mas que pelo fato de terem sido aprovadas no Congresso com a ajuda de suborno, “essas reformas foram erguidas sobre uma areia movediça ética”.

A Lava Jato acabou ajudando a tirar o PT do poder. “Uma investigação criada para expor a corrupção acabou colocando o líder do partido mais notoriamente interesseiro do país no topo do poder”, diz o Guardian, que apresenta o PMDB como “o maior partido do país, mas que nunca teve posição ideológica ou papel de liderança, preferindo fazer acordos para apoiar governos”, “uma miscelânea de facções, de proprietários rurais conservadores e democratas urbanos a evangélicos nacionalistas e ex-guerrilheiros, cujo único terreno comum é o desejo de garantir o apadrinhamento, prestígio e propinas que vem com cargos de governo” e que esteve “envolvido em todos os casos de corrupção na história moderna do Brasil”.

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