Mar avança sobre praia de Atafona, no RJ, e ameaça engolir distrito nas próximas décadas
ONU inclui localidade entre as mais vulneráveis à elevação do nível do mar causada pela crise climática
O avanço do mar sobre a faixa litorânea de Atafona, distrito de São João da Barra, no norte do estado do Rio de Janeiro, preocupa ambientalistas, moradores e autoridades há décadas. De acordo com relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2024, a elevação do nível do oceano pode acelerar a submersão da região, que já perdeu centenas de imóveis para as águas.
A agência alemã Deutsche Welle estima que cerca de 500 edificações da região foram engolidas pelo mar nos últimos anos. A situação, apontam os especialistas, é resultado de uma combinação entre fatores naturais e intervenções humanas no curso do rio Paraíba do Sul, que deságua no município.

Foto: Andrevruas wikimedia commons / Flipar
A aposentada Sônia Ferreira, moradora de Atafona há mais de quatro décadas, testemunhou de perto a transformação da paisagem. “Eu não tinha vista do mar quando a casa foi construída. Eu tinha dois quarteirões, três quarteirões de casa na minha frente, depois uma avenida Atlântica asfaltada, um calçadão e, depois, um monte de areia até chegar à água. Essa era a minha realidade há 45 anos, quando a gente construiu a casa. Então isso tudo foi indo, isso tudo foi acabando, e o mar foi chegando, foi chegando, até que, em 2019, ele tombou exatamente a curva aqui do meu terreno”, relatou à reportagem.
Segundo o jornalista Gustavo Basso, há mais de 70 anos a localidade perde, em média, cinco metros de solo por ano. Atafona está situada no delta do Paraíba do Sul, rio que nasce em São Paulo, percorre Minas Gerais e atravessa o território fluminense até alcançar o litoral. A interferência humana ao longo da bacia hidrográfica é apontada como fator de aceleração da erosão costeira.
A região abriga cerca de 943 barragens que, além de comprometerem a vazão do rio, reduzem drasticamente o transporte de sedimentos até a foz. Esse desequilíbrio — entre a retirada de areia pelas ondas e a escassez de sedimentos trazidos pelo rio — tem fragilizado a costa de maneira crítica. A elevação do nível do mar, impulsionada pelo aquecimento global, agrava ainda mais o quadro.
O relatório da ONU menciona Atafona como uma das 31 localidades mais ameaçadas do mundo pela elevação dos oceanos. A projeção é de que, até 2050, o mar avance mais 21 centímetros na região, em média.
Apesar das propostas de remoção de moradores e realocação das famílias em áreas mais seguras, a resistência local persiste. Segundo a reportagem, muitos moradores e pescadores não demonstram interesse em abandonar a área, mesmo diante do risco iminente.