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Harpia é a maior águia do mundo, chegando a 9kg de peso e 2,2m de envergadura. - Foto: Arquivo/Unemat

Maior águia do mundo, harpia já perdeu mais de 40% da sua área de habitat

Podendo chegar a 9kg de peso e 2,2m de envergadura, o animal é carnívoro e ocorre em florestas em bom estado de conservação.

O fato das harpias, aves também conhecidas no Brasil como gavião-real, estarem perdendo habitat ao longo das florestas tropicais da América Central e do Sul já é conhecido por cientistas. Mas a extensão e distribuição dessa perda são assuntos que ainda não foram bem documentados por pesquisadores. Essa demanda foi abordada em estudo recente, publicado na revista internacional PLOS ONE, e os resultados são surpreendentes.

A Harpia é a maior águia do mundo, chegando a 9kg de peso e 2,2m de envergadura. O animal é carnívoro e ocorre em florestas em bom estado de conservação.

Determinado a aprender mais sobre essa ave, o professor de Engenharia Florestal da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Everton Miranda, especialista em predadores, notou que a distribuição das harpias vinha se reduzindo paulatinamente. “Se nada for feito, é uma questão de tempo até que a distribuição da espécie esteja restrita somente à Amazônia”, afirmou.

O estudo foi desenvolvido por pesquisadores da Unemat, câmpus de Alta Floresta, em colaboração com cientistas da UFMT, e instituições de Israel, Inglaterra e Estados Unidos, e mostrou que a perda da distribuição da espécie já chega a mais de 40%.

Coleta de dados – Dadas as dificuldades e custos de se estimar apropriadamente a distribuição da espécie em tempo real, Miranda viu nas bases de dados dos passarinheiros – que são os observadores de aves – uma oportunidade para coletar dados sobre a distribuição dessa espécie elusiva. “Nós selecionamos as bases de dados dos observadores de aves, em particular o Wikiaves, como um caminho para estudar esse fenômeno, já que avistamentos da espécie são comuns em certas regiões onde ela ainda ocorre”, explica Everton Miranda.

Os pesquisadores coletaram ainda dados sobre a presença de florestas e a densidade populacional humana de cada localidade onde os registros ocorreram. Naturalmente, baixas densidades populacionais e a presença de florestas foram os principais fatores determinando a chance de uma área ainda conter harpias. “Em áreas de baixa densidade populacional humana e grande cobertura florestal, nossos modelos indicam a presença de harpias” explica Miranda.

Essas áreas estão principalmente concentradas na Amazônia. Cerca de 93% da distribuição atual da harpia se encontra nessa região. Porém, o pesquisador explica que, apesar de ser considerada uma extensa fortaleza da conservação, para as harpias a Amazônia tem diversas fragilidades: “A região amazônica tem três problemas principais: a degradação de habitat pelo corte seletivo de madeira, que derruba as árvores gigantes que a harpia usa para construir seus ninhos; as terras indígenas, que cobrem 27% da região, onde as harpias são capturadas e mortas para o uso de suas penas”.

Mapa do território de ocorrência da espécie na América Latina. – Foto de arquivo.

Para piorar, há a expansão do desmatamento no sul e sudeste da Amazônia: “Na região do Arco do Desmatamento, além das duas ameaças já mencionadas, a floresta está constantemente sendo carbonizada para dar espaço ao pasto. As harpias já desapareceram da maior parte dessa região” completa o pesquisador. Os outros 7% da distribuição das harpias estão divididos em outras regiões, como a América Central, alguns enclaves florestais no Cerrado, e a Mata Atlântica.

Agora, os pesquisadores estão começando a propor soluções criativas para o problema “Uma área do estado de São Paulo, na serra do mar, ainda contém grandes extensões florestais dentro dos parques. Nessa área, já não há registro de harpias há muitos anos, embora ainda haja abundância das suas presas”, explica Miranda. “Esse espaço representa a possibilidade de reintrodução da espécie nessa região”. No estudo também participaram Jorge F. S Menezes, Camila C. L. Farias, Charles Munn e Carlos A. Peres.

 

 

 

Com informações de Danielle Tavares | Assessoria/Unemat