Maia já inicia montagem de cenário caso queda de Temer se concretize
Os planos são os de manter a equipe econômica e trocar os atuais auxiliares peemedebistas no Planalto, incluindo o chefe da Justiça. PSDB aumenta o tom do desembarque na Esplanada
O país convive com um governo que conta os votos e luta pela sobrevivência e outro que, embora sem reuniões explícitas para tal, surge no horizonte como realidade em um curto espaço de tempo. Mesmo com todas as negativas públicas de que esteja atuando como conspirador, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já vê mapeado quem estará ao seu lado caso se concretize, de fato, a queda do presidente Temer. Nos dois polos de poder, sinais distintos. A equipe econômica fica, o núcleo palaciano, acrescido do Ministério da Justiça, muda.
Em relação à equipe econômica, nenhuma novidade. O atual presidente da Câmara não mexerá em Henrique Meirelles na Fazenda, em Ilan Goldfajn no Banco Central e nem em Pedro Parente na Petrobras. Dificilmente promoverá mudanças na Caixa Econômica ou no Banco do Brasil. Um posto que deve sofrer alterações é no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), já que Maia não tem uma boa relação com Paulo Rabello de Castro.
Redes sociais
Maia também reforçou, em postagens nas redes sociais ontem, que o país precisa avançar nas reformas estruturantes, não bastando apenas a conclusão da reforma trabalhista. Para o presidente da Câmara, é fundamental a retomada da tramitação da reforma da Previdência. Outros correligionários dele, contudo, afirmam que Maia precisa completar a travessia, mas que a mudança nas regras de aposentadoria só terão condições de ser aprovadas pelo futuro presidente, que tomará posse em 1º de janeiro de 2019.
Embora seja pouco provável que vá exercer algum cargo direto no governo federal, o diretor-presidente do Insper, Marcos Lisboa, é um dos principais interlocutores de Maia em política econômica. Secretário de política econômica do Ministério da Fazenda entre 2003 e 2005, nos anos em que a pasta era comandada pelo petista Antonio Palocci, Lisboa já passou pelo Itaú e pelo Instituto de Resseguros do Brasil (IRB). O presidente da Câmara também dialogou com desenvoltura com Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos e mulher de Lisboa.
Destaques
Alguns outros nomes também terão papel de destaque neste processo. Um deles é o prefeito de Salvador, ACM Neto. Um dos principais caciques da legenda no plano nacional, nunca escondeu o desejo de concorrer ao governo da Bahia no ano que vem, após ressuscitar o carlismo no estado. Mantém um contato direto com Brasília e, quando estourou a crise da JBS, era visto praticamente toda semana no Congresso, negociando a posição do DEM ao lado do presidente nacional da legenda, senador José Agripino Maia (RN). Embora de maneira menos contundente que o senador Ronaldo Caiado (GO), que defendeu o desembarque imediato do governo, ambos sempre pregaram um descolamento da gestão Temer.
É fato que a ascensão de Maia representa uma pedra nos planos futuros de Caiado. Há um bom tempo, o senador goiano pleiteia ser o nome da legenda para concorrer ao Planalto. “Tudo bem, ele agora pode ser o nosso melhor candidato ao governo de Goiás”, provocou um correligionário. “Da mesma forma, Mendonça Filho, que deve continuar no cargo de ministro da Educação, virou pule de 10 para concorrer ao governo de Pernambuco”, disse o mesmo parlamentar demista.
No PSDB, a interlocução preferencial, além dos cabeças-pretas da Câmara, será com o presidente ainda interino da legenda, Tasso Jereissati (CE). O senador elevou nos últimos dias a pressão pelo desembarque e os elogios ao atual presidente da Câmara. “Ele (Maia) tem condições, até pelo cargo que exerce como presidente da Câmara, de juntar os partidos ao redor de um nível mínimo de estabilidade do país”, elogiou.
A tropa de choque
Quem são as pessoas que terão papel estratégico se o presidente da Câmara assumir o Planalto:
ACM Neto
Prefeito reeleito de Salvador, ACM Neto, herdeiro do carlismo, mas com um estilo mais soft que do avô, é um dos principais nomes do DEM no cenário nacional. No auge da crise, passou a vir praticamente toda semana a Brasília para medir a temperatura política e calcular os próximos passos do partido. Com a ascensão de Maia, tornando-se o nome natural da legenda para o Planalto em 2018, ACM Neto consolida-se como candidato ao governo da Bahia no ano que vem.
José Agripino Maia
Presidente nacional do DEM, senador, foi candidato a vice-presidente na chapa de Geraldo Alckmin em 2006. Também citado na Lava-Jato, defendeu a proximidade com o governo Temer mas, tão logo a crise da JBS eclodiu, começou a falar em distanciamento do Planalto. Não tão radical quanto do senador Ronaldo Caiado (GO), mas alinhou-se ao PSDB do Senado na defesa de um desembarque do governo. Está no quarto mandato como senador pelo Rio Grande do Norte.
Tasso Jereissatti
Presidente interino do PSDB, o senador cearense foi um dos cotados para substituir Michel Temer quando estourou a crise da JBS e as delações do empresário Joesley Batista. Acabou assumindo a direção do partido, ainda que de forma interina, após as denúncias envolvendo Aécio Neves (MG). Mas Tasso passou a ser visto como o principal interlocutor do tucanato no Congresso e, nos últimos dias, intensificou o discurso do desembarque do PSDB do governo Temer.
Rubens Bueno
Está no quarto mandato de deputado federal pelo Paraná, além de ter sido prefeito de Campo Mourão (PR) nos anos 1990. Foi líder do PPS durante o governo Dilma e um dos defensores do impeachment da petista. Defendeu o apoio ao governo Temer, mas demonstrou desconforto com as sucessivas denúncias de ministros. Quando chegou a crise de Joesley, apoiou a decisão de Roberto Freire em entregar o cargo de ministro da Cultura. Estava na comitiva de Maia na viagem a Buenos Aires.
Marcos Lisboa
Uma das pessoas mais próximas de Maia no debate econômico, é o atual diretor-presidente do Insper. De 2006 a 2013 foi diretor-executivo e vice-presidente do Itaú-Unibanco. Foi secretário de Política Econômica da Fazenda de 2003 a 2005, durante a gestão Palocci. Lisboa foi professor-assistente de economia na FGV entre 1998 e 2002 e, anteriormente, como professor-assistente na Universidade de Stanford, de 1996 a 1998. É Ph.D. em economia pela Universidade da Pensilvânia.
Juras de lealdade
Apesar de ter o nome cotado para assumir o cargo de presidência da República até 2019 — em caso de saída de Michel Temer — o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) se coloca como aliado do peemedebista até o fim. “Eu aprendi em casa a ser legal, a ser correto e serei com o presidente Michel Temer sempre”, disse o parlamentar ontem, em Buenos Aires. O deputado viajou à capital argentina para participar do encerramento do Fórum de Relações Internacionais e Diplomacia Parlamentar. Maia reiterou que, apesar de não ser seu papel defender o presidente, não mudará sua posição: “Eu sou presidente da Câmara. O meu partido e eu somos aliados do presidente Michel Temer, apesar de toda a crise. Eu disse ao presidente do meu partido no primeiro dia da crise que, se acontecesse alguma coisa, o DEM deveria ser o último a desembarcar do governo”, frisou. Mais tarde, no Twitter, o democrata escreveu que é preciso “ter tranquilidade e prudência neste momento”. Agripino Maia (RN), presidente da legenda, também se manifestou em apoio a Temer. Disse que não vai “precipitar” um eventual afastamento do peemedebista. Ele afirmou que, caso a denúncia seja aceita pela Câmara, e Temer, afastado, o DEM vai apenas seguir o que determina a Constituição e “manter seu compromisso com o país”. Nesse caso, Maia assumiria o cargo por até 180 dias até que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgasse o caso. As informações são do Correio Braziliense.