Lends of Music: Video Clip Morris Albert > Feelings (Legendado).
Feelings – Morris Albert (1975)
A música foi composta em 1973, mas em 1975 “Feelings” ganhou as paradas de sucesso do mundo inteiro.
Vivíamos, aqui no Brasil, a época de ouro dos “falsos importados”.
Quem foram eles?
Eram cantores brasileiros que cantavam em inglês e, que vez por outra, até fingiam ser estrangeiros.
Muitas canções desse período fizeram sucesso no Brasil e nos países vizinhos, como “Tell Me Once Again” do Light Reflections, “My Mystake” do Pholhas, “Don´t Say Goodbye” com um Chysthian pré-sertanejo, “Don´t Let Me Cry” com Mark Davis, mais conhecido como Fábio Jr. e muitas outras. Porém, nenhuma alcançaria o sucesso da composição de Morris Albert, chamada“Feelings”.
Morris Albert
Nasceu em São Paulo,1951 e foi batizado como Maurício Alberto Kaisermann. Neto de ingleses, afirma que teve muita influência dos Beatles, Johnny Rivers e Antônio Carlos Jobim. Fundou e participou de diversos conjuntos musicais nos anos 1960, que só se apresentavam com repertório em inglês.
Seu conjunto tocou na inauguração da cervejaria Canecão, casa de shows famosa no Rio de Janeiro.
Muitos grupos cariocas e paulistas faziam a mesma coisa na época.
Os jovens queriam ser Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan ou Elvis.
Indo além, ao redor do mundo, muitos grupos e artistas isolados começaram a compor e gravar em inglês:
Wallace Collection (Daydream) era belga;
Yellowstone & Voice (Philosopher) e Jacky Jones (Take My Heart) eram italianos;
The Shocking Blue (Venus) era holandês;
Junior (Excuse Me, Give Me a Second Chance) era espanhol e
Demis Roussos (Ever Forever and Ever, etc.), um egípcio, criado na Grécia.
Logo, para um jovem bilingue como Morris Albert, escrever canções em diretamente em inglês era muito natural.
Feelings foi composta a partir de uma paixão platônica de Maurício por uma carioca – ele tinha 19 anos e ela 30.
Mas o problema não era a diferença de idade: ela era uma dama da sociedade muito comprometida e conhecida.
Morris crê que ela sabe da homenagem. Apesar da insistência da imprensa, ele nunca revelou seu nome.
A música foi composta por ele -na maior fossa -, em São Paulo, numa única madrugada. Em 1973, gravou seu primeiro LP para o selo Beverly, ligado a Copacabana discos e Feelings entrou de última hora.
No compacto que antecedeu o LP, a ser divulgado nas rádios, Feelings era Lado B, “Woman” era a música de trabalho.
Os arranjos, muito elogiados no exterior, são do maestro Waldemiro Lemke (1924-2010), com a base do conjunto Os Carbonos e piano de Mário Casali.
Ele não esperava sucesso, só queria expressar o amor impossível – e conseguiu.
A composição foi inserida na trilha sonora internacional da novela Corrida do Ouro, da TV Globo, exibida entre 1973 e 1974. A música ganhou o mercado latino e uma versão chamada “Sentimientos” foi lançada (Disco de Ouro no México), alcançando o mercado americano em seguida.
A interpretação sincera – com inglês impecável na pronúncia e vocal – foi tão marcante, que até hoje, nos Estados Unidos, pensam que Morris Albert é americano. Recebeu Discos de Ouro no Brasil, Estados Unidos e pela Europa.
Foi cantada em shows por Frank Sinatra e Elvis, gravada por Nina Simone, Perry Como, Johnny Mathis, Andy Williams e Dionne Warwick e Isaac Hayes em dueto. Orquestras ao redor do mundo fizeram o mesmo.
Nos anos 80, a atriz Michelle Pfeiffer cantou-a no filme Susie e os Baker Boys (The Fabulous Baker Boys, 1989).
Recentemente, foi gravada uma versão punk pela banda Offspring.
Em 2004, por um elegante Caetano Veloso no disco A Foreign Sound.
Mas ter criado um standard da música mundial teria um preço.
A Acusação de Plágio
Em 1988, uma corte da Califórnia declarou que Fellings era plágio de uma obscura obra chamada “Pour Toi”, composta em 1956 por um desconhecido Loulou Gasté para um anônimo cantor Line Renaud.
Morris afirmou, em sua defesa, que as melodias eram até semelhantes, mas que nunca havia sequer ouvido falar dela. Perdeu a ação na corte americana.
Mas o mundo musical sabe dos oportunismos que cercam as alegações de plágio.
Em 1977, após turnê mundial, lotou o Maracanãzinho ao som de Feelings e dois novos clássicos compostos por ele: “She´s My Girl” e “Conversation”.
Nos anos 1980, ainda alcançaria as paradas de sucesso com “Do You Miss Me”, uma bela canção.
Em 2004, já morando na Itália, veio ao Brasil para apresentações em várias cidades e lançar disco novo. Em entrevista concedida à revista Isto É, afirmou que, apesar de morar fora do país, nunca trocou de passaporte e que se sente um compositor brasileiro. A declaração pode parecer extravagante, mas ele tem razão.
Na França, alguém se atreve a dizer que, o armênio de nascimento, Charles Aznavour não é um compositor francês?
Ives Montand (1921-1991) era italiano; Adamo, idem.
Jacques Brel (“Ne Me Quite Pas“) é belga.
A Geléia Sonora Brasileira
A música brasileira sempre recebeu a influência externa.
É o que é hoje porque soube aproveitar da influência estrangeira e transformá-la em produto 100% nacional.
Do contrário, tocaríamos chocalhos e bateríamos tambores com os índios.
Apenas para ilustrar.
Ernesto Nazareth compôs tangos e valsas, Chiquinha Gonzaga também.
Ivon Cury (1928-1995) cantava, essencialmente, em francês.
A partir dos anos 40, o Brasil foi invadido pelo bolero – que muito contribuiu para o nosso samba-canção. Do bolero à brasileira vieram Dolores Duran (1930-1959), Ângela Maria e outras.
Dick Farney (1921-1987), exímio pianista de jazz, custou a gravar em português – só cantava em inglês.
O mesmo jazz americano influenciou nosso samba, derivando na bossa nova – modernizando para sempre a música brasileira e a própria música americana, em retorno.
Nos anos 1960, Caetano Veloso no exílio compôs “London, London”, que é uma jóia da nossa música. O mesmo faria Gilberto Gil com “Crazy Pop Rock”. São estrangeiros por isso?
A maior dupla de compositores brasileiros – Roberto e Erasmo – é, ao mesmo tempo, fã de Cauby Peixoto, de rock, samba e bossa nova.
Nossa música popular é a melhor do mundo pela mistura de influências que se permitiu ter. E essa mistura permanece até hoje.
Assim, Morris Albert é um compositor brasileiro que, juntamente com Antônio Carlos Jobim e Ivan Lins, são os autores brasileiros mais executados e gravados no mundo.
Feelings é MPB – sem polêmica, sem patrulha.
Nota Fora da Pauta
Nota 1 – Morris Albert nasceu num 7 de setembro, dia de nossa independência.
Por Jacy Dasilva – Phonopress