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© Valter Campanato/Agência Brasil

Inflação reduz consumo de alimentos em 58% dos lares brasileiros, aponta Datafolha

Pesquisa mostra que maioria da população precisou mudar hábitos para enfrentar alta de preços; governo Lula é apontado como responsável por aumentos

O impacto da inflação no orçamento familiar tem levado 58% dos brasileiros a reduzir a quantidade de alimentos comprados, segundo levantamento do Instituto Datafolha divulgado nesta segunda-feira (14). Entre os cidadãos com menor renda, esse índice é ainda mais expressivo, atingindo 67%.

O estudo revela que 8 em cada 10 entrevistados adotaram alguma medida para lidar com o aumento do custo de vida. Entre as mais frequentes estão deixar de comer fora de casa (61%), trocar a marca de café por uma mais barata (50%) e diminuir o consumo da bebida (49%).

A pesquisa foi realizada com 3.054 pessoas com 16 anos ou mais, entre os dias 1º e 3 de abril, em 172 municípios de todo o país. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Dificuldade no abastecimento doméstico

Um quarto dos entrevistados afirmou ter menos comida em casa do que o necessário. Para 60%, a quantidade é considerada suficiente, enquanto 13% relatam ter alimentos em excesso. Esses números não registraram variação significativa em relação à última medição, realizada em março de 2023.

Além das restrições alimentares, muitos brasileiros reduziram o consumo de água, luz e gás (50%), buscaram novas fontes de renda (47%) e cortaram a compra de medicamentos (36%). Também foi relatado o adiamento de dívidas (32%) e o não pagamento de contas básicas (26%).

Percepção política e responsabilização

A pesquisa mostra correlação entre posicionamento político e percepção sobre as causas da inflação. Eleitores de Jair Bolsonaro (PL), por exemplo, são os que mais afirmam ter adotado medidas de contenção de gastos. Entre os simpatizantes de Lula (PT), os números são mais baixos.

Para 54% dos entrevistados, o atual governo tem grande responsabilidade pela alta dos preços dos alimentos. Outros 29% acreditam que o Planalto tem alguma culpa, e apenas 14% isentam a gestão Lula. Mesmo entre os que declaram voto no presidente, 72% atribuem a ele parte da responsabilidade.

A avaliação do governo melhorou levemente em comparação à pesquisa anterior, de dezembro, com 29% de aprovação (ante 24%), mas a reprovação permanece elevada, em 38%.

Entre as medidas anunciadas para conter a inflação, está a isenção do imposto de importação sobre determinados produtos, embora os efeitos práticos ainda não tenham sido sentidos pela população.

Culpados pela alta de preços

A pesquisa também mediu a percepção da população sobre os fatores que impulsionam os preços. Além do governo federal, a crise climática, os conflitos internacionais, a situação econômica dos Estados Unidos e a atuação dos produtores rurais foram considerados responsáveis em diferentes graus.

Entre os brasileiros que vivem com até dois salários mínimos, 55% apontam o governo e 54% os produtores rurais como grandes responsáveis. Já entre os que têm renda superior a dez salários mínimos, esses índices caem para 41% e 28%, respectivamente.

Grupos de maior renda também atribuem menos peso às guerras internacionais (40%) e à crise nos EUA (36%) do que as demais faixas da população.

Dados do IBGE confirmam aceleração da inflação

Dados recentes do IBGE mostram que a inflação acumulada em 12 meses até março chegou a 5,48%. No mês, o IPCA foi de 0,56%, com forte influência do grupo alimentação e bebidas, cuja alta acelerou de 0,70% em fevereiro para 1,17% em março.

Entre os itens que mais pressionaram os preços estão o tomate (+22,55%), o ovo de galinha (+13,13%) e o café moído (+8,14%). Em 12 meses, as respectivas altas acumuladas são de 0,13%, 19,52% e 77,78%.

Especialistas apontam causas diversas para esses aumentos. No caso dos ovos, pesaram o retorno às aulas, as exportações estimuladas por surtos de gripe aviária nos Estados Unidos e o calor extremo, que prejudica a produção nacional. Já os preços do café foram impulsionados por problemas na safra e aumento das cotações internacionais. No caso do tomate, a oferta menor no verão também contribuiu para a disparada dos preços.

Expectativas para a economia

De acordo com o mesmo levantamento, 55% dos brasileiros avaliam que a situação econômica do país piorou nos últimos meses — o maior índice desde o início do terceiro mandato de Lula.

(Com Folhapress)