INFLAÇÃO E POPULARIDADE – Por Vivaldo Lopes

Por Vivaldo Lopes

Um dos principais legados deixados pelo Plano Real foi que a sociedade passou a tomar como valor nacional a estabilidade econômica e a inflação sob controle. A percepção popular compreende que a moeda nacional estável tem valor econômico e social, produzindo benefícios para todos, especialmente para as classes de renda menor que não têm ferramentas para se defender dos efeitos nocivos da inflação alta. A sociedade tornou-se a grande guardiã da moeda nacional, da inflação controlada e da estabilidade econômica. Cobram, por conseguinte, do executivo federal, qualquer que seja sua orientação ideológica, o controle da inflação, como condição sem a qual a qualidade de vida sofrerá deterioração. A alta nos preços adquiriu potencial para elevar e derrubar a popularidade do presidente da república.

O tripé de sustentação da arquitetura do Plano Real era o equilíbrio fiscal (contas nacionais equilibradas), metas de inflação (inflação sob controle) e câmbio flutuante (moeda nacional estável). Ao longo das três décadas da implantação do plano que tirou o Brasil da hiperinflação e estabeleceu as condições para o crescimento econômico, a variável equilíbrio fiscal é a que ainda apresenta mais instabilidade e dor de cabeça até os dias atuais. Nesse período, o câmbio apresenta baixa volatilidade e a inflação, salvo em anos atípicos, ficou em patamares civilizados, dentro ou próximo da meta estabelecida. Em 2024 vai ficar próximo de 4%, dentro da margem de variação da meta de 3%.

No entanto, mesmo com indicadores econômicos favoráveis, como taxa de desemprego de 7,1% e crescimento do PIB próximo de 3%, as recentes pesquisas de opinião demonstram que a percepção geral é que a inflação não parece estar totalmente controlada, sendo motivo de preocupação das famílias, notadamente as mais pobres.

Boa parte dos economistas e analistas listam como um dos ingredientes que levam a essa percepção pessimista  o aumento dos preços dos alimentos, alguns itens de primeira necessidade e de serviços essenciais. Tais preços são mais facilmente notados pelas famílias a cada ida ao supermercado, viagem, contratação de alguns serviços ou aquisição de bens não duráveis.

Outro fator que os especialistas atribuem ajudar a aumentar a percepção de preços elevados são as constantes reclamações do Presidente Lula contra o Banco Central e a manutenção da taxa básica de juros em níveis elevados. Transmite à população a falsa sensação de que a inflação está alta porque os dirigentes do Banco Central simplesmente não querem reduzir os juros no país, deixando de lado outros fatores que impulsionam a inflação. As queixas não produzem nenhum efeito sobre a decisão colegiada da diretoria da autoridade monetária e ainda dá mais holofote à alta dos preços. Colaboram para a formação da sensação popular de que a inflação parece estar mais alta do que realmente está. Afinal, a inflação atualmente está em 3,93% ao ano, dentro da banda de variação da meta, que pode ir até 4,5%.

Ao longo do mês de junho, quando o Brasil comemora trinta anos do Plano Real, em diversas entrevistas, documentários e debates, seus principais idealizadores e executores repetem que a autonomia do Banco Central e o sistema de metas de inflação sempre foram componentes relevantes para manter a inflação sob controle, criando condições para o país enfrentar outros grandes desafios estratégicos como erradicar a pobreza, avançar na educação, ter crescimento sustentável e alcançar o status de economia desenvolvida.

*Vivaldo Lopes, economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA- Gestão Financeira Empresarial pela FIA/USP ([email protected]).

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