HOSPITAL SÃO BENEDITO Saúde economiza cerca de R$ 100 milhões com o fim da judicialização na área de neurocirurgia
Com o funcionamento do Hospital Municipal São Benedito em Cuiabá, desde julho do ano passado, acabou a judicialização na saúde para os procedimentos cirúrgicos de ortopedia e neurocirurgia em Mato Grosso. O fim das demandas judiciais, além de zerar a fila represada da Central de Regulação, com cerca de 2.300 procedimentos realizados, significou, também, uma economia de milhões de reais para os cofres do Estado e do Município.
Calcula-se que em 2014 o Estado pagou R$ 98 milhões para cumprir com os processos judiciais. Em 2015, o valor caiu, mas estima-se que os gastos foram de pelo menos R$ 40 milhões. Tais recursos foram bloqueados pela Justiça nas contas do Estado – para atender pacientes do interior – e também do Município – nos casos de pacientes da Capital – para atender a ações propostas pela Defensoria Pública em favor daqueles que necessitavam urgentemente fazer cirurgias ortopédicas e neurocirúrgicas.
Os valores bloqueados pela Justiça baseiam-se em orçamentos apresentados pelos hospitais e clínicas e que levam em conta honorários médicos, a tabela da diária hospitalar e materiais usados (incluindo medicamentos) na cirurgia. Como os casos apresentados eram urgentes, muitas vezes sob o risco de morte do paciente, ocorria de forma célere à autorização da Justiça para a execução dos procedimentos requeridos.
Para fins comparativos, em 2014, apenas em um caso foram bloqueados das contas do governo do Estado em torno de R$ 1,5 milhão para um procedimento neurocirúrgico. O custo do mesmo procedimento no São Benedito sai por R$ 5,250 mil, uma diferença de 2.857%. “O São Benedito oferece de forma totalmente gratuita, um serviço de alta qualidade. Com o custo de uma cirurgia que era feita em cumprimento à medida judicial, realizamos 200 cirurgias no São Benedito”, diz o prefeito Mauro Mendes.
Em outra cirurgia na área de ortopedia – artrodese cervical posterior – foram bloqueados R$ 221 mil (divididos entre o Estado e o Município) para a realização do procedimento. Nos casos de procedimentos neurocirúrgicos, os valores bloqueados para procedimentos, em média, variavam de R$ 450 mil a R$ 730 mil, mas, caso ocorresse alguma complicação no decorrer do atendimento, o custo poderia dobrar ou até mesmo triplicar.
“Adimplemento do tratamento”
O levantamento aponta outro caso cujos valores bloqueados alcançaram R$ 2,074 milhões. Foram acionados o Estado e o Município para custear a realização de procedimentos em uma paciente de Cuiabá em um hospital particular da Capital. Inicialmente, em abril de 2014 foram bloqueados R$ 256 mil para uma cirurgia de hidrocefalia. Em julho, novo bloqueio, de R$ 1,200 milhão para cobrir a realização de neuroendoscopia e microcirurgia tumor intracraniano. Posteriormente, foi feito novo bloqueio de R$ 618 mil para “adimplemento do tratamento”, conforme diz o processo.
A equipe da neurocirurgia do São Benedito faz em média 40 cirurgias por mês a um custo de R$ 210 mil. Pelo contrato, o valor pago refere-se à produção, ou seja, paga-se apenas por aquilo que é realizado. O valor unitário de cada cirurgia, de R$ 5,250 mil, inclui o pré e o pós operatório que abrange exames, o procedimento cirúrgico e retaguarda na UTI e na enfermaria (cerca de uma semana), o que totaliza, na média, em torno de 10 dias. Em geral, a equipe é composta por dois neurocirurgiões, um anestesista, um instrumentador, uma enfermeira circulante e mais um técnico de radiologia, se forem usadas imagens dentro do centro cirúrgico.
“A vida não tem preço. Antes, toda a semana morriam pacientes, vítimas de aneurisma e tumor cerebral. Eram pacientes que estavam na fila à espera da cirurgia. Com o funcionamento do São Benedito, zerou a demanda para estes casos. Estes recursos, que eram necessários para garantir o atendimento a estes pacientes, podem ser usados agora em programas de saúde e para o fortalecimento de hospitais regionais no interior, o que ajuda a reduzir a demanda por serviços na Capital”, diz o médico Jorge Lafetá, diretor-geral da Empresa Cuiabana de Saúde Pública (ECSA), responsável pelo gerenciamento do hospital.
No São Benedito, os pacientes conseguem a internação para procedimentos de alta complexidade sem necessidade de liminares da Justiça para conseguir o tratamento. “Antes, mesmo com a realização da cirurgia feita com a intervenção judicial, após o procedimento, muitas vezes o paciente não tinha um acompanhamento. Em nosso hospital, além da cirurgia, o paciente tem todo um acompanhamento pós operatório, e a aprovação pelo atendimento é demonstrada nas pesquisa feitas com pacientes e acompanhantes que atinge um índice de 99% de satisfação”, diz o diretor Jorge Lafetá.
Conforme o diretor técnico Huark Douglas Corrêa, os resultados alcançados pelo hospital estão acima da média nacional, acima do que é preconizado. “Operar pacientes no tempo adequado diminuiu o impacto social e econômico e isso não tem preço. O paciente, quando chega, não está em com a situação agravada, já que não precisou esperar pelo trâmite judicial. Ele pode ter uma resposta melhor e mais rápida e voltar ao convívio familiar sem sequelas”, afirma o diretor.
A excelência dos serviços prestados pelo São Benedito, de forma gratuita, pelo SUS, tornou o hospital referência em todo o Estado. No início das operações, a maior parte dos atendimentos – aproximadamente 58% – era para moradores de Cuiabá. Hoje, de acordo com o diretor Huark Corrêa, a situação se inverteu e dos pacientes atendidos, de 62% a 63% são do interior do Estado.
Acidentes de trânsito
Uma pesquisa realizada no Hospital São Benedito entre agosto de 2015 e fevereiro de 2016 mostrou que o principal motivo das internações são acidentes de trânsito. De 924 pacientes internados, 30,6% eram mulheres e 69,4% homens. Quanto ao motivo da internação, 36,5% referiam-se a acidentes de trânsito (dos quais, 86,5% correspondiam a acidentes de moto, 6,8% acidentes de carro, e 6,7% atropelamentos); 29,8% na área da neurologia (aneurisma e tumores); 19,9% por causa de acidentes domésticos; 8% acidentes no trabalho; e 5,8% em atividades voltadas ao lazer. Em relação à idade, o maior grupo atendido está na faixa etária de 30 a 59 anos, com 55%. A faixa de 0 a 15 anos atendeu 1% dos pacientes, de 16 a 29 anos, 23%, e acima de 60 anos, 21%. O índice de satisfação foi de 89,3% (ótimo), 10,1% (bom), 0% (indiferente), 0,3% (regular) e 0,3% (ruim).
Próteses
Para os cerca de 300 pacientes que ainda estão à espera de procedimentos de ortopedia de alta complexidade, o diretor técnico Huark Douglas Corrêa tem uma boa notícia. É que as próteses e materiais especiais necessárias (uma bacia ou joelho completos, por exemplo), e que não são cobertas pelo SUS, estão em processo de aquisição por parte do hospital. “Devemos finalizar esse processo nos próximos 30 dias e acabar com essa fila”, garante Huark.
Os pacientes, na maioria são do interior, e muitos são vitimas de acidentes de moto, portadores de doenças degenerativas e pacientes com má formação. Segundo Huark, se o procedimento fosse feito na rede, o custo do procedimento sairia por cerca de R$ 150 mil. No São Benedito, sairá em torno de R$ 20mil, incluindo aí o custo hospitalar e a prótese, que pode ser adquirida, em média, por R$ 12 mil.
Atualmente o Hospital São Benedito tem 350 contratados diretos (entre administrativo, enfermagem, nutrição e grupo de apoio) e de 40 a 50 médicos. Os serviços oferecidos são de ortopedia, neurologia, infectologia, cardiologia clínica, anestesiologia e radiologia. Na área de saúde são 68 profissionais incluindo médicos hospitalistas e intensivistas (UTI).
Hemodinâmica
Outra boa notícia é que até o fim de junho já estará em Cuiabá o equipamento da Hemodinâmica. Com a aquisição do equipamento, em julho o Hospital São Benedito passará a oferecer outros procedimentos. A máquina foi adquirida mediante processo licitatório realizado pela prefeitura e os recursos são oriundos do Ministério da Saúde.
“É um equipamento de hemodinâmica endovascular que permite intervenções nas áreas vascular periférica, de neurologia e de cardiologia. Será possível a realização de exames e procedimentos de embolização cerebral, angiografias cerebrais, cateterismo, angioplastia com implantação de stents, tratamentos de dissecção aguda da aorta, dentre outros”, explicou o diretor geral, Jorge Lafetá.
Em uma próxima etapa, o hospital começará em breve as cirurgias cardíacas. Os técnicos da unidade coronariana, incluindo pessoal da enfermagem e fisioterapeutas, já estão em treinamento. E o processo de licitação para a contratação da equipe de cirurgiões está sendo finalizado.
por Raquel Schmidt – Secom-Cuiabá