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O ministro Fernando Haddad — Foto: Marcelo Justo/MF

Haddad busca apoio de Alcolumbre e Hugo para avançar reformas econômicas

Movimento de Haddad reflete necessidade de apoio político diante do avanço do Centrão e da queda na popularidade do governo

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, intensificou sua articulação com Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB), recém-eleitos presidentes do Senado e da Câmara, respectivamente. O objetivo é assegurar apoio do Congresso para a agenda econômica do governo e reduzir interferências políticas que possam comprometer medidas estratégicas. A movimentação inclui, ainda, a busca por respaldo contra pressões internas dentro do governo Lula (PT).

Aliados de Haddad acreditam que a aproximação com os novos dirigentes do Congresso permitirá ao ministro participar das negociações sobre o ritmo de votação de propostas prioritárias, além de garantir apoio parlamentar e minimizar o risco de enfraquecimento das medidas econômicas.

A aliança se torna ainda mais relevante em um cenário de fortalecimento do Centrão e queda na popularidade de Lula, fatores que podem dificultar a aprovação de medidas fiscais e econômicas.

Resistência ao aumento da arrecadação e controle sobre pautas-bomba

No Congresso, cresce a oposição a propostas que impliquem aumento na arrecadação, um dos pilares adotados por Haddad para equilibrar as contas públicas no início da gestão. Além disso, a proximidade com Alcolumbre e Hugo Motta é vista como um fator essencial para conter a pressão de parlamentares que defendem expansão de gastos, principalmente com a aproximação do período eleitoral.

Como presidentes das Casas Legislativas, Alcolumbre e Hugo têm poder para definir quais projetos avançam e quais são arquivados, incluindo propostas que podem gerar impactos fiscais negativos para o governo. Esse controle é fundamental para evitar o avanço das chamadas pautas-bomba, que ampliam despesas públicas e comprometem o equilíbrio orçamentário.

Um dos temas pendentes no Congresso é a Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025, que deveria ter sido votada em dezembro, mas foi adiada devido à expectativa de uma reforma ministerial. O governo busca aprovar o texto ainda em fevereiro, mas parlamentares indicam que a votação só deve ocorrer após o Carnaval. Como presidente do Congresso, Alcolumbre será decisivo para definir esse calendário.

Alinhamento estratégico e jantares políticos

A relação entre Haddad e Alcolumbre se fortaleceu dias antes da eleição para a presidência do Senado. O ministro participou de um jantar na casa do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), líder do governo no Congresso, ao lado de Jaques Wagner (PT-BA) e do então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Durante o encontro, Alcolumbre demonstrou disposição para atuar como aliado de Haddad, embora não tenha se manifestado sobre temas fiscais específicos.

Haddad indicou, na ocasião, que pretende priorizar projetos para melhorar o ambiente de negócios no país, como a reformulação da Lei de Falências, mas evitou dar grande destaque a medidas como a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda, uma das prioridades de Lula.

Após ser eleito, Alcolumbre reforçou a parceria com Haddad, declarando ter uma “relação extraordinária” com o ministro e garantindo que pretende “caminhar lado a lado” com ele. No entanto, reconheceu que a agenda econômica enfrentará “tensões pré-eleitorais”.

Hugo Motta: articulação construída ao longo do tempo

A relação de Haddad com o presidente da Câmara, Hugo Motta, foi consolidada nos últimos anos e se mostrou crucial em momentos estratégicos para o governo Lula.

Motta foi um dos principais articuladores do pacote fiscal no Congresso. Diante da resistência de parte da base aliada e até mesmo de setores do PT, o deputado fez um discurso enfático em defesa da aprovação das medidas para estabilizar o câmbio, que, na época, viu o dólar ultrapassar R$ 6.

Outro momento de grande influência de Hugo ocorreu no primeiro ano de governo Lula, quando ajudou a conter uma rebelião de líderes do Centrão que ameaçavam derrubar a medida provisória que ampliou de 23 para 37 o número de ministérios.

A interlocução entre Haddad e Motta se estreitou com a mediação do deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL), que aproximou os dois. A parceria resultou na realização de encontros frequentes entre Haddad e líderes partidários, organizados pelo novo presidente da Câmara para debater os rumos da política econômica.

Nos últimos meses, o ministro tem mantido contato direto com Hugo, como na recente conversa telefônica em que informou ao deputado quais vetos seriam aplicados ao projeto de regulamentação da reforma tributária. Esses vetos precisarão ser analisados pelo Congresso, e o apoio da nova liderança será decisivo para definir o desfecho da votação.

Agenda econômica e desafios no Congresso

Alcolumbre e Hugo Motta demonstraram alinhamento com a agenda econômica do governo nos dois primeiros anos do mandato de Lula e indicaram que devem manter essa postura à frente das Casas Legislativas.

Em janeiro, Haddad apresentou 25 propostas que pretende implementar até 2026. A maior parte das medidas depende de atos do Executivo, como portarias e decretos, mas algumas exigem aprovação do Congresso, incluindo:

  • Reforma da Previdência dos militares
  • Regulamentação da Inteligência Artificial
  • Fortalecimento do sistema financeiro e do mercado de capitais
  • Criação do Comitê Gestor do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços)
  • Projeto de limitação dos supersalários no funcionalismo público
  • Mudanças na Lei de Falências

Além disso, o governo ainda deve enviar ao Congresso propostas como:

  • Reforma do Imposto de Renda, que inclui aumento da faixa de isenção
  • Novo marco para reajuste dos preços de medicamentos
  • Regulamentação do Imposto Seletivo, que incidirá sobre produtos e serviços que afetam a saúde e o meio ambiente, como bebidas alcoólicas

Janela de oportunidade para aprovação das medidas

Haddad avalia que 2025 será o período mais viável para aprovar as mudanças econômicas no Congresso, antes que as eleições de 2026 provoquem uma paralisação legislativa. Um dos principais desafios será a tributação sobre rendas mais altas, prevista como medida de compensação para a ampliação da isenção do IR, que pode enfrentar resistência no Parlamento.

A influência de Alcolumbre e Hugo Motta será essencial para garantir avanços nessas pautas e evitar que o governo sofra derrotas estratégicas no Legislativo.

Com um cenário de forte atuação do Centrão e desafios fiscais pela frente, Haddad aposta na aliança com os novos líderes do Congresso como peça-chave para proteger a agenda econômica e viabilizar as reformas propostas.