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Gigantismo do Carnaval precisa ser revisto: acidentes provam que passamos do limite

O Carnaval do Rio de Janeiro, o mais famoso e bonito do mundo, foi marcado este ano por tragédias. Logo na primeira noite de desfiles um acidente grave com o carro alegórico da Paraíso do Tuiuti prensou pessoas contra a grade de proteção, deixando mais de 20 feridos, alguns em estado grave.

Na madrugada desta terça (28) mais um acidente: o topo de um dos carros da Unidos da Tijuca afundou, deixando 12 feridos, pelo menos três deles em estado mais grave.

Após os acidentes, um tema que entra em discussão é o gigantismo dos carros alegóricos. Com a disputa sempre tão acirrada, as escolas de samba levam para a Sapucaí carros cada vez maiores e mais pesados, na tentativa de mostrar um show com proporções enormes.

2017 desfile da paraiso da

No caso do acidente com o carro da Tuiuti, filhos do motorista Francisco de Assis Lopes afirmam que o pai não tinha visibilidade para conduzir a alegoria. “Disseram que ia ter um guia para ele. Não teve guia para ele”, afirmaram na delegacia para equipes de televisão. Os filhos também contam que um carro foi acoplado à alegoria na avenida e que Francisco não sabia que isso iria acontecer, indicando que o gigantismo pode ter sido um dos fatores que levaram ao acidente.

“Ele ficou sem visão na hora de pilotar o carro. Como acoplou o carro, não tinha como ele enxergar.” Questionados se não podia se negar a dirigir, os filhos rebateram a imprensa: “Era o último. Como ele ia largar o carro na avenida?.” “Ele cumpriu com o papel dele, de motorista profissional que ele é.”

 Outros fatores que podem ter contribuído com o acidente da Tuiuti foram problemas em uma roda e o peso da chuva sobre as “rodas malucas” da alegoria, que fez com que o carro pendesse para o lado esquerdo.
desfile da paraiso da tuiut

Já no caso do acidente da Tijuca, integrantes deram declarações que indicam que o tamanho e peso da alegoria também pode ter sido um fator crucial para o acidente da escola. Ricardo de Oliveira Cardoso Jr., uma das vítimas do acidente, afirmou à reportagem do portal UOL que a segurança já era uma preocupação durante os ensaios da escola. “A gente já havia questionado que o carro balançava bastante nos ensaios. Mas como sempre ofereceram segurança, nós acreditamos e fomos para avenida. Chegou na avenida, tinha mais pessoas em cima do carro do que nos ensaios”, disse para o UOL.

Os acidentes graves da Tuiuti e da Tijuca não foram os únicos sustos de 2017. Ainda na madrugada de segunda para terça-feira a primeira escola a se apresentar, a União da Ilha, teve problemas em um de seus carros, com uma pane elétrica e problemas para se movimentar. O carro chegou a se chocar de leve com o estúdio da Rede Globo, em uma tentativa desesperada de seus integrantes de movimentá-lo e abrir espaço para integrantes e outra alegoria saírem a tempo da avenida.

Socorro às vítimas

O gigantismo dos carros não é o único problema que vimos no Carnaval 2017. A dificuldade em se socorrer as vítimas também ficou aparente. Há relatos de que o transporte de uma das vítimas mais graves do acidente da Tuiuti até o hospital Souza Aguiar, que fica a apenas 1 km da Sapucaí, levou 25 minutos. Segundo o jornal carioca Extra, “o motorista não sabia o caminho, a ambulância que ele seguia se perdeu, e os operadores de trânsito não deixaram os veículos passarem na região do Sambódromo.”

No momento do acidente da Tijuca também houve demora no atendimento. Isso porque o “show não pode parar” (será que não pode mesmo?) e os socorristas tiveram que disputar espaço com integrantes de outras alas que passavam ao lado do carro acidentado. “A Tijuca tem uma obrigação com o público, e com a transmissão. Quem tem que ser atendido está sendo atendido e, de resto, tentamos transcorrer normalmente”, afirmou para a rádio Band Rio o carnavalesco Fernando Costa.

Os acidentes do Carnaval deste 2017 e a forma como lidamos com eles precisam ser repensados. Queremos continuar tendo alegorias gigantescas, que mal conseguem se movimentar pela avenida e fazer manobras? O risco de não repensarmos o Carnaval na Sapucaí pode ter dimensões ainda mais lamentáveis.

Por Amanda Dias – do Vix