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O presidente Lula ao lado do comandante do Exército, Tomás Ribeiro Paiva, e generais em Pernambuco — Foto: Ricardo Stuckert

Generais do Alto Comando do Exército enfrentam perda de protagonismo no governo Lula

Enquanto governo Bolsonaro nomeou 16 generais de quatro estrelas para cargos na máquina federal, atual gestão conta com apenas um

Após quatro anos de crescente influência no governo federal sob a gestão de Jair Bolsonaro (PL), os generais que integraram o Alto Comando do Exército, o mais alto escalão da hierarquia militar, viram seu espaço reduzido com a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência. De acordo com levantamento do GLOBO, com base em portarias do Exército e do Diário Oficial da União, dos generais promovidos à quarta estrela desde 2011, apenas um recebeu um cargo de confiança no atual governo: o general Marcos Antonio Amaro dos Santos, atualmente à frente do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

Militares nomeados no governo federal — Foto: Editoria de arte

Militares nomeados no governo federal — Foto: Editoria de arte O GLOBO

Em contraste, durante o governo Bolsonaro, 16 generais de quatro estrelas foram nomeados para cargos importantes na administração federal, sendo que a maior parte dessas nomeações ocorreu nos primeiros dois anos do mandato. A lista inclui militares que ocuparam mais de uma posição, como o general da reserva Walter Braga Netto, que foi ministro da Casa Civil e da Defesa, e que recentemente foi preso pela Polícia Federal no contexto de investigações sobre uma tentativa de golpe contra a posse de Lula.

O Alto Comando do Exército é composto por 16 generais, que são os militares da ativa promovidos à quarta estrela. Desde 2010, 62 generais alcançaram o topo de suas carreiras, sendo 20 deles nomeados para cargos de confiança no governo federal, a maioria após a passagem à reserva. Esse levantamento desconsidera cargos em governos estaduais, outros Poderes, estatais e autarquias com funções militares.

Walter Braga Netto é um caso atípico, pois foi nomeado enquanto ainda estava na ativa, assumindo a Casa Civil em fevereiro de 2020, antes de passar à reserva no mesmo mês. Outros generais de quatro estrelas que compuseram o Alto Comando durante a última década e que foram indiciados no inquérito da tentativa de golpe incluem Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, e Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira. O general Mauro Cesar Lourena Cid, ex-chefe do escritório da Apex nos Estados Unidos, também teve papel importante no governo Bolsonaro; ele é pai de Mauro Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, envolvido nas investigações sobre o golpe.

Generais nomeados no governo Bolsonaro — Foto: Editoria de arte

Generais nomeados no governo Bolsonaro — Foto: Editoria de arte O GLOBO

O historiador Carlos Fico, da UFRJ, observa que, no governo Bolsonaro, houve uma aproximação excessiva dos generais de topo com a administração, o que não se repete no governo Lula, refletindo um histórico de desconfiança entre os militares e o PT. Durante a primeira gestão de Lula, entre 2003 e 2010, o relacionamento com as Forças Armadas foi marcado por atritos, especialmente após o Exército exaltar a ditadura de 1964. Para lidar com esses desafios, o então presidente buscou nomes de peso político, como o vice-presidente José de Alencar e o ex-ministro do STF Nelson Jobim.

No atual governo, cogita-se uma estratégia semelhante, com o possível afastamento do ministro da Defesa José Múcio, cujos sucessores podem incluir o ministro da Justiça Ricardo Lewandowski ou o vice-presidente Geraldo Alckmin.

Eurico Figueiredo, cientista político, aponta que o primeiro governo Lula conseguiu estabelecer um canal de comunicação mais efetivo com os militares, especialmente por meio da criação da Estratégia Nacional de Defesa (END). Segundo Figueiredo, essa parceria foi um marco na ampliação da participação das Forças Armadas na política estratégica nacional, em diálogo com lideranças civis. Esse processo difere da ocupação de cargos durante o governo Bolsonaro, que, para o cientista político, aprofundou um movimento iniciado durante o governo de Michel Temer. Após o impeachment de Dilma Rousseff, Temer nomeou seis generais de quatro estrelas para cargos de confiança, incluindo o ministério da Defesa, que foi assumido por Joaquim Silva e Luna, que mais tarde se tornou presidente da Petrobras.

Figueiredo critica a politização das Forças Armadas durante o governo Bolsonaro, afirmando que ela foi prejudicial, pois transformou os militares em agentes políticos e os expôs a riscos políticos. Ele defende a necessidade de retomar um relacionamento harmonioso entre as Forças Armadas e o governo federal, com um foco maior na despolitização das instituições militares, reafirmando seu papel essencial na defesa da soberania nacional.

 

(Com O GLOBO)