• Home
  • Geral
  • Família do DF gasta R$ 230 mil em 2 anos para achar filho sumido no Peru

Família do DF gasta R$ 230 mil em 2 anos para achar filho sumido no Peru

A família do estudante brasiliense Artur Paschoali, desaparecido no Peru desde dezembro de 2012, afirma ter gastado mais de R$ 230 mil na busca pelo jovem durante pouco mais de dois anos e meio. O pai, Wanderlan Paschoali, de 45 anos, diz que percorreu todas as regiões do país vizinho e chegou até a procurar o grupo guerrilheiro Sendero Luminoso para obter possíveis informações sobre a paradeiro do filho, que à época do sumiço tinha 19 anos.

Descobri que é comum que eles vendam pessoas no Peru, quando têm dívidas com o Sendero Luminoso ou com o narcotráfico, e fui em busca desse grupo para tentar algum contato, tentar saber se tinha alguma informação”
Wanderlan Paschoali,
pai de jovem desaparecido

Para levantar o dinheiro usado nas buscas, a família organizou rifas, vendeu uma empresa, recebeu doações e tomou empréstimos em bancos. A quantia foi usada para pagar detetives, guias, advogados, passagens e hospedagem nos períodos em que o pai passou no Peru.

“Vendemos a lanchonete e conseguimos R$ 18 mil. Com a rifa, conseguimos R$ 23 mil e com a tarde de tortas, R$ 53 mil”, diz a mãe, Susana Paschoali, de 53 anos. “Também contamos com a doação dos nossos amigos desde o primeiro dia que chegamos lá.”

Estudante de artes cênicas na Universidade deBrasília (UnB), Artur viajou com um grupo de amigos para percorrer a América Latina e decidiu se separar do grupo quando chegou ao vilarejo de Santa Teresa, que fica encravado em uma montanha ao lado de Águas Calientes, ponto turístico que leva a Machu Picchu. Em entrevista ao G1 na casa da família, no Guará, os pais falam sobre o sumiço do filho e a investigação liderada por eles.


Buscas 
Wanderlan diz que R$ 100 mil foram gastos só com buscas em terra. “Montamos várias equipes de buscas, que foram por todas as montanhas do Peru, lugares muito inóspitos. Uma vez que não encontramos nenhum rastro, nenhuma pista, começamos a buscar por todo o país, a espalhar fotografias”, afirma.

“Estive no norte, sul, leste, oeste, na selva. Estive no deserto de Nazca, estive na costa peruana, estivemos também com um guia profissional na selva amazônica, em inúmeras tribos índigenas, em várias montanhas, em cidades, em zonas de forte influência do Sendero Luminoso, algo realmente muito perigoso. Tivemos que despender uma quantidade muito grande de recursos financeiros.”

artur1
Artur Paschoali, jovem sumido no Peru em dezembro de 2012 (Foto: Facebook/Reprodução)

O pai diz que, esgotadas as buscas, escutou relatos preocupantes. “Acreditávamos que ele estava perdido, e não que havia se passado um crime”, diz. “Descobri que é comum que eles vendam pessoas no Peru, quando têm dívidas com o Sendero Luminoso ou com o narcotráfico, e fui em busca desse grupo para tentar algum contato, tentar saber se tinha alguma informação.”

“Não consegui [contato] com ninguém importante, mas consegui algumas pessoas que nos informaram que não, que o Artur, segundo eles, não estaria sob a guarda do Sendero”, afirma.

“Não temos certeza absoluta de que as informações eram verdadeiras ou apenas para nos despistar, uma vez que existiam, sim, indícios de que isso possa ter ocorrido. Ou seja, uma pessoa pode ter vendido meu filho para o Sendero Luminoso.”

O Sendero Luminoso é um grupo guerrilheiro de esquerda que surgiu na década de 1960. A organização é acusada de desencadear uma guerra civil no Peru entre 1980 e 2000 que deixou 69 mil mortos. A organização foi quase liquidada nos anos 1990, mas ainda atua em áreas remotas do país, com ligação ao narcotráfico.

Possível homicídio
Após dois anos de apuração por conta própria, Susana e Wanderlan conseguiram reunir provas suficientes para que o caso fosse investigado pela Justiça peruana como delito criminoso, e não como desaparecimento de pessoa. Moradores de Santa Teresa relataram à família terem ouvido pedidos de socorro vindo de dentro da casa onde o jovem ficou hospedado, que pertencia ao ex-patrão dele.

Com a retomada do caso, a polícia encontrou uma poça de sangue de dois metros quadrados na residência do antigo empregador. A mancha foi descoberta com o uso de luminol, substância que quando borrifada no ambiente aponta resquícios de sangue, mesmo que elas já tenham sido removidas.

A amostra, coletada em 31 de julho, precisava ser levada a um laboratório forense em Lima para ser comparada com o DNA do pai de Artur. Na última sexta-feira (18), a família foi informada pelo advogado contratado no país que o material ainda não havia sido submetido à análise pelo promotor de Quillabamba.

“Segundo informações que temos, uma vez que o material é exposto a essa substância [luminol], em 60 dias já começa o processo de degradação. É uma notícia que recebemos com muita tristeza”, afirma Wanderlan. “Estou lutando contra o tempo. Jogaram luminol em tudo, todo o sangue vai degradar, não só o que foi coletado.”

A família afirma ter dificuldades em fazer com que a Justiça peruana investigue o caso. “Embora haja uma determinação do fiscal superior da província de Quillambamba e de La Convención, não foi destacado nenhum efetivo policial para fazer a investigação, não existe ninguém da criminalistica, ninguém da investigação, ninguém de nenhuma área da polícia atuando. A informação é de que eles não tinham pessoas disponíveis para fazer o trabalho”, afirma.

Esperança
Para a família, a única esperança é a Câmara Legislativa do DF, que criou uma Frente Parlamentar de Apoio às Famílias de Pessoas Desaparecidas. Uma viagem ao Peru com parlamentares e peritos da Polícia Civil estava agendada para o dia 22 de setembro, mas não aconteceu, diante da crise financeira enfrentada pelo GDF.

O objetivo da ida ao país é reunir os parlamentares com autoridades peruanas e pedir agilidade na análise dos exames. A frente também tenta trazer uma amostra do material para ser analisada no Brasil.

“Se isso for aprovado, para nós será muito importante, e creio que para a população em geral também, para que daqui para frente, não apenas no Brasil, mas fora, possam ter auxílio, porque é algo realmente muito triste, que não desejaria para ninguém. Não ter apoio é algo ainda mais triste.”