Ex-moradores de rua do ES contam como deram a volta por cima

Eles contam que precisaram de muita garra e determinação para sair.
Mudança de vida aconteceu após receberam ajuda de outras pessoas.

Por Tatiana Moura

De A Gazeta

Welington Valério saiu das ruas e se tornou vigilante e professor de futsal no Espírito Santo (Foto: Vitor Jubini/ A Gazeta)
Welington Valério saiu das ruas e se tornou vigilante e professor de futsal (Foto: Vitor Jubini/ A Gazeta)

Dois ex-moradores de rua do Espírito Santo contaram como deram a volta por cima e conseguiram mudar de vida. O vigilante Welington Valério, de 43 anos, e o auxiliar de logística, Renato de Lima, de 34 anos, disseram que foi preciso garra e determinação para reescrever as histórias de suas vidas.

Cansado de apanhar da mãe e do padrasto, aos 14 anos Welington fugiu de casa e decidiu ganhar a vida nas ruas da Grande Vitória. Foram quatro anos de marquise em marquise, até que ele conheceu as drogas.

“Usei todos os tipos, não precisava ter dinheiro, os colegas me davam. Também sofri muito desprezo, as noites eram longas e eu comia quando dava”, recorda.

Em 1991, então com 18 anos, com a ajuda de uma amiga, Welington ganhou uma casa emCariacica, e logo em seguida se casou e passou a trabalhar como vigilante. Mas hoje, ele concilia o trabalho de vigilante com a função de professor de futsal em projetos sociais em Novo México e Guaranhuns, em Vila Velha.

São 130 alunos, sendo que o mais novo tem 5 anos e o mais velho 62. Eles são divididos em três times: infantil, feminino e masculino.

Drogas
Já Renato foi parar nas ruas em 2015 após receber um ultimato da esposa, que já não aguentava mais sofrer com a dependência química do marido, que usou drogas por 18 anos.

Foram 9 meses dormindo nas ruas de Vitória e Serra, até que num domingo do mês de abril, a ajuda que ele tanto precisava chegou. Eram os voluntários do grupo “Ajude o Próximo”.

“Me ofereceram café da manhã, e eu pedi ajuda para sair daquela vida. Fui levado para uma clínica onde fiquei três meses internado e semana passada voltei a viver com a minha família, pois já não uso mais drogas”.

Quem ofereceu a Renato a chance não só de se alimentar como também de sair das ruas foi o auxiliar de laboratório Kelvin Amaral, de 22 anos.

Sensibilizado com a situação dos moradores de rua, ele e o amigo, o estagiário Gabriel Lucas, 18, criaram em 2014, o Grupo “Ajude o Próximo”. Atualmente eles contam com a ajuda de mais de 30 voluntários.

É com alegria que Kelvin recorda que Renato nem de longe é a mesma pessoa que ele encontrou na Vila Rubim. “Ele estava cabisbaixo, mas lutou e deu a volta por cima. Estamos muito felizes”.

Renato Lima, a esposa Emília de Lima e seus filhos Pietra e Patrick celebram agora a nova vida do pai longe das ruas e das drogas  (Foto: Fernando Madeira/ A Gazeta)

Renato Lima, a esposa Emília de Lima e seus filhos Pietra e Patrick celebram agora a nova vida do pai longe das ruas e das drogas (Foto: Fernando Madeira/ A Gazeta)

Trajetória
Após viver nove meses pelas ruas de Vitória e da Serra, o auxiliar de logística Renato de Lima, 34, conseguiu retornar ao convívio familiar. Agora ele precisa de um emprego para começar a reescrever sua trajetória.

Como você foi parar nas ruas?
Após a morte da minha avó, com quem eu morava, fui viver com minha mãe, que trabalhava muito e, por isso, eu ficava nas ruas, onde conheci as drogas. Aos 18 anos comecei a trabalhar, casei e tive filhos, mas o dinheiro eu gastava com drogas. Com o tempo comecei a vender as coisas de casa para sustentar o vício, foi então que a minha esposa disse que eu precisava me tratar, como não tinha condições de pagar clínica fui parar nas ruas.

Como foi viver nas ruas?
Passei muita fome, frio e discriminação, as pessoas olham com um olhar diferente para o morador de rua. Quando o efeito das drogas passava eu ficava angustiado e achava que nunca mais veria minha família.

Como conseguia dinheiro para consumir drogas?
Vigiava carros de dia e praticava roubos à noite. Cheguei a ser preso.

Depois de tanto sofrimento, como é voltar para casa?
Fui muito bem recebido. É muito bom ter comida, roupa limpa e carinho.

Você está desempregado?
Sim, já distribuí muitos currículos depois que saí da clínica, mas até agora nada. Já trabalhei de auxiliar de logística e de obras, serralheiro e porteiro, mas aceito o que aparecer, o que não posso é ficar parado, pois a minha esposa também está desempregada.