Ex-miss supera dois cânceres, transplante e infarto: ‘Nasci, renasci e ressuscitei’
“Hoje eu não vivo mais pra mim, aquela Aline morreu”. É assim que Aline Wega, vencedora do concurso de Miss Campinas em 2004, interpreta a vida após superar dois cânceres, um transplante de medula óssea e um infarto agudo do miocárdio. Mãe de Igor, de 8 anos, a ex-modelo acredita que está viva para cumprir a missão de transmitir às pessoas esperança e força de vontade para passar por dificuldades, além de cuidar do filho. “Nasci, renasci e ressuscitei”, diz.
Depois de encarar a doença duas vezes, o transplante e o infarto, Aline agora pretende ter uma vida “igual a de todo mundo” e ajudar as pessoas. “Se estou viva é pra cuidar do meu filho, porque foi a única coisa que eu pedi pra Deus. Eu vivo para ele e para ajudar os outros”, afirma a ex-miss.
“Os outros” a que Aline se refere, quer dizer todos aqueles que recebem suas mensagens de motivação, tanto nas redes sociais, quanto em palestras que realiza para difundir informações sobre transplante. “Eu percebo que cada palavra, cada coisinha que eu falo, serve de motivação para muitas pessoas”, relata.
Atuais desafios
Aos 34 anos, a ex-miss se divide entre a maternidade, palestras e publicações motivacionais, trabalhos como design de interiores e outras atividades, como campanhas publicitárias e administração de imóveis. Com todas estas multíplas funções, Aline considera que isso pode ter sido uma das causas do infarto, sofrido em janeiro deste ano.
“Eu sou muito hiperativa, até no hospital eu to escrevendo, respondendo mensagem. Eu não paro. Meu corpo quer uma coisa e minha mente quer outra. Foram 2 cânceres, transplantes e tudo isso, mas eu quero ter uma vida igual de todo mundo. Eu acho que sou mais forte que o meu corpo e nisso eu acabo abusando um pouco”, diz.
No entanto, o infarto não é a única dificuldade que enfrenta durante o desempenho de todas as atividades após superar os dois cânceres. A ex-modelo afirmou que, atualmente, o verdadeiro desafio é reconhecer o limite, por conta das consequências de cada dificuldade que ela passa no dia a dia.
“Os maiores desafios agora são as limitações, por causa das sequelas que vão ficando. Então é uma luta diária. Eu falo que não vivo, eu sobrevivo”, conta.
As batalhas vencidas pela ex-modelo impressionaram até mesmo ela própria. Por isso, Aline considera que tem a missão de dar auxílios psicológicos e dividir a experiência que passou em palestras motivacionais. “Mexeu bastante comigo, porque é incrível […] jovens que passam por isso é muito raro sobreviver. O que mexe mais com a minha cabeça é superar tudo isso, a resistência que tem o meu corpo. Eu tenho isso como uma missão, porque eu tenho que estar aqui, eu tenho que fazer alguma coisa”, explica.
Tarefa de mãe
Sobre a tarefa de ser mãe, Aline ressalta que o mais importante na relação com o filho são os valores e princípios de vida. “O amor e os valores são os mais importantes. Eu falo pro Igor que não importa a profissão dele, o que ele quer ser. O mais importante é o que vem dos verdadeiros valores” ressalta.
Apesar de ver a mãe passar por todos os “apertos”, o garoto não mediu esforços para enfrentar os obstáculos e se uniu mais ainda à ela. “O Igor foi um presente na minha vida. Ele é uma criança sensacional. É uma bondade, um amor no coração, e é isso que eu planto pra ele […] Ele faz até palestras junto comigo […] Sempre lembro ele de que a mamãe não vai estar aqui pra sempre”, diz Aline.
“O amor e os valores são os mais importantes. A felicidade é amor, porque quando você coloca amor em tudo o que você faz, tudo fica mais bonito”
Miss superação
O primeiro diagnóstico de câncer, um linfoma de Hodgkin, foi aos 23 anos, apenas dois após a conquista do título de miss. Com os tratamentos e a estabilidade da doença, Aline recebeu a surpreendente notícia de que seria mãe. “Eu engravidei dele depois do primeiro câncer. Os médicos falaram que minhas chances eram menos de 1%. Nove meses depois que eu terminei o tratamento, descobri que estava grávida”, lembra.
Cinco anos após a primeira superação, Aline iniciou a luta contra uma leucemia. Nesta fase, a única chance de cura, constatada pelo médicos, foi com um transplante de medula óssea, após oito meses de campanha para encontrar um doador. A ex-miss demonstra gratidão por este episódio, e revela que foi uma grande motivação para um de seus trabalhos atuais.
“Eu falo que ele [o doador] plantou uma semente de esperança no meu coração, eu sei que o mundo não está perdido, existe amor ao próximo. Quando eu vi a bolsinha chegando eu fiquei tão feliz, que eu ajoelhei no chão e falei: eu vou entrar nessa causa até o fim da minha vida, porque eu quero que muitos pacientes tenham a mesma alegria que eu tive”.
Em 2015, o G1 conversou com a jovem sobre os desdobramentos dos cânceres até a conquista de um doador, fase que mudou os rumos de sua vida. Foi neste momento que Aline ‘abraçou’ a luta para ajudar as pessoas a conseguirem a cura da doença. Atualmente, ela é coordenadora regional e participa das campanhas do “Pró-Medula”, grupo que cadastra doadores de medula óssea.
A ex-miss mantém também contato frequente com outros transplantados, principalmente por meio das redes sociais e de seu site. “A troca de experiências é fundamental. É importante manter essa chama acesa porque, às vezes, a gente esquece e reclama de alguma coisa”, conta.
*sob a supervisão de Marcello Carvalho
Do G1