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Donald Trump. Foto: DW / Deutsche Welle

EUA recuam e suspendem tarifas comerciais contra Canadá e México

Acordo entre EUA, Canadá e México adia alta de tarifas e prevê mais controle nas fronteiras; sanções à China não sofrem alterações

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chegou a um acordo separado com o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e a presidente do México, Claudia Sheinbaum, para suspender, por 30 dias, a aplicação de novas tarifas sobre produtos canadenses e mexicanos. A decisão foi anunciada nesta segunda-feira (3), após negociações que envolveram compromissos dos dois países com o reforço na segurança fronteiriça.

No último sábado, Trump havia decretado tarifas de até 25% sobre importações do Canadá e do México, o que levou os dois governos a ameaçarem retaliar com barreiras comerciais semelhantes. No entanto, após conversas telefônicas, os três líderes chegaram a um entendimento que garantiu a suspensão temporária das medidas. Apesar do recuo em relação aos vizinhos, as tarifas adicionais sobre produtos chineses foram mantidas, com um acréscimo de 10% sobre itens importados da China, decisão que Pequim prometeu contestar na Organização Mundial do Comércio (OMC).

México reforça controle na fronteira

Parte do compromisso firmado pelo México envolve o envio de 10 mil integrantes da Guarda Nacional para reforçar a fronteira norte, com o objetivo de conter o tráfico de drogas, especialmente de fentanil, apontado como um dos principais alvos da política antidrogas norte-americana.

A presidente do México, Claudia Sheinbaum, aparece falando em um microfone, atrás de um púlpito. Ela veste roupas pretas com detalhes em branco e gestos com a mão direita.
Após ameaças de retaliação, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, fez acordo com os EUA para suspender tarifas – Foto: Luis Cortes/AFP/Getty Images

Em contrapartida, os Estados Unidos se comprometeram a intensificar ações contra o tráfico de armas pesadas para o México, um dos fatores que agravam a violência no país. Em sua conta na rede social X, a presidente mexicana afirmou que as negociações continuarão ao longo do mês para buscar um entendimento definitivo.

“Estou ansiosa para essas conversas com o presidente Trump. Temos 30 dias para avançar em um acordo que seja o melhor caminho para os nossos países”, declarou Sheinbaum em entrevista coletiva.

Canadá lança ofensiva contra tráfico de drogas

No caso do Canadá, o governo de Justin Trudeau anunciou um plano de 1,3 bilhão de dólares canadenses (cerca de R$ 5,2 bilhões) para reforçar a segurança na fronteira com os EUA. A medida envolve a mobilização de 10 mil agentes e a implementação de novas diretrizes de inteligência para combater o crime organizado e a lavagem de dinheiro.

Premiê Trudeau, em pronunciamento
O primeiro-ministro Justin Trudeau também reconheceu o fortalecimento de fronteiras em troca de suspensão de tarifas – Foto: IMAGO/ZUMA Press

O primeiro-ministro também confirmou que o Canadá irá classificar oficialmente os cartéis de drogas como organizações terroristas, atendendo a uma exigência feita por Trump. Além disso, uma força-tarefa conjunta entre os dois países será criada para conter o tráfico transnacional de entorpecentes.

“Nosso compromisso com a segurança da fronteira é inegociável, e trabalharemos em parceria com os EUA para reforçar nossas medidas”, afirmou Trudeau após a conversa com o presidente americano.

Impactos na cadeia global de abastecimento

A decisão inicial de Trump de impor tarifas sobre produtos canadenses e mexicanos gerou preocupação em diversos setores econômicos, especialmente nos ramos automobilístico, de energia e de alimentos. Especialistas alertaram para o risco de um efeito cascata nas cadeias globais de abastecimento, afetando custos e a estabilidade do comércio internacional.

O decreto presidencial, que utilizou a Lei de Emergência Econômica Internacional como justificativa, também trazia uma cláusula que ameaçava retaliações caso Canadá e México adotassem contramedidas. Diante da pressão, Trudeau chegou a incentivar os canadenses a reduzir a compra de produtos norte-americanos, enquanto o governo mexicano sinalizou que não recuaria de sua posição inicial.

A suspensão temporária das tarifas agora abre espaço para novas rodadas de negociação, mas a incerteza sobre o futuro das relações comerciais na América do Norte permanece.

China endurece tom e fala em “retaliação proporcional”

Embora tenha recuado na disputa com Canadá e México, Trump manteve as tarifas adicionais de 10% sobre importações chinesas, endurecendo a política comercial contra Pequim. Em resposta, o governo chinês declarou que irá adotar “contramedidas proporcionais”, mas não especificou quais ações pretende tomar.

Em comunicado, o Ministério do Comércio da China classificou as novas tarifas como uma “grave violação das regras da OMC” e instou Washington a retomar o diálogo.

“O governo dos EUA deveria olhar com racionalidade para os problemas internos relacionados ao tráfico de fentanil e evitar o uso de ameaças contra outros países”, disse o porta-voz do ministério.

Especialistas acreditam que as novas tarifas não causarão um impacto significativo na economia chinesa, mas podem representar o início de uma nova fase da guerra comercial entre Washington e Pequim. Segundo estimativas da Bloomberg Economics, uma tarifa de 10% poderia reduzir em 40% as exportações de bens chineses para os EUA, afetando 0,9% do PIB da China.

Embora o impacto macroeconômico seja considerado moderado, as novas sanções colocam pressão sobre o governo chinês, que já enfrenta desaceleração do crescimento, crise imobiliária e queda no consumo interno.

Trump ameaça intensificar sanções

O governo norte-americano já deixou claro que não aceitará retaliações chinesas sem resposta. Em nota divulgada pela Casa Branca, Trump reafirmou que qualquer ação de Pequim será seguida por novas sanções.

“Se a China decidir impor medidas contra as exportações dos EUA, o presidente pode aumentar as tarifas ou ampliar o escopo dos produtos taxados para garantir a eficácia desta política”, destacou o comunicado oficial.

A declaração reforça a postura de confronto da administração Trump, que vê a guerra comercial como uma estratégia central para pressionar Pequim em questões que vão além do comércio, como segurança nacional e influência geopolítica.

Um novo capítulo na disputa comercial?

A suspensão temporária das tarifas para Canadá e México representa uma trégua parcial nas tensões comerciais da América do Norte. No entanto, as sanções contra a China indicam que a administração Trump continua apostando em medidas protecionistas como ferramenta de pressão econômica e diplomática.

O desfecho dessas negociações nas próximas semanas será crucial para definir os rumos do comércio global e das relações entre EUA, Canadá, México e China. Enquanto isso, investidores e empresários seguem atentos ao desenrolar dos acontecimentos, cientes de que qualquer novo movimento pode gerar impactos significativos nos mercados internacionais.