Especialistas alertam para riscos do “desafio do desodorante” após morte de criança no DF
Menina de 8 anos teve morte cerebral após inalar gás de aerossol; inquérito da Polícia Civil investiga responsabilidades
A morte de uma menina de 8 anos no último domingo (13), no Distrito Federal, após participar do chamado “desafio do desodorante”, reacendeu o alerta sobre os perigos associados a conteúdos perigosos compartilhados nas redes sociais. O caso é investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).
A criança, identificada como Sarah Raissa, foi socorrida na quinta-feira (10) e levada ao Hospital Regional de Ceilândia após inalar o gás contido em um desodorante aerossol. A inalação provocou uma parada cardiorrespiratória. Apesar de ter sido reanimada durante cerca de uma hora, ela não apresentou reflexos neurológicos. A morte cerebral foi confirmada três dias depois.
O pediatra Alexandre Nikolay, coordenador da emergência pediátrica do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, explica que a exposição a esse tipo de substância causa uma reação semelhante à asfixia.
“O maior problema do desodorante é que ele tem substâncias químicas diversas, desde metais, álcool, fragrância e vários outros que podem causar uma lesão pulmonar. Quando o pulmão entra em contato com essas substâncias, ele inicia um processo inflamatório, que dificulta a troca de gases”, afirmou o médico.
De acordo com Nikolay, essa inflamação pode evoluir para um quadro grave de broncoespasmo, que compromete a troca de gases no organismo.
“Essa inflamação pode levar a um broncoespasmo, que impede a troca adequada de gases. Ou seja, o pulmão retém o CO₂ e não consegue trocar pelo oxigênio, necessário para oxigenar o sangue. O tratamento é feito com máscara de oxigênio, ventilação mecânica ou, em alguns casos, com broncodilatadores, para tentar reverter o processo respiratório”, completou.
O especialista reforça a importância da supervisão parental no uso da internet por crianças e adolescentes.
“Usar programas e aplicativos que fazem a vigilância dos sites é muito importante. Outro ponto é conversar abertamente com os filhos sobre esses desafios, essas coisas que eles encontram na internet, para que eles sejam conscientizados. Alertar que isso coloca em risco a própria vida, são práticas nocivas que podem levar à morte”, alertou.
Médica que atendeu o caso faz apelo
Logo após o caso, uma das médicas que prestou atendimento à criança usou as redes sociais para fazer um apelo aos pais e responsáveis, reforçando que a menina não apresentava nenhum problema de saúde pré-existente.
“Uma menina de 8 anos, sem comorbidade, por conta de uma brincadeira de muito mau gosto. Então, mães, pais, fica o alerta para todos alertarem os filhos, explicar que esses desafios não podem ser feitos. Se alguém encontrar um desafio desses, faz uma denúncia”, afirmou.
Investigação policial em andamento
O inquérito aberto pela PCDF apura de que maneira a criança teve acesso ao conteúdo do “desafio do desodorante” e tenta identificar eventuais responsáveis pela sua disseminação. Caso haja comprovação de responsabilidade, os envolvidos poderão ser indiciados por homicídio duplamente qualificado — por emprego de meio capaz de causar perigo comum e por se tratar de vítima menor de 14 anos. A pena prevista é de até 30 anos de prisão.
Conteúdos perigosos nas redes
Nos últimos anos, diferentes “desafios” com potencial letal circularam em plataformas digitais, preocupando autoridades e especialistas em segurança digital.