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Espaço para propostas, horário eleitoral tem histórico de ataques baixos e homofobia

Espaço para a apresentação de propostas de governo, o horário eleitoral gratuito foi palco de baixarias e ataques pessoais desde a redemocratização. É algo que os publicitários atualmente dizem evitar, mas que marcou a história da propaganda obrigatória transmitida no rádio e na TV.

Neste ano, o horário eleitoral começa nesta sexta-feira (9). Relembre aqui os tapas e beijos que entraram para a história mais recente das campanhas eleitorais.

‘KASSAB É CASADO?’, PERGUNTOU MARTA

A campanha de 2008 ficou marcada por uma propaganda de Marta Suplicy, então candidata do PT à Prefeitura de São Paulo, que fazia insinuações a respeito da vida privada de seu adversário Gilberto Kassab, então no DEM e prefeito da capital paulista. Na televisão e no rádio, um locutor disse que o eleitor deveria saber se ele era casado e se tinha filhos.

À época, Kassab classificou o ataque como um “ato de desespero, lamentável e de baixo nível”. Ao ser questionado sobre a relevância política da propaganda, Carlos Zarattini, coordenador da campanha de Marta, disse que se tratava de “um conjunto de informações que as pessoas não têm”.

Poucos dias depois da propaganda eleitoral, o então prefeito negou ser homossexual durante sabatina promovida pela Folha de S.Paulo. Ele respondia a perguntas formuladas por pessoas da plateia.

Só depois de dois anos a ex-prefeita pediu desculpas pela propaganda dirigida pelo publicitário João Santana, que em 2016 chegou a ser preso em Curitiba pela Lava Jato. Marta acabou derrotada por Kassab em 2008.

RIVAL TEM ‘CONDUTA SEXUAL ATÍPICA’ DISSE CAMPANHA DE HELOÍSA HELENA

Em 1996, durante a disputa eleitoral pela Prefeitura de Maceió, a candidatura de Heloísa Helena, então no PT, enviou representação à Justiça Eleitoral questionando “conduta sexual atípica” da adversária Kátia Born, que estava no PSB.

O texto foi revelado por Kátia e usado como exemplo de que os petistas estavam utilizando armas de “baixo nível” para tentar atrapalhar a sua candidatura.

À época, o advogado do PT Márcio Guedes disse que Heloísa Helena não tinha conhecimento do teor da sua representação. A candidata petista chegou a pedir desculpas para Kátia, que nunca foram aceitas.

A eleição em Maceió, que ficou conhecida como a disputa das “Marias Bonitas”, acabou vencida por Kátia.

MALUF LEMBROU PIADA HOMOFÓBICA DE LULA

“Pelotas é cidade pólo, exportadora de veado”. A piada homofóbica que o petista Luiz Inácio Lula da Silva dirigiu a Fernando Marroni, então candidato à Prefeitura do município gaúcho, acabou sendo usada pela propaganda gratuita de Paulo Maluf, na época pepebista, no ano 2000.

No diálogo entre os dois, Marroni está ajeitando a gravada de Lula, que pergunta: “Pelotas é cidade pólo, né?”. Marroni confirma, respondendo “claro”. Em seguida, Lula se volta para a câmera e completa, rindo: “Exportadora de veado”, em alusão as velhas piadas de que o município gaúcho tem muitos homossexuais.

No programa eleitoral gratuito, um apresentador diz que aquela era a verdadeira face do líder petista e do partido. Depois, a Justiça Eleitoral do Rio Grande do Sul proibiu o PPB de reapresentar a imagem no horário eleitoral.

ERUNDINA CHAMOU PITTA DE ‘BRANCO SAFADO’ E SE DESCULPOU

Hoje candidata a vice em chapa com Guilherme Boulos pelo PSOL, em 1996, Luiza Erundina também deu uma escorregada. Ela afirmou que seu adversário, o pepebista Celso Pitta, um homem negro, tinha “cabeça e o comportamento de branco safado”.

A candidata do PT à Prefeitura de São Paulo discursava domingo à noite, em Campo Limpo (zona sul), quando fez a declaração.

Segundo registros de reportagens na época, a candidata petista teria dito que Pitta dizia “ter a pele negra”, mas que, “interiormente, tinha cabeça e o comportamento de branco”.

O candidato malufista tinha 51% dos votos negros e a adversária era apoiada por 35%. Depois, Erundina, em seu programa eleitoral para a TV, disse que se arrependeu. “Todo ser humano tem falhas. Eu não sou perfeita”, afirmou, antes de pedir desculpas. “No calor do discurso, na emoção de um grande comício, eu usei uma palavra que nunca costumo usar”, disse Erundina na TV, referindo-se ao termo “safado”.

COLLOR TROUXE MÃE DE FILHA DE LULA

A eleição de 1989 é apontada como uma das mais emblemáticas da Nova República. Em disputa contra Lula, Fernando Collor, então candidato à Presidência pelo PRN, usou como arma o depoimento de uma ex-namorada do petista.

Em vídeo com mais de cinco minutos exibido na propaganda eleitoral, Miriam Cordeiro, mãe de uma filha de Lula, disse que o petista a abandonara no início de sua gravidez. Ela afirmou também que ele havia oferecido dinheiro para ela abortar.

No depoimento, Miriam ainda acusou o líder sindical de ser racista. “Ele nunca suportou negros. […] Apareciam pessoas negras na televisão e ele ficava nervoso”, contou a ex-namorada do petista. “Fui traída por ele. Não posso apoiar um homem que acabou com a minha vida”, afirmou.

Dias depois, Lula obteve direito de resposta e se defendeu no horário eleitoral do rival. Ele acabou derrotado por Collor.

 

 

 

RENAN MARRA E GUSTAVO FIORATTI VIA FOLHAPRESS