Entidades islâmicas no Brasil apoiam PF se houver ‘provas e transparência’
O presidente do conselho de ética da União Nacional das Entidades Islâmicas (UNI), Jihad Hammadeh, disse nesta sexta-feira (22) que a comunidade muçulmana brasileira apoia as ações da Polícia Federal desde que elas sejam feitas com “transparência e provas”.
Nesta quinta-feira (21), dez pessoas foram presas no país suspeitas de envolvimento com terrorismo. Segundo Hammadeh, “há uma crescente islamofobia, principalmente por parte dos órgãos que deveriam trazer segurança para a sociedade”.
“A União Nacional das Entidades Islâmicas vem por meia desta [nota] expressar sua profunda preocupação com os recentes acontecimentos e relatos de que cidadãos brasileiros estariam associados ao terrorismo no Brasil, ao mesmo tempo, apoia veementemente as ações da Polícia Federal para apuração desses fatos, porém, com provas concretas e muita transparência, para que não haja injustiça e perseguição contra nenhum cidadão ou grupo”, diz nota.
O sheik usou a palavra “histeria” para definir o que a divulgação das ações da polícia causou. “Hoje as pessoas estão aterrorizadas e muitas vezes não há nada para se temer. Temer o que? A não ser que tenha algo concreto, algo de fato que seja receoso aí”.
De acordo com ele, “a forma irresponsável que alguns órgão divulgam e agem está trazendo, sim, terror à população e discriminação aos muçulmanos”.
Para Jihad, a divulgação do caso precisava de mais cautela, análise e, principalmente, provas. “É preciso serenidade para não causar histeria”. Ele questionou a informação divulgada pelo Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, de que os suspeitos tiveram suas conversas no WhatsApp monitoradas. “Todos nós sabemos que elas são criptografadas”.
“Para definir alguém como terrorista tem que ter provas concretas. A pessoa pode ser uma fanática, criminosa, mas isso tem que ser comprovado. Se não for, então é uma pessoa injustiçada”, acrescentou.
Segundo Jihad, o preconceito com muçulmanos chegou a um nível em que as mulheres que usam véu têm medo de sair nas ruas e serem ofendidas. “Se eu for rezar no aeroporto e disser ‘Allahu Akbar’ [Deus é grande, em árabe], quantos ficarão do meu lado?”. A expressão é utilizada para iniciar as orações no islamismo.
O líder ressaltou que dentro da religião islâmica não cabe injustiça, terrorismo e atos de agressão ou violência contra qualquer pessoa. Apesar das críticas à ação da PF, ele afirmou que, se comprovado que os suspeitos eram de fato terroristas, os orgãos de segurança estão, então, fazendo um bem à sociedade e ao próprio islamismo.
“A UNI condena, categoricamente, qualquer ato de violência e discriminação contra qualquer pessoa ou grupo, ratificando que o Brasil é um modelo para mundo de convivência harmoniosa e pacífica entre pessoas de diversas etnias, ideologias, cores e religiões, e, por isso, expõe sua preocupação com o fomento da Islamofobia e de uma possível histeria que possa causar uma instabilidade social, como também, discriminação contra muçulmanos no Brasil”, completa o texto.
Prisões
A Polícia Federal informou nesta sexta que os dez presos da Operação Hashtag foram levados para o presídio federal de Campo Grande. A unidade é de segurança máxima e recebe presos de alta periculosidade, como o traficante Fernandinho Beira-Mar, que está detido no local. Os presos da Operação Hashtag são suspeitos, segundo o MInistério da Justiça, de terem realizado “atos preparatórios” visando ações terroristas.
As prisões, realizadas a 15 dias da Olimpíada, foram as primeiras no Brasil com base na recente lei antiterrorismo, sancionada em março pela presidente afastada, Dilma Rousseff. Também foram as primeiras detenções por suspeita de ligação com o grupo terrorista Estado Islâmico, que atua no Oriente Médio, mas tem cometido atentados em várias partes do mundo.
Segundo o ministério, alguns dos investigados na operação chegaram a fazer um juramento virtual ao grupo, no qual repetiam palavras de uma gravação, mas não tiveram contato com membros do Estado Islâmico. Para as autoridades brasileiras, os presos são uma “célula absolutamente amadora” e sem “nenhum preparo”.
Quatro pessoas foram presas no estado de São Paulo; uma no Amazonas ; uma no Paraná; uma no Rio Grande do Sul; uma no Rio de Janeiro; uma no Ceará e uma na Paraíba.
Entre eles estão Levi Ribeiro de Jesus, preso no Paraná, Vitor Magalhães, preso em São Paulo. Oziris Moris Lundi dos Santos Azevedo, preso em Manaus, e Antonio ‘Ahmed’Andrade, preso na Paraíba.
Outras duas pessoas têm mandado de prisão, mas ainda não foram detidas pela polícia. Na quinta (21), o governo informou que já rastreia esses suspeitos e deve prendê-los “em breve”.
Além das prisões, foram cumpridos 19 mandados de busca e apreensão em dez estados – São Paulo (8); Goiás (2); Amazonas (2); Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Paraíba, Ceará, Minas Gerais e Mato Grosso (um em cada). Houve ainda duas conduções coercitivas, em São Paulo e Minas Gerais.
Texto e imagem Will Soares
Do G1 São Paulo