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Empresária renegociou dívida de R$ 5 milhões em 18 meses; veja dicas

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    Berenice Freire conseguiu limpar o nome da empresa em 18 meses

Devendo R$ 5 milhões e com 480 protestos de dívidas, a empresária Berenice Freire, sócia da Garden Química, que produz e fornece matéria-prima para a indústria de cosméticos e de higiene e limpeza, ouviu de um consultor em 2011 que era melhor encerrar a empresa. Disposta a não perder o negócio da família –o marido é seu sócio– ela renegociou cada dívida e, 18 meses depois, estava com o nome limpo de novo.

90% das dívidas foram pagas até agora, diz a empresária. Os únicos débitos que ainda restam são relativos a impostos, que ela deve quitar até 2017, segundo sua estimativa. De acordo com ela, o endividamento foi causado por má gestão: falta de acompanhamento financeiro, descontrole de gastos e vendas sem lucratividade.

Paulo Di Blasi, professor de finanças e investimentos dos MBAs da FGV (Fundação Getúlio Vargas), diz que esses são os principais motivos que colocam as empresas em dificuldade.

“Em momentos de crise na economia como o atual, é ainda mais importante estar atento aos custos e agir rápido em caso de endividamento. Por um lado, as pessoas estão mais dispostas a renegociar dívidas, mas, por outro, é mais difícil manter a empresa vendendo com o mercado em dificuldades”, afirma o professor.

Para sair dessa situação, a empresária precisou promover mudanças profundas na empresa, como implementar sistemas de gestão, elaborar um planejamento tributário e renegociar dívidas em prazos que conseguisse pagar. Não precisou demitir funcionários, pois muitos pediram demissão por conta própria ao verem que a empresa ia mal, mas teve de negociar a forma de pagamento dos salários, inclusive dos que ficaram.

Vendeu um carro para pagar os gastos pessoais durante 18 meses e colocou três imóveis como garantia no banco para conseguir capital de giro. “Os aprendizados permanecem até hoje”, diz ela. Em 2015, a Garden Química atingiu faturamento de R$ 30 milhões, e a previsão é chegar a R$ 46 milhões em 2016.

Veja abaixo os cinco passos seguidos por Freire para tirar sua empresa do endividamento e as dicas do professor da FGV:

1. Acompanhe os números de perto

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“Fomos entrando em dificuldades aos poucos. Não tínhamos sistemas de gestão, não tínhamos os gastos mapeados, a lucratividade das vendas não era apurada, as despesas eram maiores do que as receitas. Começamos por implementar esses controles”, diz a empresária.

O primeiro passo, segundo Di Blasi, é controlar despesas operacionais e administrativas, analisando item a item para cortar desperdícios. Também é importante investir em vendas ou tentar melhorar a margem de lucro, promovendo alguma inovação no produto. “Em casos mais graves, a empresa precisa encolher, vender ativos, para reencontrar o equilíbrio”, diz.

2. Renegocie dívidas

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Em vez de fugir dos credores, como fazem muitos endividados, Freire os procurou para renegociar as dívidas em prazos e condições que pudesse cumprir. Começou pelos fornecedores para poder continuar comprando e não parar a fábrica.

“Eu explicava a situação e sugeria pagar a dívida em várias parcelas. Inicialmente, eles não aceitavam, mas não tinham o que fazer, pois a dívida já estava protestada. Então, eles percebiam que era melhor negociar do que tomar calote”, afirma.

O professor da FGV diz que é importante conhecer as finanças da empresa para renegociar as dívidas de forma que consiga quitá-las. “Um consultor ou especialista pode ajudar a verificar as alternativas para alongar o prazo e reduzir o custo da dívida o máximo possível.”

3. Não deixe de investir no que é importante

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Para Freire, era importante continuar investindo em marketing para gerar novos negócios. Ela também continuou com as auditorias para manter o certificado de qualidade ISO 9000. “Enviava e-mail marketing toda semana porque não tem custo. Negociava a participação em feiras para pagar em pequenas prestações. Escolhi não cortar o gasto com auditorias porque já estava descapitalizada, então precisava manter a qualidade.”

Segundo Di Blasi, é importante que o administrador tenha sensibilidade para identificar o que impacta o faturamento da empresa e para manter os investimentos necessários. “Não é bom sumir do mapa porque gera desconfiança, começam a surgir notícias ruins. Quando você começa a racionalizar os gastos, percebe que pode sobrar dinheiro para investir no que é importante para o negócio.”

4. Faça um planejamento tributário

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A dívida tributária foi a parte mais difícil, segundo a empresária. “Quando foi liberado o PEP [Programa Especial de Parcelamento], parcelamos todos os débitos de impostos. Hoje, pagamos os impostos do mês e esses parcelamentos com grande sacrifício. Foi necessário um planejamento fiscal e tributário muito bem elaborado para que não comprometesse a saúde financeira da empresa”, afirma.

O professor diz que a estrutura tributária é muito complexa no Brasil. “O planejamento ajuda a pagar impostos de forma mais eficiente. Às vezes, a empresa pode estar pagando imposto que não deve, deixa de compensar algo que poderia ser abatido. Por isso é importante o controle.”

5. Engaje a equipe

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Freire diz que, até hoje, seu gerente do banco pergunta quem é o investidor que tirou a empresa do endividamento. “Meus investidores são meus funcionários que acreditaram e continuaram comigo mesmo nas dificuldades. Muitos deles hoje são gerentes na empresa.”

Ser transparente com a equipe e engajar não só os funcionários, mas também fornecedores e clientes, ajuda a empresa a sair das dificuldades mais rapidamente, segundo o professor da FGV. “O engajamento de todos é fundamental. Mas não basta apresentar a situação crítica, é necessário mostrar quais são as medidas de correção para demonstrar responsabilidade.”

Por Larissa Coldibeli
Colaboração para o UOL, em São Paulo