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Em possível reviravolta, nadadores americanos que relataram assalto teriam criado confusão em posto

Investigações da polícia do Rio de Janeiro estão colocando em xeque a versão do assalto relatado por nadadores americanos: fontes próximas ao caso afirmaram à BBC Brasil que os atletas podem ter “inventado” o episódio na tentativa de camuflar uma “algazarra” causada por eles próprios num posto de gasolina.

Por volta das 6h da manhã de domingo passado, Ryan Lochte, James Felgen, Gunnar Bentz e Jack Conger pararam num posto de combustível na Barra da Tijuca após participarem de uma festa na Casa França, na Lagoa, zona Sul do Rio. O posto fica a 16 quilômetros da Vila dos Atletas. Um deles teria quebrado a porta do banheiro do posto.

De acordo com as fontes, houve bate-boca e o segurança do posto foi chamado para conter a confusão. Os funcionários do posto teriam exigido que o grupo pagasse pelos estragos.

Os seguranças ainda teriam obrigado os nadadores a saírem do táxi onde estavam.

A Polícia Militar teria sido acionada por funcionários do posto. Antes de a PM chegar ao local do incidente, um cliente teria servido de intérprete para os atletas e ajudado a intermediar o pagamento dos danos causados.

Dois dos quatro nadadores americanos foram impedidos de embarcar para prestar depoimento

Dois dos quatro nadadores americanos foram impedidos de embarcar para prestar depoimento

Segundo os relatos, quando os policiais chegaram ao local, a confusão estava desfeita, os nadadores já haviam indenizado o posto pela porta quebrada e voltado à Vila dos Atletas.

A polícia confirmou ter sido chamada e o áudio dos funcionários do posto acionando a PM, que também registrou a ocorrência. O segurança do posto também já prestou depoimento.

Os nadadores, que mudaram a versão do incidente pelo menos quatro vezes, podem ser acusados por falsa comunicação de crime. A pena para esse tipo de infração varia de 1 a 6 meses de detenção ou multa.

Nesta quarta, dois dos nadadores, Gunnar Bentz, 20 e Jack Conger, 21, que estavam no posto de gasolina foram impedidos de retornar aos Estados Unidos. Eles devem prestar depoimento ainda nesta quinta. O nadador Ryan Lochte, que também protagonizou a confusão, já foi embora do Rio. Um quarto atleta ainda estaria no Brasil, mas a polícia não o localizou.

Em entrevista a NBC na quinta, o nadador Ryan Lochte mudou detalhes da história
Em entrevista a NBC na quarta, o nadador Ryan Lochte mudou detalhes da história

Versão modificada

Na noite de quinta-feira, o pivô do suposto assalto, Ryan Lochte, “recuou” em pontos de sua versão da história, segundo a rede americana de TV NBC.

Lochte concedeu entrevista ao apresentador Matt Lauer, que detalhou a conversa no horário nobre da emissora.

De acordo com Lauter, Lochte em geral sustentou a mesma versão, mas com algumas mudanças. Ele inicialmente havia dito à própria NBC que os ladrões, passando-se por policiais em uma falsa blitz, haviam parado o táxi em que estava com outros três atletas.

Agora, ele afirmou que a abordagem ocorreu quando o táxi parou em um posto de gasolina para que os nadadores fossem ao banheiro. Nessa ocasião, conforme a NBC descreveu o relato do atleta, dois homens com armas e distintivos se aproximaram do carro e ordenaram que os nadadores descessem e se deitassem no chão.

“Quando eles voltaram ao táxi e pediram ao motorista para ir, disse Lochte, o motorista não respondeu, e os nadadores foram abordados na sequência”, afirmou a NBC em texto sobre o caso.

Lochte também disse ao apresentador que a arma foi “apontada na minha direção”, o que não bate com sua descrição inicial sobre um revólver ter sido colocado contra sua cabeça.

Questionado sobre essas divergências, o nadador de 32 anos, 12 vezes medalhista olímpico, disse que foi uma “descaracterização traumática” (traumatic mischaracterization, no original em inglês) motivada pelo estresse do momento.

O apresentador também questionou o nadador se os atletas estavam tentando encobrir algum comportamento constrangedor. “(Mas ele) interrompeu-me rapidamente, negando enfaticamente aquilo”, afirmou o jornalista.

Lochte reafirmou que é vítima na história, e que ninguém na polícia disse que ele deveria ter permanecido no Brasil. Ele afirmou ter dito às autoridades que estava localizável e iria cooperar.

Por 

Imagens Getty

 

Atualizado às 13.25 Hs.

REPERCUSSÃO NOS EUA

‘A coisa mais esperta que Ryan Lochte fez foi sair da cidade’: suposto assalto ganha manchetes nos EUA

Sites de jornais e TVs americanas
Caso alcançou as manchetes dos sites dos principais jornais e redes de TV nos EUA – Imagem Reprodução

Este texto foi publicado originalmente na manhã desta quinta-feira, horas antes de a versão do roubo ter sido contestada por investigação preliminar da polícia.

Jornais e redes de TV dos Estados Unidos deram grande destaque à ação da Polícia Federal que impediu a saída do Brasil de dois nadadores americanos envolvidos no caso do suposto assalto no Rio de Janeiro.

Gunnar Bentz e Jack Conger, medalhistas nos Jogos do Rio, tentavam embarcar em um voo para Houston (EUA), mas foram retirados da aeronave na noite desta quarta-feira. Ambos tiveram os passaportes aprendidos para prestar esclarecimentos em investigação de possível falsa notificação de crime, que envolve também os atletas Ryan Lochte e James Feigen.

O caso alcançou as manchetes dos sites dos principais jornais e redes de TV na manhã desta quinta-feira, e assumiu ares de escândalo ao ser compartilhado no Twitter com a hashtag #lochtegate, referência à Ryan Lochte, estrela da natação americana e pivô do episódio.

A Polícia Civil do Rio desconfia da versão dos nadadores, que disseram ter sido assaltados na madrugada de domingo por homens que se identificaram como policiais, após deixarem uma festa na região da Lagoa Rodrigo de Freitas em um táxi rumo à Vila dos Atletas.

Diante de possíveis inconsistências nos depoimentos de Lochte e de James Feigen, a Justiça expediu ordens para apreender os passaportes dos dois. Lochte, contudo, já havia deixado o Brasil, e Feigen não foi localizado na Vila dos Atletas. Bentz e Conger ainda não haviam prestado depoimentos, daí a ação policial.

“Brasil retira nadadores americanos de voo para casa”, foi o destaque do jornalThe New York Times.

“A ideia que atletas tão destacados poderiam ser roubados por policiais durante a Olimpíada causou um enorme constrangimento ao Brasil, enfatizando preocupações sobre abrigar os Jogos em uma cidade infestada pelo crime como o Rio”, afirma o jornal.

“Mas questionamentos sobre os depoimentos dos americanos à polícia transformaram esse constrangimento em raiva, com muitos brasileiros especulando se os atletas mentiram sobre o episódio e prejudicaram a reputação de seu país.”

Ryan Lochte
Um dos nadadores americanos mais conhecidos, Ryan Lochte foi impedido de deixar o Brasil, mas ordem veio após sua partida – Imagem REUTERS

O diário considera ainda que o caso criou um “teste significativo” para a nova relação de colaboração entre oficiais de segurança brasileiros e americanos, que segundo a publicação trabalharam em conjunto para aprimorar a capacidade do Brasil de enfrentar eventuais ações terroristas.

“Mas na quarta-feira à noite, oficiais americanos pareciam estar no escuro sobre a detenção de Conger e Bentz”, informou.

“Presos no Brasil: dois nadadores olímpicos americanos retirados de avião em meio a investigação sobre caso de ‘assalto’; impedidos de sair”, foi a manchete da rede Fox News, que apontou “crescente tensão entre autoridades brasileiras e os nadadores americanos sobre a história de constantes mudanças sobre o suposto assalto”.

Para Dan Abrams, consultor jurídico de rede americana ABC, a investigação no Brasil adquiriu contornos políticos. “Se uma pessoa comum tivesse feito um registro de ocorrência, eles não estariam retirando possíveis testemunhas de um avião.”

Crítica e ironia

Colunista de esportes do USA Today, o maior jornal em circulação nos Estados Unidos, Nancy Armour fez uma série de duras – e ácidas – críticas à atuação das autoridades brasileiras no caso.

“A coisa mais esperta que Ryan Lochte fez foi sair da cidade”, escreveu.

A colunista diz que “o campeão olímpico por 12 vezes (Lochte) e seus colegas estão sendo tratados como se tivessem parado no alto do Cristo Redentor e mostrado o dedo para todo o Brasil”.

Ela diz que a polícia brasileira “não é exatamente conhecida pela sua contenção ou confiabilidade”, e afirma que os nadadores foram impedidos de deixar o país porque “elevar o caso a esse nível de crime capital é algo visto como apropriado no Brasil”.

“É o equivalente a (tomar) um corte por papel como uma amputação. Mentir para a polícia é ruim. A polícia mentir é uma diferença de opinião”, escreveu, com ironia, a colunista, para quem a polícia do Rio “deveria ter maiores preocupações” em uma cidade “onde o crime nas ruas é desenfreado e bairros inteiros são dominados por traficantes ou gangues”.

Armour também questiona as versões que autoridades ligadas aos Jogos do Rio deram para o episódio em que um ônibus com jornalistas e voluntários foi atacado (a versão oficial apontou que o veículo foi alvo de pedras, mas testemunhas disseram considerar que foram tiros) e para o fato de a água de uma das piscinas da Olimpíada ter ficado verde.

Redes sociais

Nos EUA, a reação ao caso nas redes sociais variou, em geral, entre críticas ao Brasil e comentários irônicos sobre a situação dos atletas.

Twitter Ryan Lochte
Hashtag #Lochtegate foi empregada para comentar caso nas redes sociais; reação nos EUA se dividiu principalmente entre críticas e ironias – Imagem Reprodução

“Mensagem velada da polícia do Rio: se for roubado à mão armada, não faça a denúncia, ou faça sob seu próprio risco”, escreveu um usuário.

“O caso de Ryan Lochte foi um desastre de relações públicas para o Brasil, mas daí a polícia deteve dois nadadores olímpicos no aeroporto, então ajudou muito”, foi o comentário irônico de Henry Mance, repórter do jornal britânico Financial Times.

Tabloides americanos também dedicaram manchetes ao caso. Para o New York Post, trata-se de um novo “Watergate”, uma brincadeira com a palavra “água” e o maior escândalo político da história do país, que culminou com a renúncia do presidente Richard Nixon em 1974.

Da BBCBrasil