Dor constante, febre e desmaios: campanha busca ampliar conhecimento sobre doença de Lyme no Brasil
Diagnóstico difícil levou jornalista a lançar movimento de conscientização sobre infecção bacteriana transmitida por carrapatos
“Virou minha vida de ponta cabeça.” É assim que a jornalista Beatriz Burgos resume os impactos da doença de Lyme, diagnosticada em seu caso em 2014, após uma longa jornada marcada por sintomas persistentes como febre, desmaios e dores generalizadas. A enfermidade é provocada pela bactéria Borrelia burgdorferi, transmitida pela picada de carrapatos infectados.
Nos Estados Unidos, estima-se que cerca de 476 mil pessoas recebam o diagnóstico da doença anualmente. No Brasil, porém, não há estatísticas oficiais, já que a doença de Lyme não é de notificação compulsória no país.
Para Beatriz, um dos maiores obstáculos enfrentados por quem apresenta sintomas compatíveis é justamente a falta de conhecimento médico sobre o tema. “Hoje, o maior desafio são os médicos cogitarem a doença de Lyme como possibilidade diagnóstica”, afirma. Segundo ela, a condição costuma ser confundida com enfermidades como esclerose múltipla ou fibromialgia.
“A doença de Lyme pode atingir todos os sistemas e órgãos do corpo. Ela impacta muito a qualidade de vida das pessoas. É um quadro de dor constante, de fadiga constante, e os desafios são os profissionais cogitarem esse diagnóstico, porque muitos dizem que não há doença de Lyme no Brasil”, relata.
Devido à gravidade do quadro, Beatriz precisou se afastar do trabalho. “É muito incapacitante”, diz. Atualmente, ela está em remissão e criou o movimento “Fala de Lyme, Brasil” para ampliar a conscientização da população e da comunidade médica. “Estou tentando seguir a vida e faço, em maio, esse movimento para conscientizar sobre a doença. Mas é muito difícil. Precisei sair do meu emprego, por exemplo, porque estava com quadro de desmaios e confusão mental. A minha funcionalidade e a minha independência foram muito afetadas pela doença”, relata.
O que é a doença de Lyme
Identificada pela primeira vez na cidade de Lyme, em Connecticut (EUA), nos anos 1970, a doença chegou ao Brasil em 1991 e, desde então, tem sido registrada em diversas regiões. A manifestação dos sintomas ocorre, geralmente, entre três e 32 dias após a picada do carrapato infectado.
A infecção evolui em três estágios, que podem ser sequenciais ou não. Em alguns casos, o paciente já apresenta sintomas de fase crônica sem ter passado pelas etapas iniciais.
As fases da doença são:
- Fase aguda
- Fase disseminada inicial
- Fase disseminada crônica
Principais sintomas relatados incluem:
- Fadiga intensa
- Febre
- Dores generalizadas
- Espasmos musculares;
- Cefaleia
- Dor de garganta e sintomas semelhantes à gripe
- Insônia
- Alterações cognitivas e névoa mental
- Ansiedade e depressão
- Disfunções cardíacas
- Suores noturnos
- Disautonomia
Beatriz destaca que o diagnóstico precoce e o tratamento adequado aumentam significativamente as chances de remissão. No entanto, ela enfrentou um processo longo até receber o diagnóstico correto.
“Devido a uma série de fatores, a doença evoluiu para a forma crônica, e, depois de passar por dois tratamentos, ao fim de 2015 entrei em remissão. No segundo semestre de 2021, voltei a apresentar um quadro semelhante ao de 2014 e somente em maio de 2022 procurei ajuda médica, quando foi confirmado que eu estava passando por uma recaída da doença”, afirma. Ela voltou ao tratamento em junho de 2022 e alcançou novamente o estado de remissão em 2024.