Dona de casa relata que ficou cega de um olho após agressão do namorado com garrafa de vidro
Ela diz que, além lesões no rosto, crime causou ‘sequela na alma’. Delegacia da cidade chega a registrar até oito casos de violência doméstica por dia.
Uma dona de casa revela que ficou cega do olho direito após ser agredida com garrafas de vidro, em Anápolis, a 55 km de Goiânia. Segundo Jeane Carla da Silva, de 29 anos, o autor do crime é o até então namorado dela, Tiago Ferreira, de 34. O caso de violência doméstica é apenas um dos vários que a Delegacia da Mulher da cidade tem recebido diariamente.
A mulher conta que a agressão ocorreu durante um churrasco, há pouco mais de um mês. Ela afirma que eles discutiram por conta das atitudes dele, quando acabou sendo ferida.
“Ele sempre foi muito machista e foi onde a gente começou a discutir, tinha umas garrafas na nossa frente, ele se alterou e eu também me alterei na voz, quando eu só senti o baque da garrafa na minha cara. Na primeira eu já tonteei e já não vi muita coisa. O próprio filho dele e meus familiares relataram que foram três [golpes]”, lembra.
De acordo com ela, o homem fugiu. Ele é procurado pela polícia. O G1 não conseguiu localizar o advogado dele.
Jeane diz que o relacionamento durou dois anos e que sempre foi muito conturbado, marcado por brigas e outras agressões. Ela diz que os golpes fizeram um estrago não somente físico, mas também psicológico.
“Olho no espelho e não me reconheço, sabe. Eu era sempre tão vaidosa, sempre gostei tanto de me arrumar e saber que meu olho não vai voltar. Ficou uma sequela no rosto e uma sequela na alma também”, desabafa.
Outros casos
Outro caso que chama atenção é da veterinária Pollyana Gomes de Melo. No último sábado (16), ela também foi agredida, ficou com vários hematomas pelo corpo e até mesmo com o tímpano estourado. A vítima acusa o ex-namorado, Gustavo Lourenço Assad Nasser, que não aceitava o fim da relação.
“Apanhei muito sem poder fazer nada, não poderia fazer nada. Não tinha força para competir com alguém que está me espancando”, recorda.
O G1 e a TV Anhanguera não conseguiram contato com a defesa de Gustavo.
Ela destacou que chegou a ser obrigada a entrar no carro dele e ir até a casa do atual namorado, onde o suspeito quebrou o carro dele. Câmeras de segurança registraram a situação (veja vídeo acima).
Com medo, ela conseguiu descer do banco do passageiro, tomou a direção e fugiu com o veículo do ex.
“Eu vi o carro ligado. Foi na hora que eu pensei: ‘eu vou sair daqui senão eu vou morrer’. Ele vai me matar logo depois, já falou mil vezes que vai me matar. [Ele falava] porque que eu tinha feito isso com ele, porque eu estava com outro, que eu tinha bebido. E daí? Já tinha terminado com ele. Poderia fazer qualquer coisa. Nada justifica ele ter me espancado”, afirma.
Outro crime que chamou a atenção no município recentemente foi o de uma mulher, que foi agredida junto com o filho, de 1 ano, durante rituais de magia negra. O marido foi detido em flagrante suspeito do crime.
Ela foi hospitalizada e já deixou o leito de UTI, mas segue internada em observação.
Casos frequentes
O aumento nos casos de violência doméstica está deixando as autoridades em alerta. Somente no último final de semana, durante o plantão policial, foram seis casos relacionados à Lei Maria da Penha em Anápolis.
A titular da Delegacia da Mulher, delegada Marisleide Santos, disse que registra cerca de oito casos diários de agressões. Somente no mês passado, foram dez ocorrências que originaram lesões gravíssimas.
“Tem chamado atenção a gravidade dos casos que tem ocorrendo, com várias lesões graves, tentativa de feminicídio e também um caso até de tortura”, salienta.
Por Sílvio Túlio e Marina Demori, G1 GO e TV Anhanguera