Demitido, casal investe rescisão em ‘food truck’ e lucra R$ 15 mil por mês
Ao bater na porta do casal Deborah Lopes Carvalho e João José Silva Carvalho, a crise os deixou desempregados. Ela foi demitida do cargo de editora em uma emissora de TV e ele, do trabalho de cozinheiro em um restaurante de Cuiabá. Com o dinheiro da rescisão e a vontade de ter o próprio negócio, eles investiram em um ‘food truck’ para rodar as ruas da capital há aproximadamente seis meses. O empreendimento que foi a aposta deles para driblar o desemprego e a crise deu certo e virou a principal renda da família.
Deborah, de 28 anos, é formada em comunicação social pela Universidade Federal de Mato Grosso. Com a crise, a emissora de TV que ela trabalhava fechou. Na busca por emprego, ela chegou a ir em busca de outras oportunidades, mas a “maré não estava para peixe”. “Não era um bom momento, falei com amigos outros colegas, mas não consegui nada”, diz.
Na mesma época, João, de 33 anos, foi demitido após um corte de gastos no restaurante em que trabalhava como cozinheiro. “Ficamos assustados. Os dois sem emprego, sem renda. Foi quando pensamos em abrir algo que fosse nosso”, explica.
Com o dinheiro das duas rescisões em mãos, os dois pesquisaram o melhor investimento. Guiados pelo amor à cozinha de João, decidiram abrir um ‘food truck’. O receio em tomar a decisão foi grande, mas mesmo assim foram em frente. “Por se tratar de um momento de crise, ficamos com receio de que as pessoas cortassem o dinheiro de comer fora”, conta Deborah.
Ao todo, foram investidos R$ 150 mil. Nem todo o dinheiro, no entanto, precisou ser capitalizado. Uma parte foi financiada. O resto foi completado por um amigo que virou sócio do negócio. Diego Vargas, de 33 anos, também foi vítima da crise. Precisou fechar a loja de materiais de construção da qual era dono para tentar a vida em outro ramo.
Com a ideia na cabeça, eles começaram a pesquisar e encontraram um caminhão à venda no estado de Santa Catarina. Acompanhado do amigo, João embarcou para comprar o veículo. Na negociação, o carro do sócio foi dado como parte do pagamento. O caminhão recém-adquirido já foi usado na viagem de volta até Cuiabá.
Além do veículo, o trio investiu em equipamentos de cozinha, geladeira e freezer, por exemplo. Foi em outubro do ano passado que o restaurante começou a funcionar. De lá para cá, a rotina do casal mudou.
“Não é a mesma coisa que estar dentro de uma firma, que você bate ponto, faz seu serviço e vai embora. Sendo dono do próprio negócio, tem que correr atrás”, afirma Deborah.
O casal não tem um ponto fixo ou rotina de trabalho. O caminhão é itinerante e faz parada em diversos pontos de Cuiabá. O local de parada é informado nas redes sociais do truck. “[As redes sociais] é algo que temos usado a nosso favor. Estacionamos o caminhão e chamamos os clientes”, disse Deborah, que administra as redes sociais.
João é quem comanda a cozinha. O cardápio do empreendimento, que vai de hambúrgueres a porções, é todo pensado por ele. “Estou sempre bolando alguma coisa, lendo livros e acompanhando chefes famosos. Os amigos ajudam quando preciso de uma cobaia”, brinca. Os sanduíches servidos no caminhão variam de R$ 15 a R$ 25.
Os frutos do esforço já estão sendo colhidos. O empreendimento tem rendido, em média, R$ 15 mil por mês. Parte deste dinheiro é usada para pagar despesas e cobrir os investimentos. “Compensa muito ser dono do próprio negócio, porque é o seu esforço voltando para você. Você faz o que acha o que é melhor. Acontece de quebrar a cabeça, mas é parte do processo”, declara Deborah.
inspiração para o nome (Foto: Reprodução)
Para João, a vantagem de estar à frente do próprio negócio é o contato direto com o cliente. “Estando numa cozinha você nunca recebe diretamente o ‘feedback’. Servindo no caminhão,você vê a reação dos clientes. Além disso, o amor que você coloca fazendo as coisas é muito importante”, disse.
O objetivo do casal é ver a marca crescer. A primeira ideia é abrir um abrir um ponto fixo, mas sem deixar o caminhão de lado. A segunda é viajar com o veículo para as cidades próximas da capital.
João e Deborah são donos de Margot e Bisteca, duas bulldogs. “Elas foram nossas inspirações e estão sempre conosco vestindo uniforme e tudo mais”, explica ele.
Além disso, o ‘food truck’ do casal é uma empresa ‘pet friendly’. “Nós fazemos evento para arrecadar doações, ração. Caso o cliente leve o animal de estimação, vai ter um potinho de água para ele se refrescar”, conta Deborah. A empresa já patrocinou um calendário com bulldogs abandonados feito por uma ONG.
Segundo a pesquisa intitulada “Os Donos do Negócio no Brasil”, divulgada pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Mato Grosso possui cerca de 100 mil jovens empreendedores. O levantamento tem como base dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios de 2014 (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Fonte: G1